Interior


Terras da BEIRA

São cada vez mais os mortos que povoam os cemitérios e menos os vivos que ficam. Os jovens saíram pelas estradas que invadiram o seu habitat. Fugiram das courelas que irmãos disputavam à sacholada e à facada, dos regatos que secaram a caminho das hortas, da humidade que penetrava as casas e os ossos e da pobreza que os consumia.

Não há estímulo para permanecer.

Não se percebe que as penedias tivessem custado vidas na disputa da fronteira, que homens se tivessem agarrado aos sítios e enchido de filhos as mulheres que lhes suportavam o vinho, a rudeza e os maus-tratos.

Os tempos mudaram e os campos, abandonados, são pasto de chamas que lhe devoram os arbustos, no estio, e os entregam à erosão.

Os funerais são o momento de fazer o recenseamento dos que resistem. Nas missas, os padres em via de extinção debitam com ar sofrido a homilia, com pressa de passar à paróquia seguinte e sem coragem para falar do Inferno. Ora, sem medo, sem ameaças e sem convicção não há fé que resista ao ar lúgubre de uma igreja, ao frio do lajedo e às imagem que substituíram as antigas que rumaram aos antiquários.

Falar de castidade a quem a idade condenou, dos malefícios do aborto a quem passou há décadas a menopausa e na obrigação de aceitar os filhos que Deus mandar a quem já não é capaz de os gerar, é persistir em rotinas que a desatenção e a demência cultivam.

Há dias fui à Beira onde nasci. São poucas as pessoas que permanecem. O País inclina-se perigosamente para o mar com o interior despovoado, a caminhar para o deserto.

Outrora, aquela zona foi um alfobre de gente, hoje é um cemitério de recordações em vias de extinção.

A nossa incúria vai reduzindo Portugal a uma estreita faixa com mar à vista. Até o Presidente da República diz que devemos virar-nos para o mar. É uma forma de nos afogarmos de frente.

Foi esta regionalização que o PSD e o CDS quiseram.

Carlos Esperança

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

A situação no interior das futuras Regiões Autónomas de Trás-os-Montes e Alto Douro e do Alentejo não é muito diferente da verificada nas Beiras, INFELIZMENTE.
A solução, já todos a conhecem.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Tanta manha...
A regionalização má é aquela que foi feita pela DIREITA.
A boa, essa, foi feita por Mário Soares, António Guterres e José Sócrates.
Pobres e mal agradecidos.
Não há pachorra...
Anónimo disse…
Ao anónimo acima INTERNAMENTO JÁ.
templario disse…
Sr. Carlos Esperança,

Já terá reparado que a Espanha (o paradigma ai-jesus dos regionalistas) tem mais de 70% da sua população(mais de 32 milhões)a viver nas suas regiões litorais/marítimas. Algumas têm alguma continentalidade, mas nem por isso.

Se tivermos em conta que a Comunidade de Madrid tem 6 milhões de habitantes, pode imaginar que, quanto a equilibrada distribuição demográfica..., é para esquecer.

É assim pela Europa fora. Se viajar de carro entre Paris e Breda, na Holanda, passando por Lille, Antuérpia e Bruxelas, a maior parte do percurso é quase deserto humano (passe algum exagero), até mesmo na Bélgica, entre Bruxelas e Holanda: vê os campos todos cultivados, viçosos, máquinas agrícolas moderníssimas etc., sem minifúndio, até parecem herdades do Alentejo, não se confronta com os atrasos de vária ordem do nosso interior.

Pois não. Foram todos proletarizados, o capital comprou os minifúndios e os belgas atropelam~se nos grandes centros e nas mais selváticas relações de trabalho da Europa. Não vem ao caso de a Espanha estar a ultrapassar os 10% de desempregados.

Eu sei que esta argumentação é demasiado superficial. Mas dá para pensar em muitas coisas.

Por exemplo, trace uma linha num mapa de Portugal de Norte a Sul, partindo de Chaves,tocando em Viseu, Abrantes, Mafra e terminando em Faro. Tome em conta que Portugal tem na sua maior largura 200 e tal quilómetros (não me lembro). Pare e reflicta. Se estiver disposto a isso, tire conclusões, tendo a sua regionalização como matéria de fundo.

