Processo regional é irreversível


Helder Nunes, director do barlavento - semanário regional algarvio, 20 de Julho de 2006
O processo regional da Europa é irreversível e enquanto os países não assumirem esta atitude, o melhor será afastarem-se da Europa, que é das regiões, onde quem avançou no processo de regionalização nunca voltou atrás. Ouvir Lluis Maria de Puig falar da regionalização da Europa é perceber que, em Portugal, se tem perdido uma das maiores oportunidades para que o país se possa desenvolver e crescer economicamente. É perceber que os conceitos base desse progresso estão na proximidade e no conhecimento que existe localmente, para apostar nos projectos e concretizá-los. Andamos a perder tempo. Dar o exemplo da Alemanha, da Inglaterra ou de Itália, ou mesmo da vizinha Espanha não serve de nada, porque os nossos políticos são muito pequeninos e não conseguem abranger a grandeza que existe na construção da Nação através da coesão das identidades e da subsidiariedade que é preciso fomentar entre o litoral e o interior. Quem fala hoje em regionalização no sentido negativo, fá-lo lançando farpas sobre o desmembramento do país, de hipotéticas autodeterminações e coisas estapafúrdicas, que só mentes mal preparadas ou ideologicamente próximas das ditaduras admitem, porque desejam o poder concentrado no ditado «quero, posso e mando». A regionalização traz conceitos novos de gestão para as regiões, consegue, com maior facilidade, criar laços de solidariedade entre municípios, é capaz de gerir o todo sem o partir. No caso do Algarve, estamos perante uma região bem definida, com todas as garantias para ser um sucesso no desenvolvimento regional, mas temos dúvidas de que alguma vez consigamos atingir esse patamar.O Governo Central vai impondo o Protal, que não agrada nem a gregos nem a troianos, condiciona e entrava um conjunto de infra-estruturas e dá-nos umas migalhas do próximo Quadro de Referência Estratégico Nacional, porque, no contexto da Europa, em virtude da entrada de novos países, fomos atirados para uma espécie de região rica, quando, o Governo tem o conhecimento pleno da realidade do nosso Barrocal, da Serra e de uma infinidade de infra-estruturas básicas que nos fazem falta. Com um Governo Regional, tínhamos obrigação de ter muitas destas coisas resolvidas, a cultura da vivência regional reforçada, o fim das chamadas capelinhas e as fronteiras entre concelhos meramente virtuais. Tínhamos, certamente, uma voz, capaz de se fazer ouvir, com respeito, porque não tenhamos dúvidas de que o Algarve, com o poder regional, será uma das mais ricas regiões do país. Outra certeza devem ter os futuros políticos, porque, se a regionalização algum dia acontecer (e é pena, como diz Lluis Maria de Puig que se perca tanto tempo), só será para lá de 2010 ou muito mais tarde, se continuarmos a bater na tecla constitucional da simultaneidade. Temos que ter coragem e humildade para aprender com quem nos quer ensinar. Temos que olhar para as regiões da Europa e começar a colher exemplos, não direi para aplicar, mas para mostrarmos à população descrente e que olha para a classe política com desconfiança, que o poder regional é capaz de fazer coisas em menos tempo do que o poder central.A cartilha da regionalização está escrita em muitos países da Europa, só que, em Portugal, quando se aborda o tema, não há coragem para exemplificar com o que se passa na Alemanha, na Inglaterra, na Itália, aqui ao nosso lado na Andaluzia, com quem temos muito que aprender, até em termos de coragem política.Temos que reconhecer que Mendes Bota tem sido um lutador dedicado ao tema da regionalização, mostrou coragem política em trazer ao debate que se realizou em Faro, sobre «Portugal e a Europa das Regiões», o presidente do grupo socialista da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. Porque ouvir falar Lluis Maria de Puig sobre a regionalização da Europa é percebermos que, afinal, em Portugal, o povo tem sido enganado quanto aos fins das regiões, que mais não são do que criar coesão nacional, desenvolvimento, progresso, porque, como ele afirma, quem entrou na carruagem nunca quis voltar atrás.

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