Regionalização / Área Metropolitana de Lisboa

A regionalização pouco interessa à população do litoral, especialmente da Área Metropolitana de Lisboa que, contrariamente ao que se diz, muitas vezes vive em condições mais degradantes do que a do resto do país. Por isso, não seria melhor que certos políticos, nomeadamente do Norte, atentassem nesta situação, em vez de usarem a regionalização para pôr o resto do país contra Lisboa?

A regionalização tem tanto ou mais vantagens para a população da Área Metropolitana de Lisboa do que para a população do resto do país. Se fora dessa área houver condições mais atractivas do que actualmente para a fixação de pessoas e de actividades económicas menos congestionada tendera a ficar Lisboa e a sua área envolvente. Isso será benéfico para as suas populações que hoje em dia perdem cada vez mais tempo em transportes e se vêem sujeitas aos problemas sociais e de insegurança típicos das grandes aglomerações.

Por isso, a regionalização não é uma causa contra a população de Lisboa e da sua área envolvente, mas sim uma causa a favor da melhoria das condições de vida da população dessa zona e do país no seu todo.

O problema aqui é que estes benefícios para a população de Lisboa são benefícios a longo prazo, menos visíveis do que os benefícios mais imediatos que outras regiões clamam para si, aparentemente em detrimento de Lisboa.

No actual quadro legal, impositivo do referendo, é à população da Área Metropolitana de Lisboa que caberá a palavra mais decisiva em matéria de regionalização. Por isso é muito importante a sensibilização para a sua qualidade de vida no futuro, para o próprio futuro dos seus filhos e netos e também para a solidariedade com as populações do resto deste país que também é seu.

Comentários

Muito bem! E esta é que tem de ser a perspectiva correcta sobre a Regionalização.

Ao contrário do que repetida e simplisticamente se afirma, o poder central é de facto exercido em Lisboa, mas NÃO PELOS LISBOETAS!

Basta ver a origem dos governantes para se perceber que, na sua esmagadora maioria (os Primeiros-Ministros e Ministros principais dos últimos Governos), o Estado não está nas mãos dos "lisboetas", nem é "Lisboa" que governa o País: Salazar (40 anos) - Beira Alta; Cavaco Silva (10 anos) - Algarve; Ant.º Guterres (6 anos) - Beira Baixa; Mário Soares (4 anos) - Lisboa; Durão Barroso (2 anos) - Trás-os-Montes...

E assim é que está bem, naturalmente.

Esgrimir com a Regionalização contra "Lisboa" e seus habitantes só pode servir para confundir os espíritos e, na prática, fazer objectivamente "o jogo" dos que não pretendem descentralizar a Administração Pública. A começar pelos algarvios como o novo Presidente da República e a acabar pelos trasmontanos como o actual presidente da Comissão Eiropeia!

Perdoem-me, mas assim não vamos lá. Eu, que sou lisboeta e entusiasta (e estudioso) da Regionalização continuo a afirmar: as primeiras Regiões mais carenciadas de órgãos regionais, NÃO NOS ILUDAMOS, são as Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto!

Só a seguir vem o Algarve e só depois outras Regiões, se quisermos pensar num faseamento bem fundamentado.

Porque é na Grande Lisboa e no Grande Porto, muito mais ainda do que no Algarve, se podem identificar problemáticas verdadeiramente regionais, não típicas no todo nacional, bem como a incúria calamitosa que se verifica ao não se atenderem os problemas gritantes destas regiões, que não é por serem mais geradoras de riqueza que proporcionam melhor qualidade de vida aos seus moradores!

Voltarei ao tema em próximo artigo.
Anónimo disse…
O que são os “Lisboetas”?

