Referendos

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A experiência portuguesa dos referendos é lamentável. Todos os partidos começaram por ser seus adversários. Depois, gradualmente, todos passaram a ser favoráveis, mas sempre na dependência das circunstâncias. Um partido só é a favor do referendo se a sua realização permitir alcançar certos objectivos. Evitar um incómodo interno do partido, como por exemplo com o aborto e a regionalização. Recuperar de uma derrota parlamentar. Abrir uma cisão dentro do partido adversário. Obrigar o partido adversário a acompanhar, mesmo contra a vontade. Proporcionar uma espécie de plebiscito. Condicionar o Presidente da República. Ser uma boa cobertura para a covardia, isto é, permitir que um partido, um governo ou um líder não tome posição.

Ninguém é favorável, por princípio, à realização de um referendo em momentos taxativos, como sejam as revisões constitucionais (nacional ou europeia) ou temas de excepcional importância. Ninguém é, por convicção, favorável a este mecanismo de democracia directa que pode, em determinadas situações, ser um complemento eficaz da democracia representativa. A cultura democrática em Portugal é medíocre, ínfima e oportunista.
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Por, António Barreto
«Público» de 18 de Novembro de 2007
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Comentários

templario disse…

Tinha lido no "Público". É uma análise com a qual concordo e que só António Barreto e poucos mais têm coragem de trazer à praça pública. Infelizmente as organizações de todos os níveis e de todos os partidos não colocam estes temas nas suas ordens de trabalho. Como seria salutar!!! Mas é perigoso. A maior parte dos militantes partidários não leram e não sabem que se escrevem estas coisas. Andam entretidos e empurrados para discutir pelo telefone, nos cafés, nas esquinas qual será o tipo que deve ser próximo presidente de Câmara, etc..

Eu não sei se o objectivo do Sr. António Felizes foi colar António Barreto à causa da regionalização, como não sei se ele está a favor ou contra, o que não vem para o caso.

O que digo é que uma das lições que me apraz retirar é existirem pessoas e partidos que apoiam hoje a regionalização exclusivamente pela circunstância de serem ou não beneficiados com ela, borrifando-se para as consequências para os portugueses.