Partidos devem organizar-se na lógica das futuras regiões


12/Julho/2007



Entrevista» Alberto Santos, presidente da Câmara de Penafiel

Alberto Santos, presidente da Câmara de Penafiel e líder da Comunidade Urbana do Vale do Sousa, preconiza a reforma do sistema eleitoral, substituindo os actuais círculos eleitorais pelas NUT (Nomenclaturas de Unidades Territoriais, para fins estatísticos). O autarca social-democrata defende a extinção das actuais "distritais partidárias" e a criação de órgãos políticos à imagem dos novos espaços regionais.

(...)

... quero deixar um desafio ao meu partido (PSD), extensivo a todos os outros partidos: a primeira coisa que é preciso fazer para trazer alguma massa critica à região é convencer os próprios partidos a organizarem-se na lógica destas regiões.

Está a defender uma adaptação da organização dos partidos ao novo mapa administrativo?

Não faz sentido os partidos estarem a trabalhar nas lógicas distritais e as dinâmicas de desenvolvimento regional serem completamente diferentes.

Preconiza a extinção das "distritais partidárias" e a criação de uma "distrital" ao nível da NUT?

Exactamente.

Qual é a vantagem disso?

É ter uma massa política crítica e pensante.

Defende também a reforma do sistema de representatividade política?

O actual modelo de representação política assenta nas lógicas distritais. Se vamos ter aqui novas regiões, é urgente uma nova representação política nos órgãos do Estado, nomeadamente no Parlamento.

Mas isso implica reformar o sistema eleitoral?

Não faz sentido nenhum manter a representatividade política com os círculos eleitorais justapostos aos distritos.

Fala a eleição de deputados eleitos pelas NUT?

Claro.

Defende a regionalização?

Tarda, neste momento. O Norte do país precisa rapidamente da regionalização. O Norte do país apresenta níveis de desvio face ao todo nacional e, sobretudo, face à região de Lisboa e Vale do Tejo. Estes desvios provam que o modelo que temos neste momento não serve o Norte. Quem está a crescer com este modelo político e administrativo e com fundos comunitários são outras regiões. Temos um país centralista.

Falta descentralizar, também?

Há duas questões de que o país neste momento padece: uma é a falta da regionalização e outra é a falta de descentralização. Quem paga a factura, claramente, é o Norte. Faz sentido que se avance rapidamente com um processo de regionalização que traga centros de decisão, sobretudo para o Norte. O Norte tem de ter uma palavra a dizer sobre o seu próprio modelo de desenvolvimento.

A haver regionalização, qual é o melhor modelo?

Uma região única a Norte. Precisamos de ter força política no Norte. Preconizo um modelo assente na descentralização das competências centrais para a região, mas num modelo de dupla descentralização.

Como assim?

Não pode haver um modelo de descentralização para o Norte e depois a região, ela própria, transformar-se num poder centralista. Terá de haver uma dupla descentralização para os municípios - terá de ser feita à custa da Administração Central e não uma regionalização feita à custa do poder dos municípios.

Ou seja: de cima para baixo.

Claro. Nunca ao contrário. Os municípios já estão a cumprir um papel fundamental na aproximação ao cidadão.


Comentários

Anónimo disse…
Parabéns, Senhor Presidente. Faça chegar isto ao Gabinete de Estudos. 28 circulos eleitorais no Continente é muito mais razoável que os 18 distritos. Fale, insista, pressione... Á gua dura em pedra...
A entrevista é dúbia, porque mal conduzida (ou transcrita), mas no entendimento que faço da opinião do autarca penafidelense concordo plenamente e louvo a sua audácia e espírito de pioneirismo.


Só que, ao contrário do que se diz no comentário anterior, a lógica das NUT's II é a lógica das Regiões Administrativas e não a das Sub-regiões (NUT's III)!


Assim sendo, dar-se-á uma REDUÇÃO no número de círculos eleitorais do Continente, que passarão dos actuais dezoito para... CINCO, e não vinte e oito!!


O que, para além de tudo o que diz o actual Presidente da C. M. de Penafiel, também contribuirá para MELHORAR A PROPORCIONALIDADE do sistema eleitoral, actualmente muito deficitário, como se sabe.


Exactamente O CONTRÁRIO do que aconteceria se os círculos eleitorais passassem a ser 28, o que então se traduziria em ainda menores e, diria mesmo, intoleráveis NÍVEIS DE PROPORCIONALIDADE!


Acabar-se-ia por ter apenas deputados dos dois maiores Partidos na Assembleia da República, que é precisamente o oposto do que parecem ser as actuais tendências políticas do Povo português...