A Regionalização não pode ser entendida como uma “guerra” entre populações.
Pessoalmente nunca subscrevi a corrente designação de “mouros” muito utilizada no Norte, particularmente na Invicta, para identificar os tais “Lisboetas”. Mais que não seja porque até sou natural e residente numa terra com nome de origem Árabe…
Mas o que são os “Lisboetas”? Não serão também os mais de duzentos mil transmontanos que por lá andam, quantos deles a viver pior do que se estivessem na sua terra?! Ou os Alentejanos, ou os Beirões?
Se a Regionalização não for uma porta que se abre para resolver as necessidades das populações numa escala geográfica acima dos municípios, mas liberta do autismo dos gabinetes do centralismo, para que nos serve?
É um facto que o interior não se desenvolve só porque daqui têm saído muitos dos grandes nomes da política nacional.
Isto recorda-me uma passagem interessante muito a propósito. Há uns anos ouvi um político local/regional dizer mais ou menos isto: o problema dos Transmontanos (políticos, entenda-se) é que quando vão para Lisboa “prostituem-se”! Pois este político, que lutava para subir de divisão, acabou por ocupar altos cargos (inclusive governamentais) e eclipsou-se num “tacho” empresarial…lá por Lisboa!
Só uma pequena correcção que não altera o sentido e a verdade do que diz A. Castanho no seu comentário: Durão Barroso não é Transmontano. Nasceu em Lisboa (1956) onde viveu e estudou até concluir o seu curso superior (direito); por aí residiu quase sempre (excepção aos anos que andou no estrangeiro) e em 1985 foi eleito pela primeira vez Deputado pelo respectivo círculo eleitoral! O resto do percurso é mais conhecido. Tem as raízes familiares em Veiga de Lila, Valpaços, por parte do Pai, que curiosamente até nasceu no Brasil, em 1922 e em Peso da Régua, por parte da Mãe. Assim está mais correcto.
Amigo F. Lopes, muito obrigado pela sua oportuna correcção e bem-vindo a este espaço de opinião e esclarecimento, que pretendemos cada vez mais divulgado e enriquecido.

Como diz e muito bem, a maioria dos residentes nas duas áreas metropolitanas (Lisboa e Porto) têm raízes familiares fora delas.

Eu próprio também não fujo à regra, já que sou filho, neto e bisneto de alto-alentejanos (só um trisavô meu é que era originário da Beira Litoral).

Mas não posso deixar de me insurgir contra uma incorrecção grave que muitas vezes é feita por alguns entusiastas mais fogosos da Regionalização e que, a meu ver, só tem contribuído para o seu desprestígio.

Trata-se da frequente confusão entre Poder Central e Lisboa. Por favor, vamos bani-la do nosso vocabulário. Qualquer pessoa medianamente informada e provida do mais comezinho bom-senso sabe que o Estado representa o País e os detentores dos seus órgãos são eleitos pelo universo eleitoral nacional e provenientes de todo o território português.

Por isso, não insistamos na estafada tecla dos "senhores de Lisboa", ou do "poder de Lisboa", porque para além de imprecisa, é demagógica.

A Administração Central, como em qualquer país civilizado, exerce-se na Capital, mas não é ocupada nem decidida PELOS SEUS HABITANTES!

Estes estarão talvez mais próximos dos centros do poder, mas em circunstâncias absolutamente idênticas aos de qualquer outra Região.

É totalmente diferente do que acontece nos sistemas coloniais, em que a Metrópole e os seus Cidadãos efectivamente exercem o seu poder sobre os habitantes das Colónias (aconteceu já connosco...).

Isto significa, por exemplo, que o que o Poder Central decide para a Madeira (nomeadamente ao nível das transferências financeiras...) não é decidido pelos habitantes de Lisboa, mas por órgãos democraticamente eleitos em que o voto de um madeirense vale o mesmo do qualquer outro português (ao contrário do que resulta por vezes de algumas afirmações mais inflamadas de Alberto J. Jardim...).

A Regionalização é para todos, Regiões de Porto e Lisboa inclusivé, e não pode ser CONTRA NINGUÉM!

Esclareçam-se as mentes ainda obscurecidas e rapidamente este assunto merecerá um amplíssimo consenso nacional...