Regionalização e qualidade de vida


"Num país diversificado regionalmente como o nosso, por vezes de forma bem vincada, com vitalidade regional latente mas indiscutível, é pelo despertar dessa vitalidade regional que se poderá promover uma política de acções positivas com vista à criação de "habitats", de ambientes, de vivências progressivamente mais consentâneas com as raízes da Vida, com a "saúde" social das comunidades e com condições de vida de mais alta qualidade (...)

A descentralização da vida nacional é uma tarefa inadiável e imprescindível para todos os que sentem a urgência de, um pouco em todos os lugares do Mundo, ir criando os embriões duma nova "sociedade", duma nova ordem económica apontada para uma trajectória que garanta a perenidade da Vida e a sobrevivência da Humanidade (...) a esta regionalização em autênticas regiões, nas quais as populações se sintam integradas e para que olhem como um espelho em que se reconheçam, é avesso o poder do Estado centralizado, fundado em dois séculos de tradição administrativa bonapartista, que soube descaracterizar as regiões para ter nas mãos as rédeas apertadas que dão corpo às ambições e aos interesses do Poder da classe política instalada (...)

É ao nível das regiões, quando e onde toca os interesses reais das populações e não os interesses que lhes quer atribuir o Poder centralizado, que a política ecológica e de qualidade de vida se pode na verdade construir.

PESSOA, Fernando "Regionalização e qualidade de vida".
Diário de Notícias, 8 de Abril de 1982.

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