Algarve, um caso de sucesso?

135Há três, quatro décadas o Algarve era uma Região pobre, deprimida e isolada, consumida pela emigração em massa. Hoje é uma das regiões mais desenvolvidas do país com um rendimento per capita superior à média nacional.

É uma região atractiva, com qualidade de vida, com uma população que continua a aumentar e que se encontra nos primeiros lugares em quase todos os índices de desenvolvimento económico e bem-estar social.

O Algarve é um caso de sucesso no quadro nacional.

O Algarve é a região do país que sofreu a maior e mais profunda transformação estrutural em termos económicos e sociais, possuindo hoje um modelo que representa uma ruptura total com o passado, ao contrário de outras regiões que progrediram ou regrediram dentro do modelo existente.

De uma economia assente numa agricultura tradicional e na pesca artesanal, com uma indústria fraca e rudimentar (agro-indústria, conservas, cortiças), o Algarve tornou-se uma Região das mais desenvolvidas do país, através de uma economia de serviços com o predomínio do turismo, com os sectores tradicionais cada vez mais residuais e com limitados focos de modernidade e inovação.

Os grandes investimentos que acompanharam esta evolução devem-se sobretudo a grupos portugueses e também estrangeiros, externos à região.

Veja-se, apenas como exemplo, a trajectória de Vila Moura dos anos sessenta até hoje: 1º. Latifúndio propriedade da família Fialho; 2º. Venda ao banqueiro Cupertino de Miranda/BPA; 3º. Passagem para o BCP por aquisição do BPA; 4º. Venda à Lusotur/Jordan; 5º. Venda pela Lusotur da parte imobiliária à espanhola Prasa e do golfe ao grupo Oceânico Golf (irlandês/inglês).

Na hotelaria constatamos que as principais cadeias hoteleiras portuguesas estão todas no Algarve, mas que nenhuma tem origem, sede ou os principais negócios no Algarve, nem paga, em geral, impostos na região. Pode-se dizer o mesmo para o golfe, as marinas e os empreendimentos «PIN» anunciados.

O mesmo aconteceu na área do comércio, hoje fortemente dominado pelas grandes cadeias nacionais e internacionais.

Nalguns casos empresas do Algarve, ou cidadãos do Algarve, podem estar associados a investimentos, mas quase sempre em posições minoritárias, normalmente na fase inicial e apenas de passagem.

No Algarve existem cerca de 18.000 sociedades (95%micro;4% pequenas;0,5% médias; 0,1% grandes) e o sector terciário representa quase 80%.

Os investimentos, sobretudo das pequenas e médias empresas, concentraram-se prevalentemente nos investimentos de menor dimensão, sobretudo na área da intermediação imobiliária e de terrenos, na construção sobretudo de apartamentos e moradias isoladas ou em pequenos loteamentos nos principais concelhos turísticos e um pouco por toda a região.

Ou em sectores de prestação de serviços às múltiplas actividades ligadas ao turismo (equipamentos, manutenção, etc.), no pequeno comércio, restauração, bares e estabelecimentos de bebidas, agricultura e pesca artesanal, pequena indústria.

Resulta claro que a forma rapidíssima como o processo de crescimento do turismo no Algarve se concretizou abriu caminho a que grupos externos financeiramente mais fortes acabassem por ser os protagonistas e beneficiários.

Vitor Neto
Presidente do NERA e ex-secretario de Estado Turismo
"Observatório Algarve"
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Comentários

Anónimo disse…
Ninguém pode contrariar estatisticas.
Mas,,,,
Os autenticos atentados urbanisticos na orla maritima ao longo do Algarve, pode significar desenvolvimento, mas significa uma ignorância total dos autarcas naquela região. (são raras as excepções)...

Estão a ver muitos prédios Coutinhos, uns a seguir aos outros...é este o aspecto em "quase" todo o Algarve.

Lamento que só tenha falado nos bons exemplos.

Se a intensão era dizer que a Regionalizão faz falta e é urgente, estou de acordo.

Mas não ficaria mal, entrelinhar, o que também não faz falta nenhuma no Algarve.

Anonimo 4
Ralf Wokan disse…
Sistema "aspirador":
faz um "plop" e o dinheiro está fora de Portugal.
Fica uma deflação atrás, mas ninguem sabe e portanto não vê.
Agora conheço pelo menos um Portugues, que sabe e diz a verdade.
Muito respeitosamente
Ralf
Anónimo disse…
Quem o feio ama, bonito lhe parece...
O Dr. Vitor Neto ama o Algarve, em todos os seus sectores (agricultura, pesca e turismo), por razões óbvias, desde há muito tempo.
O Algarve, todo o Algarve, mesmo com alguns autarcas menos rigorosos, é muito mais bonito que o prédio Coutinho.
Claro que se o Algarve está com um razoável nivel de vida e não tem um Alberto João, bate-se nos autarcas, que, com raras excepções, são ignorantes e só sabem construir prédios Coutinho.
Que grande injustiça...
Mesmo com a densidade populacional de Agosto, em Albufeira, Quarteira, o Algarve, no seu todo, vale a pena.
Para fazer turismo, para trabalhar e para viver
Zé Luís disse…
Não sou cliente do Algarve porque me decepcionei com o que lá vi em duas ocasiões e senti-me mal servido.
Mas não é por isso que o post desmerece.
Eu só fico é sem perceber, face à prosperidade do Allgarve, e comparando com o empobrecido Norte, como é que por cá a cintura de estradas à volta do Porto vai pagar portagem e a Via do Infante não.
Aparentemente, para o Governo que nos desgoverna, lá no Allgarve, se há riqueza não é para todos, os parâmetros não convergem para se portajar a Via do Infante.
E esta, hein?!...
Anónimo disse…
"Eu só fico é sem perceber, face à prosperidade do Allgarve, e comparando com o empobrecido Norte, como é que por cá a cintura de estradas à volta do Porto vai pagar portagem e a Via do Infante não."

Porque o Norte é uma colónia, ainda não percebeu? As colónias servem para isso mesmo, para pagar o resto.
Anónimo disse…
O Norte é rico, não é pobre. O que não pode é ter culpa da pobrza de espírito de muitos dos seus habitantes.
Já há muito se diz que: "NINGUÉM É POBRE SENÃO DE ESPÍRITO".
Então aqui, sim, não há "subsídios de pobreza" que cheguem para todos.
Lamento, mas é assim. Como dizia o outro: "É a vida ...".
Anónimo disse…
Pois, pois, ... J. Pimenta; porra que me enganei; é "ninguém pia".