RESISTENCIAS E MÁS VONTADES.

(biblioteca ALMEIDA GARRETT)

Tinha lido qualquer coisa em Raul Brandão, que as relações entre Lisboa e o Norte o País não eram as melhores, já desde 1911. Está nas memórias, capítulo “O QUE EU VI E OUVI”, pág 49....”Todos os dias corre notícia de contra-revolução. No Porto (15 de Março 1911) conspira-se: tem havido reuniões de oficiais e soldados. – Estamos prontos- dizem Querem separar Lisboa do Norte e fazer «daquilo uma barcelonada...»

E hoje ao deslocar-me à Biblioteca Almeida Garrett aqui no Porto, peguei numa obra do José Coelho dos Santos acerca do Palácio de Cristal e, na página 15 lá vem que (a propósito de uma viagem do rei D. Luís I à capital do Norte), “os objectivos da novel cidade do Porto era um conjunto de promessas aliciantes que, em 1865 estavam genericamente cumpridas, mesmo que para tal tivesse sido necessário lutar com enormes dificuldades e vencer inúmeras resistências e más vontades, tanto no Porto quanto no País, mas sobretudo provenientes da capital.”

E é esta a nossa cultura, que resulta, dos hábitos que pomos em prática com os nossos comportamentos.

Num certo sentido, fiquei satisfeito de saber isto porque julgava que essa suposta inimizade tinha a ver com o futebol. Mas pelos vistos a coisa vem de trás..

Desde que o programa da regionalização não foi aceite e essa posição não vingou, as pessoas aqui no Norte, no Porto nomeadamente, não aceitam esta condição de segundo plano. Mas isso é notório em quase toda a gente.

Aqui há dias fui tratar de um assunto particular aqui na Caixa de Previdência e no fim, mandei esta ao funcionário de serviço: então e o nosso clube? E ele, nós ganhamos no campo e esses mouros que não têm onde cair mortos... tal e tal...

Outra vez, foi no restaurante, às 13 horas, decorria o tele jornal e o jornalista disse: o governo não tem dinheiro para disponibilizar para o Metro do Porto. E logo um velhote de oitenta anos, meu colega de mesa: ”pois, pois, se fosse para Lisboa já havia!...

A resposta foi automática e rápida querendo isto dizer que a revolta está bem enraizada neste povo. De tal modo é assim que ex ministros, deputados em Bruxelas, empresários de alto gabarito, professores universitários de nomeada e outras personalidades tidas como importantes por aqui, esforçam-se em comentários, na imprensa falada e escrita, reivindicando melhorias sociais.

Que ao que parece tardam em chegar.

Eu gosto do pessoal daqui. Claro que é preciso respeitar os seus valores, entre os quais se situa o clube de futebol cá da terra.

Procedendo- se assim... tudo bem.


João Brito Sousa, no "Braços ao Alto"

Comentários

templario disse…
Que pessimismo o seu!... Direi
mesmo, que critério doentio o
leva a escolher páginas tão divi-
sionistas e carregadas de desalen-
to. Foi logo escolher os primór-
dios da República.

E tanto assim é que V. tinha tanta
coisa do Porto e do Norte para nos
dar uma visão mais realista e op-
timista, dessa época, para nos
brindar com factos de extrema uni-
dade nacional vividos nessa nossa
região.

-O Sinédrio
-o desembarque dos "malhados"

E tinha, depois, se V. quisesse
a grande resistência aos novos
ideais dos novos tempos desenca-
deados nesse período histórico aí
no Norte: o dos grandes senhores
daí e os da igreja daí que eram
grupos de poder regional. Se es-
tiver atento, muito atento, vai
ver que o "espírito" deles ainda
por aí habita.

Esteve atento ao comunicado do
Sindicato da Construção Civil do
Norte, semanas atrás? Não é do
poder central. São esses fantas-
mas que ainda por aí ditam as leis.

Com a regionalização recobravam
de sérios golpes que têm sofrido
desde 1820 e borrifavam-se para o
progresso do país.

Deixe o Raúl Brandão em paz que
nada tem a ver com o tema em de-
bate.
Regionalização não rima com bairrismos.
templario disse…
Às vezes trocamo-nos. E eu meti os
pés pelas mãos.

O "Sinédrio" e o desembarque dos
"malhados" é da revolução liberal.

Errei, mas não deixa de ter o mesmo
sentido.

Minhas desculpas.
Anónimo disse…
não é bairrismo. é regionalismo que é muito diferente.
Anónimo disse…
bairrismo é achar que todo e qualquer investimento megalómano em lisboa é uma coisa boa