Há umas semanas atrás o nosso Min. da Agricultura numa viagem ao Norte chorava baba e ranho por via do minifúndio por aquelas terras. O associativismo é que era uma gracinha... dizia ele! Bem trocado por miúdos, aquilo quereria dizer, em última instância: uma boa crise económica internacional é que vem mesmo a calhar, para muitas destas pessoas emigrarem e venderem as suas corelas. O Capital apoderava-se delas e as pessoas que têm ali a sua tábua de salvação imigravam para o Porto, para a Galiza (já o estão a fazer, mas o contrário também já é verdade), para Lisboa, etc. Grandes e avultados investimentos por aí se fariam, não tenhamos dúvidas. 7 ou 8% de desemprego é ainda pouco para o grande capital investir em força, como deve saber. Ó ideal para o capital é uma média de 12/14% de desempregados.

Olhe, já me perdi... o melhor é mesmo ficar por aqui. É bom reflectir nisto para encontrarmos as razões porque querem estilhaçar o país.

O povo tem muita manha, feita de séculos de mentiras e exploração.

Ai se nós fôssemos capazes de correr à chapada os politicotes que andam por aí a dizer que querem defender o povo com a regionalização. Está mesmo a ver-se que é mentira.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,
e, mais uma vez, com agrado,
Caro Templário,

Concorda-se com grande parte da argumentação que apresenta, sabendo que há muitos anos existe uma enorme diferença de desenvolvimento (não apenas de crescimento económico) entre países como a Bélgica/Holanda e Portugal.
A verificação de campos cultivados ao longo dos trajectos que mencionou (em certas zonas geográficas, na Bélgica, até me convenço que estou perante paisagens medievais quando por lá passo) representa uma forma de povoamento suficiente para não se atropelarem uns aos outros nas "províncias" onde existe a preocupação de valorizarem os recursos que possuem, no quadro de uma política económica regional de há muito tempo estabelecida e amadurecida.
No nosso País, infelizmente, o que se verifica é área agrícola e florestal abandonada ou menosprezada, pelos proprietários e/ou pelo Estado, sem qualquer enquadramento de política económica nacional quanto mais regional ou coordenadamente regionais. É muito triste afirmá-lo, mas nós portugueses não somos capazes de administrar os recursos com que a Natureza nos presenteou, habituados que estamos a desbartar o valor dos PEDIDOS de compensações financeiras (desde há 5 séculos) oriundas de países que sempre tiveram a preocupação de aproveitar o resultado das melhores aplicações económinas dos recursos que lhes foram parar às mãos (é nestas aplicações económicas que se GERA VALOR para distribuir, equilibrada e sustentadamente, e nunca depois nem em qualquer outra circunstância temporar ou institucional; aqui espera-se que compreendam o alcance e a profundidade do que se escreveu, demasiada e dramaticamente actuais).
Ao longo de séculos, tem sido sempre o POVO A PAGAR as asneiras próprias de regimes políticos jacobinos e de base partidário-corporativa (nunca deixamos de ser uma País Corporativo - está na mente colectiva e indivudual, apesar do regime político ser democrático), sem necessidade de se invocar a natureza dos protagonistas políticos ou do seu próprio comportamento. Por outro lado, quando num País que se diz moderno, por exemplo, as autoridades de regulação demoram meses a concluir estudos sobre a formação e o comportamento dos preços - quando o preço do petróleo subia, no próprio dia o preço dos combustíveis acompanhava ou mais que acompanhava a subida; quando começou a descer, verificou-se que nem todos os santos ajudam ou ajudaram na descida, os principais até parece que ajudaram ou ajudam a manter, permanecendo os preços em patamares que configuram exactamente aquilo em que todos estamos a pensar. Como se sabe, até para isto não são precisos os políticos porque dizem que "basta o mercado, é preciso deixar o mercado funcionar" - isto é que é enganar o povo, como se tem visto, razão pela qual não se necessita de invocar os políticos do tipo que indicou e até com alguma graça - os politicotes - para os acusar de não defenderem os interesses do Povo, apesar de este ter alguma manha SÓ no seu contexto INDIVIDUAL e nunca colectivo, como se pode reconhecer nas conclusões de um estudo hoje publicado no "Jornal de Notícias" e que são as seguintes:
(a) Portugueses são permissivos com a corrupção (54%)
(b) Portugueses são permissivos com o tráfico de influências (53%)
(c) Actos realizados em nome do interesse público discordam que sejam considerados corrupção (61,3%)
(d) Caso tenham conhecimento, os actos de corrupção seriam denunciados (73,5%)
(e) Não concessão de voto a autarca envolvido num escândalo de corrupção (88,4%)
Com esta "performance" INDIVIDUAL do nosso POVO, negativamente abonatória, nem políticos nem politicotes serão precisos e muito menos os políticos regionalistas que ainda não existem, para se concluir que o que está em causa, DE FACTO, é o ainda próprio e péssimo funcionamento das organizações da Admnistração Pública na sua configuração actual, centralizada, centralizadora e jacobina, como se costuma escrever.
Os comportamentos acima identificados e quantificados seriam susceptíveis de conduzir muitos portugueses para a prisão por indiciarem a prática de crimes previstos no Código Penal, mas também o mesmo estudo reconhece que os portugueses vêem, nas diferentes formas de tráfico, A ÚNICA FORMA DE ULTRAPASSAR UM ESTADO LENTO E DESATENTO AOS SEUS DIREITOS E NECESSIDADES.
Mesmo ainda sem os tais políticos ou politicotes, ainda quer mais argumentos para justificar a implementação da regionalização autonómica (a tal) ou de OUTRA COISA POLÍTICA QUALITATIVAMENTE DIFERENTE, com novos paradigmas de funcionamento e novos protagonistas políticos, sem necessidade de "retalhar" o nosso País que é também uma NAÇÃO (por enquanto) mas o REGORGANIZAR MUITO MELHOR?
Independentemente dos políticos e sem lhes aliviar as culpas que têm tido no cartório, muitos portugueses na sua componente individual é que neccesitavam de uns valentes açoites para se convencerem que não podem nem devem seguir os maus exemplos existentes na vida política, económica e social portuguesa, porque quando decidem segui-los é porque lhes dá MUITO JEITO.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
templario disse…
Caro pró-7RA,

