Notas sobre a Regionalização

Não se pretende regionalizar apenas para obter subdivisões geográficas do país. Regionalizar não pode servir para criar novos instrumentos da burocracia estatal e fornecer lugares para a sedimentação de uma elite regional pendurada em novos poderes. Não passaria de uma grande desilusão, uma espécie de "mais do mesmo".

Uma nova descentralização deve abraçar, para além da agilização da administração, mais equidade territorial, assim como uma maior participação cidadã na definição das políticas regionais, dentro do princípio geral da subsidiariedade, e de um melhor contributo regional na elaboração das políticas à escala nacional.

As desigualdades e desvantagens regionais são o produto de uma longa história de desequilíbrios nas relações inter-regionais e de uma profunda concentração espacial do poder, pelo que as performances regionais mais débeis não podem ser entendidas como um problema de responsabilidade estritamente regional. Uma mudança séria exigirá descentralização administrativa, ou seja, poderes efectivos à escala regional em diversas áreas, mas também uma nova radicalidade na forma de imaginar o espaço nacional em termos políticos, económicos e territoriais.

Em vez de um corpo "macrocéfalo", em que cada uma das partes se sente obrigada a prestar tributo ao centro, é essencial passar para um país polinucleado, sustentado por eixos e sistemas urbanos, com um modelo espacial aberto às redes internacionais, legitimado em assembleias representativas eleitas directamente, no qual os mecanismos da participação cívica e do debate activo sobre os caminhos a seguir e as redes a integrar, superem o sentido paroquial de um certo regionalismo serôdio.

Este, de facto, é o debate que interessa e que poderá determinar, no território, as mudanças que valem a pena.

Comentários

Anónimo disse…
Os regionalistas "porque sim", estão a passar uma mensagem que não é verdadeira. Dizer aos habitantes do interior que se o país estivesse regionalizado seria tudo igual, tudo rico, é falso. Em Espanha, regionalizada desde (????), a Extremadura e a Andaluzia são muito menos ricas que Madrid e a Cataluña. Nem todas as regiões britânicas têm a riqueza de Londres. Portanto... cautela e caldos de galinha...
Anónimo disse…
Serve sim. A regionalização só
iria burocratizar mais o país,
servir interesses de novos sen-
hores locais e outros de âmbito
nacional, elites amalgamadas.

Mesmo em democracia as socieda-
des continuam a ser organizadas
pelo jogo das oligarquias. É me-
lhor desistirem do embuste do
tipo democracia directa. Conti-
nuaria a ser democracia represen-umtativa.

Portugal continua a ser o elo
mais fraco na Europa e com polí-
tica correcta pode ser facilmente
governado na base da organização
política municipal. Já vem do
tempo dos romanos e aprofundou-se
ao longo dos séculos. Foi na base
desta organização do Estado que
muitos traidores ao longo da nossa
História se refugiaram na vizinha
Espanha
Anónimo disse…
A regionalização, por si só, não torna obviamente o país mais próspero. Mas é um excelente ponto de partida: se uma série de responsabilidades que até agora ficam - e, muitas vezes, emperram - nas mãos do poder central, não seria bom se estivessem mais descentralizadas? Mais perto dos cidadãos a quem se dirigem?
Todos conhecemos, por exemplo, o caos que é o ordenamento do território, mercê da objectiva incompetência dos Governos em tratar desse assunto com uma visão integrada, ou atenta à especificidade local. Não seria melhor entregar aos locais essa incumbência, aos principais interessados nessa matéria?
Volto a frisar que a Regionalização não seria - como nada é - a varinha de condão que salvava Portugal. Políticas contra a corrupção, o despesismo, o caciquismo de laivos senhoriais, a promiscuidade com os interesses económicos, e sobretudo uma mão de ferro no trato com os que usam indevidamente os dinheiros e os cargos públicos também se exigia. Mas, repito o que já disse, a descentralização seria, a acompanhar tudo isto, um excelente complemento.