Personalidades / Regionalização

Vê-se com clareza, por exemplo, homens como Fernando Nogueira, Silva Peneda ou até Valente de Oliveira mitigarem ou silenciarem as suas convicções regionalizadoras à medida que foram progredindo nos lugares de maior responsabilidade partidária e governamental. No caso de Valente de Oliveira, uma vez deixadas as funções governamentais retomou da luta pela regionalização, como o prova a publicação do seu livro Regionalização. No entanto, quando em 1994 Cavaco Silva, Primeiro-Ministro, renegou publicamente a regionalização, Valente de Oliveira, como ele próprio diz, viveu "uma daquelas circunstâncias em que tive de engolir em seco". Cf. Público, 25 Abril de 1996.

Um dos nossos entrevistados sugere uma explicação curiosa para esta contradição : "Aqueles tipos, como o Cavaco Silva, que surgem de meios desfavorecidos, de classes baixas, e que se elevam através do esforço próprio, atribuem o seu êxito ao seu sacrifício e a mérito pessoal, e acham que se eles têm e os outros não têm é porque eles são bons e os outros são todos maus, porque não prestam, porque se prestassem teriam tido o êxito que eles tiveram (...) Quem teve algum poder na região, como o Fernando Nogueira, e depois passou a tê-lo ao nível do Estado, funciona na base do mesmo mecanismo.
Se se ultrapassa todos aqueles que não tiveram capacidade para se elevar ao alto do Estado é porque eles são puros caciques regionais, não valem mais do que caciques regionais. Portanto, não merecem mais e são despeitados, querem as regiões para se afirmarem politicamente, porque não são capazes de se afirmar ao nível do Estado (...) Se pegar em alguns dos principais inimigos da regionalização, é gente que veio da província para Lisboa".

Daniel Francisco - Docente Fac Economia Coimbra

Comentários

Entendo a piada, mas preferia ver outro Presidente a promulgar esta reforma administrativa.

Um que realmente acreditasse nela e fizesse algo de concreto, com a sua capacidade de diálogo e mediação, para a tornar o melhor e mais consensual possível.

Para isso estou disposto a esperar até... ao próximo mandato presidencial!...