Um bom post, de acordo com grande parte do que escreveu.

Pena é que tenha essa fixação da regionalização/autonomia.

Cumprimentos
Anónimo disse…
Caro Templário,

Agradeço com sinceridade as suas amáveis palavras sobre os meu "post" da mesma forma que lhe reconheço uma invulgar capacidade de análise da nossa história e do nosso comportamento político que merece o maior respeito.
Mas gostaria que não visse nas minhas posições escritas uma qualquer teimosia nem muito menos fixação, dado que encontro sempre fragilidades ou carências argumentativas em tudo o que não se coaduna com a necessidade de desenvolvimento equilibrado e autosustentado do nosso País.
Por isso, da minha parte é mais convicção do que fixação até ao momento em que tiver de baixar os braços argumentativos perante a minha incapacidade de análise política a favor do desenvolvimento. Mas convicção suportada por conhecimento de causa política e real e identificada pelo esgotamento da actual forma política e do desempenho dos habituais protagonistas políticos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)

PS - Um destes dias até me disporia a fazer uma viagem até Tomar para uma conversa de café ou de restaurante (há uns anos atrás, ía todos os meses a Torres Novas, no exercício de actividades profissionais).
templario disse…
Caro pró-7RA.,

"Templário" só porque sou nascido e criado na "Cidade "Templária", bela cidade fundada pelo companheiro de armas do nosso Primeiro que fundou um ESTADO UNO, DE UM POVO UNO. O Gualdim Pais terá sido o primeiro Governador Regional de Portugal (região centro) que mais tarde a igreja conquistou, acusando os Pobres Cavaleiros de Cristo de hereges; e foi o Grão Mestre da Ordem que travou gloriosa batalha em Tomar contra os almódoas, impedindo o seu avanço para o Norte, justificando-se que os regionalistas do Porto iniciem peregrinações ao seu santuário para o honrar e homenagear. A sua divisa é de pôr os cabelos em pé: "NÃO A NÓS, SENHOR, NÃO A NÓS, MAS AO VOSSO NOME DAI A GLÓRIA". Não sou religioso, mas esta divisa, tirando o Senhor, deveria ser a de uma classe política portuguesa que está por inventar.

Mas vivo em Sintra há uma carrada de anos: desloco-me frequentemente a Tomar onde tenho quase toda a minha família. Tomar é uma cidade do centro atravessada pelo rio Nabão,Naba do deus das águas lusitanas, ou rio TAMARARA ("águas doces" como lhe chamavam os árabes). Para mim são águas remansas que só se agitam em dias de cheias que inundam as ruas. Não detecto lá paixão pela regionalização autonómica ou outra. É um bom local para almoçar: um bom caldo verde e cabrito no forno, que se pode encontrar por todo o país, óptimo para conversar e cogitar sobre a volta a dar ao país.... .

