Região Norte

A regionalização é hoje um projecto eminentemente identificado com as elites políticas e económicas do Norte de Portugal, que têm a cidade do Porto como espaço de concentração e osmose.

O Algarve mantém igualmente a posição tradicional em prol das regiões, mas é no Norte que se dá um relevo político e mediático constante ao imperativo de regionalizar.

Reivindica-se uma capacidade de acção regional desvinculada da tutela de Lisboa. Reage-se contra os indicadores que continuam a evidenciar a massiva localização do investimento público na área da capital, ao mesmo tempo que grande parte do território nacional assiste a uma pauperização sustentada. Visando embora interesses territoriais específicos, o discurso do Norte é acolhido com agrado noutras regiões do país, pela clareza com que coloca questões vitais sobre desigualdades há muito institucionalizadas.

È reconhecido no entanto que no Norte se procura prefigurar uma região cujo projecto de desenvolvimento comporta excessos egocêntricos. Região de maior potencial produtivo do país, levanta nos outros a suspeição do egoísmo territorial. A sua vocação para o cumprimento das solidariedades públicas não estará totalmente assegurada. Ao desígnio expansionista por vezes esboçado não é mesmo estranha uma consciência perigosamente autonómica - a fraca penetração social e o divisionismo existente entre as próprias elites serão os maiores óbices às veleidades “autonomistas”. Além disso, as ambições centradas na cidade do Porto não mobilizam a adesão das elites de Trás-os-Montes e do Minho ao seu projecto dum Norte unificado. Uma dominação estabelecida a partir do Porto não se revela mais atraente do que a actual hierarquia de poderes.

O acto decisivo cabe ao Estado. A força de agregação das disparidades existentes e a sua ordenação com vista a solidariedades alargadas deverá ser fornecida pelo Estado, ao converter a região num verdadeiro lugar de exercício de poder. Só um acto performativo do centro poderá catalisar o processo de formação da vontade regional e consolidá-la num quadro territorial unanimemente reconhecido [...]

Fica por saber se estamos hoje perante uma sociedade suficientemente versátil para incorporar várias modalidades de acção e intervenção territorial ou se, pelo contrário, se irá reforçar a coexistência exclusiva das racionalidades locais e nacionais no território português, deixando que regiões administrativas fiquem na história do país ligadas ao mero “constitucionalismo simbólico” que incarnaram durante mais de vinte cinco anos.

Daniel Francisco

Comentários

Al Cardoso disse…
Sobre este tema, vejam o que eu publiquei em: http://aquidalgodres.blogspot.com
Pedro Morgado disse…
Sou frontalmente contra a criação da Região Norte que criará um neo-centralismo sedeado no Porto e que, como bracarense, não posso tolerar.
A cidade de Braga tem todas as condições para ser capital da Região do Minho, uma região com identidade própria.
Não admitiremos passar da tutela de Lisboa para a tutela do Porto que, com toda a certeza abafará todas as pretensões da cidade de Braga e das suas gentes.
Os portuenses são bem mais bairristas e centralistas que os lisboetas.
Este mapara merece um enorme NÃO por parte da esmagadora maioria dos minhotos.
Se houver coragem referendem este mapa já!
Suevo disse…
O Pedro Morgado prefere certamente o centralismo de Lisboa ao hipotetico neo-centralismo do Porto.
Os Minhotos são responsaveis alias pelo não à regionalização no ultimo referendo, agora têm um bom premio, são a região mais miseravel de Portugal, o Vale do Ave até deve ser das regiões mais miseraveis de toda a Europa.

Os Bracarenses que gostam muito de Lisboa que migrem para lá, e que não poluam os restantes nortenhos com a sua vassalagem ao Terreiro do Paço.

Existindo uma região Minho com capital em Braga existiria até muito boa gente por exemplo em Guimarães que preferiria, tal como preferiu no passado juntar-se ao Porto.

O Entre Douro e Minho não deve ser dividido, fazemos parte do mesmo espaço etno-cultural desde tempos pre-historicos, a diferença é que em Braga, ao contrario do Porto, gostam de ser vassalos de Lisboa (mesmo no Porto os vassalos de Lisboa existem, um bom exemplo disso é o presidente da Camara Rui Rio).
Anónimo disse…
O que é isto? Pois... eu sabia que os minhotos e os transmontanos não gostam da "malta" do Porto. Mas estamos a falar de coisas sérias. A regionalização só faz sentido se as regiões tiverem algum peso. E Braga vai ter que lutar pelos seus projectos, mas no âmbito da Região Norte, com Viana, Porto, Vila Real e Bragança. O resto são lutas de "capelinha" que não entram nesta história.