Mudar alguma coisa para tudo ficar na mesma



"(...) Nos últimos tempos assistimos às tentativas reformistas do Governo e à tentativa de pôr alguma racionalidade à escala do território. Independentemente das discordâncias que as medidas possam suscitar do ponto de vista da geografia ou dos custos sociais, a tentativa de impor uma leitura regional para os problemas depara-se com a ausência de um tecido regional que o processo de Regionalização tivesse consolidado. E logo, com a inexistência de uma cultura regional que pudesse fazer uma leitura desapaixonada das prioridades, isto é, do que é o interesse geral em detrimento dos particularismos locais.

Não tendo acontecido nada disso, o território está configurado aos espaços concelhios, que esgotam geralmente mais vastas aspirações na mera contagem dos votos que elegem os detentores do poder local. Daí que se assista, sobretudo no plano da Saúde, às infindáveis guerras contra a política do Governo, seja pelo encerramento de urgências e abertura de outras, seja pela questão das maternidades.

O Governo está refém dessa lógica e outra coisa não tem feito senão mudar de agulha sempre que os barões locais da política arregimentam forças.

No aniversário do Sanatório Sousa Martins, que foi momento alto da vida colectiva da Guarda, o ministro Correia de Campos veio sossegar as angústias locais quanto à continuidade da maternidade e de outras valências. Ainda bem. A Maternidade da Guarda é a de maior movimento da Beira Interior. Mas ao anunciar a panóplia de serviços, o ministro da Saúde, que até agora se mantivera em mutismo, optou pela estratégia da casuística local.

Ora, todas estas condições eram conhecidas há muito tempo. Ficam por esclarecer os mistérios de estudos e reuniões infindáveis sobre a questão. Não havendo região, nem tão pouco pensamento regional, o Centro Hospitalar da Cova da Beira não tem consistência para a ver a luz do dia. Dividir o mal ou o bem pelas aldeias continua a ser uma prática bem portuguesa. Resta agora esperar que algum aniversário ou cortejo histórico traga o ministro à Covilhã ou a Castelo Branco para dizer o resto.

Descartada a Guarda, regressamos à Beira Baixa. Como antigamente. Depois, logo se vê…"


Editorial de Fernando Paulouro Neves
in
"Jornal do Fundão"

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