Vir a Sintra é complicado para quem vem do Norte despovoado, "assimétrico", sofrendo das dores da ditadura de Lisboa, antro de centralistas, florescendo de modernidades, aeroportos, portos marítimos, arranha-céus, "nós" rodoviários, emaranhado de ruas, vias rápidas e auto-estradas. Está bem de ver que a pode contornar pela "segunda circular", mas não se livra de passar mesmo em frente ao Esplendoroso Símbolo da Pátria, a Majestosa Catedral do SLB que une mais de 10 milhões de portugueses de aquém e além fronteiras. Como iriam os regionalistas solucionar este imbróglio? Fazer do SLB um clube regional como o grande FCP? Impossível!
Corre o risco de, vindo da "A1", ir direitinho à Vasco da Gama sem apelo nem agravo: poderia ir buscá-lo às portagens de Sacavém, mas aproveitaria, em caso de engano, para conhecer os terrenos do Aerop. de Alcochete e, no regresso, em plena ponte, contemplar à sua esquerda o estuário, o parque das nações e a zona ribeirinha que vai ser reconvertida. Vai ficar um luxo! Lisboa está a transformar-se numa pérola. Lisboa não é de maneira nehuma uma "Aldeia". Nem deve ser. Será que conhece Lisboa?

Tinha outra alternativa: da "A1" desviava para a CREL em Alverca, mas temo que fosse parar a Cascais, embalado pelo ideal carismático burguês dos regionalistas do Porto... Cascais, Quinta da Marinha, aquelas delícias que por ali há onde moram regionalistas famosos. E não se dá o caso de haver aqueles favores das casinhas das câmaras.

Nestas coisas da regionalização não aprecio jogar em casa, posso ter assomos de superioridade étnica, precisar de me informar com tempo sobre preceitos regionais, sobre como receber pessoas de outra região devido às grandes diferenças de costumes e culturas que nos separam. Seria arriscado de sua parte e da minha também, ainda por cima por não nos conhecermos. Em zona neutra há mais informalidade.

TERRENO NEUTRO É A MINHA PROPOSTA:
Leitão da Bairrada!!! Acredite que nunca saboreei Leitão da Bairrada, na Bairrada. Vou de Sintra para Tomar passar uns dois ou três dias e de lá arranco para a Bairrada para um grande almoço com o meu amigo. Lá nos encontraríamos para discutir a problemática da regionalização autonómica, o que deveríamos fazer durante a sobremesa, acompanhada de um bom digestivo, a mim me basta um bom bagaço, melhor dizendo, uma bagaceira, uma "branquinha" como gosto de a chamar. Se tem intenções de uma gentileza, traga-me de lá uma de vinho verde(bagaceira), de créditos firmados e prometo retribuir com uma caixa de queijadas de Sintra e uma garrafa de branco de Bucelas, "Charneco" de boa qualidade.

A conversa a dois (que se desconhecem) pode ser um fracasso. Pode trazer alguém consigo que se oposite, ou uma pessoa que tenha dúvidas sobre a regionalização. Tente convidar o Dr. Rui Rio, diga que vai da minha parte e traga-o consigo. O almoço dele é a minhas custas, à discrição.O Sr. Felizes não é possível porque deve andar muito ocupado a pesquisar bons post sobre a regionalização nas beiras interiores.

Que tal?
Anónimo disse…
Caro Templário,

O seu "post" anterior, para além de conter todos os ingredientes justificativos de uma política de regionalização (atente no pormenor das "riquezas" de Lisboa que enumerou) é o melhor exemplo de um anti-regionalista a lançar os melhores argumentos a favor da regionalização.
Lamento que não viva em Tomar porque seria para lá que estava a dirigir, com grande gosto e interesse histórico-regional, toda a minha orientação da viagem, mas também não quero desfazer a excelente ideia de almoçarmos um "leitão da bairrada", no próprio local do "crime", com vinho apropriado ao repasto: a sub-região da Bairrada, integrada na futura Região Autónoma da Beira Litoral, sem qualquer ajuda templária, para evitar peregrinações "ad contrario".
Por isso, Caro Templário, na próxima semana, estou disponível nos dias 22, 23 e 24 de Outubro, para uma deslocação inteiramente subordinada a interesses regionalistas e que, pelo que depreendo, vai apreciar condignamente (isto é, com delícias regionais).

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)