Comentário a um Artigo anterior.

De um nosso leitor atento recebemos por "e-mail" os seguintes e pertinentes comentários ao Artigo citado, que desde já muito agradecemos, apesar de discordantes, e que entendemos dever publicar, com a devida vénia e permissão do Autor, para benefício da discussão sobre este tema.

Sexta-feira, Junho 09, 2006
A REGIÃO DA GRANDE LISBOA-II
«Mais importante ainda: se não estancarmos urgentemente o crescimento urbano e populacional (tantas vezes caótico e não sustentável) das duas metrópoles portuguesas, como vamos evitar a desertificação do interior? A relação de causa-efeito entre estes dois fenómenos parece-me insofismável...», editado por A. Castanho @ 4:08 PM

Comentário:
O que é que se entende por estancar o crescimento urbano e populacional?
Será a imposição administrativa de um “black-out” ou período de carência administrativo durante o qual não são emitidas licenças de construção?

Se a resposta for afirmativa a medida não atingirá os objectivos de estancamento do crescimento urbano e populacional. Com efeito, a diminuição da oferta de habitação nova não faz diminuir necessariamente o crescimento populacional. Vejamos algumas razões explicativas:

a) Um novo casal, resultante do desdobramento das famílias (por casamento ou união de facto, um dos principais “drivers” da procura no imobiliário), pode optar por ficar a viver em casa dos pais de um deles (num dos concelhos objecto do “black-out” administrativo mencionado), embora em piores condições de privacidade e de bem-estar do que teriam em casa nova no mesmo concelho;

b) Num cenário em que a população portuguesa não cresce, a nível nacional, se forem colocadas no mercado, a preços-características competitivas, as habitações devolutas (nos casos em que a sua requalificação seja economicamente viável), a procura de habitação poderia ser satisfeita com tal tipo de oferta. Resta saber se as características da habitação e do contexto urbanístico (estacionamento, rede viária, espaços públicos, equipamentos) das zonas históricas das cidades satisfazem as actuais necessidades das pessoas, ou se estaremos assim a empurrá-las – através de um cruel centralismo planificador – para uma regressão forçada dos seus níveis de bem-estar.

E muito menos tal medida dará um contributo positivo para evitar a desertificação do interior, fenómeno cujas causas estão na origem (ou seja, lá, no interior). Quanto muito faria aumentar a procura de cidades no estrangeiro por parte dos portugueses que vivem no interior de Portugal e que ambicionam aceder a melhores condições de trabalho e de vida.

Apenas uma nota final. Não me parece que seja necessário estancar o crescimento urbano e populacional das duas metrópoles portuguesas. Temos é de aumentar a qualidade do governo das cidades e das áreas metropolitanas e dos decisores públicos (eleitos, nomeados e assalariados) cuja actuação tem um impacte directo sobre a vida dos cidadãos. O resto será feito pelas pessoas, pela sociedade e pelas empresas.



Sexta-feira, Junho 09, 2006
A REGIÃO DA GRANDE LISBOA-II
«Há evidentes vantagens socio-económicas e ambientais, aliás para toda a Região, em impedir com firmeza o avanço da impermeabilização dos solos, da poluição atmosférica, da redução das áreas “verdes” e, até, da realização de deslocações casa-trabalho cada vez mais extensas e mais dependentes do automóvel próprio!», editado por A. Castanho @ 4:08 PM

Comentário:
Em vez de estancar administrativamente o crescimento urbano e populacional, deixando por satisfazer a procura existente, por que não aumentar a oferta (sobretudo nas áreas mais próximas dos locais de trabalho) ?

Isto porque:
- os municípios envolventes da cidade de Lisboa (onde se localiza uma parte considerável da oferta de emprego da Região de Lisboa), não tiveram a capacidade de atrair empresas em número significativo e de lhes proporcionar condições competitivas de localização;
- muitas empresas, por razões culturais e de status social, continuam a preferir exibir uma morada de Lisboa como sede social.

Se a política for a da construção em altura (simulando, por exemplo, o impacte de ter Telheiras maioritariamente com R/c + 4 em vez de R/c + 3), conseguir-se-á “impedir com firmeza o avanço da impermeabilização dos solos, da poluição atmosférica [pela diminuição do número e do tempo de deslocação dos veículos privados dos “commuters”], da redução das áreas “verdes” e, até, da realização de deslocações casa-trabalho cada vez mais extensas e mais dependentes do automóvel próprio”, resolvendo todos os constrangimentos assinalados com o mérito adicional de se evitar a punição administrativa da procura.

Mas o que acontece é que de cada vez que se “suspeita” que vem aí um edifício (ou conjunto de edifícios) mais alto é um “ai Jesus” com vários especialistas de cidades (cineastas, actores, músicos, professores universitários, jornalistas, psicólogos, sociólogos, historiadores, arquitectos) a darem logo uma opinião negativa (pois claro !) sobre o assunto.

Se estes especialistas mandassem nos Estados Unidos da América uma cidade como Nova Iorque nunca teria existido. As pessoas vivem pior em Nova Iorque do que nas cidades imaginárias dos nossos especialistas de cidades? Não, vivem pior em Los Angeles, o modelo de cidade que tanto os excita!

(Leitor devidamente identificado)

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