Municípios, Juntas de Freguesia e outros feudos

Acumular cargos é regra nas câmaras

Há várias formas de tornar Portugal ingovernável. O método mais eficiente e dispendioso é delegar poderes nas autarquias.

Enquanto o Governo é diariamente escrutinado pela opinião pública e submetido à alternância, os municípios perpetuam os edis a ponto de tornar imprescindível uma lei de limitação de mandatos de que ficaram isentos, por causa da Madeira, os presidentes das Regiões Autónomas.

A eleição de autarcas jovens, após o 25 de Abril, foi a prova de confiança na juventude. Com o tempo, perpetuaram-se, envelheceram e criaram vícios. Há uma gangrena, que corrói o tecido municipal, que se multiplica em rotundas e empregos que asseguram a fidelidade pessoal e os interesses partidários.

É a lógica de um país com séculos de poder autoritário, a criação de caciques que surge por geração espontânea, adubada pelos interesses dos planos directores e as sinecuras das empresas públicas municipais.

Nos municípios de grande dimensão há massa crítica, independência e liberdade de expressão, capazes de remover os tumores que enquistam na gestão autárquica. Nos pequenos eterniza-se a subserviência, persistem os receios de sempre e temem-se as retaliações.

O país não pode singrar sem que a Regionalização avance e as regiões se empenhem na requalificação urbana e na produção de planos de desenvolvimento integrado que superem os estreitos limites paroquiais.

Portugal, retalhado em 308 municípios e mais de quatro mil freguesias, sem regiões para mediar os interesses locais e fazer a ponte com o poder central, é um país condenado a feudos que se perpetuam sob a influência de caciques locais.

A actual divisão administrativa e os poderes crescentes de autarquias insignificantes são prejudiciais à administração do País e, a prazo, a garantia da sua ingovernabilidade.

Carlos Esperança - Ponte Europa (Blog)

Comentários

Concordo quase em absoluto.

Apenas me parece que as causas da corrupção e doutros tipos de abuso de poder e ilegalidades têm causas comuns nas Autarquias Locais e em todos os níveis de poder, quer no Governo, quer nas futuras Regiões.

Por isso, sem qualquer menosprezo para a premente necessidade de implementar a Regionalização no Continente, acho imprescindível o combate prévio a todas as causas do alastramento da corrupção, antes que tenhamos que constatar, com muita tristeza, que os órgãos regionais também acabaram por contraír esse terrível mal...
Al Cardoso disse…
Concordo com a regionalizacao para poder haver um poder mais dentro do conhecimento regional, e tambem concordo com a extincao de algumas freguesias realmente muito pequenas, o que nao concordo e com a extincao dos municipios.
Anónimo disse…
A propósito de corrupção e de regionalização. Eu creio que os corruptos mais requintados já estão na linha de partida para tomar conta das futuras Juntas Regionais. Aí não vai faltar dinheiro, projectos, concursos, adjudicações, tudo isso que dá lucro... nem que seja sob a forma de apartamentos ou automóveis para os filhos... País corrupto... SEMPRE!!!...