O Algarve 2000-2006

Sérgio Martins, Técnico Superior de Turismo, in revista Algarve Mais de Outubro/2008

No período 2000-2006, a estratégia de desenvolvimento do Algarve e para os fundos europeus que recebemos, tinha como primeiro objectivo a afirmação da capacidade competitiva do Algarve através da especialização económica centrada no complexo do turismo e lazer, mas incluindo igualmente uma visão integradora dos diversos elos da cadeia produtiva regional. O segundo objectivo era a construção das condições de competitividade regional, com especial enfoque na valorização dos recursos humanos, competências regionais e coesão social, e no território e ambiente.

A avaliação que desses objectivos não é muitas vezes fácil, mas os dados públicos são alarmantes.

O Algarve está claramente centrado no turismo mas a especialização quantitativa e qualitativa deixa a desejar. Por cá, a taxa de ocupação caiu, o crescimento da capacidade de alojamento apenas seguiu a média nacional, os apartamentos turísticos tiveram mais crescimento que outras unidades com mais qualidade, os proveitos de alojamento cresceram muito menos que o todo nacional e os proveitos totais estagnaram enquanto no todo nacional cresceram.

Já sobre os diversos elos da cadeia produtiva regional, os dados públicos são poucos mas não é difícil constatar que Industria, Comércio e Agricultura, Silvicultura e Pescas não deram nenhum grande salto em frente (à excepção da proliferação de centros comerciais).

Já sobre a valorização dos recursos humanos, competências regionais e coesão social, pode-se constatar que, no Algarve, o aproveitamento escolar caiu, aumentou a formação profissional mas caiu a formação contínua (só 1%, contra os 10% da média europeia), aumentou a população empregada qualificada mas a não qualificada não diminui por aí além e as ofertas de emprego do IEFP são muitos mais para trabalho não qualificado do que para qualificado.

No que diz respeito à coesão social regista-se a duplicação da taxa de desemprego e uma elevada taxa de desemprego entre os jovens, a continuidade do emprego/desemprego sazonal e uma taxa de precariedade bem acima dos 30%

Ao nível do PIB per capita, da riqueza por pessoa, o Algarve ultrapassou os 75% da média da União Europeia, em Maio de 2004, por via do alargamento da União Europeia de 15 para 25 países e da entrada de países e de regiões ainda mais pobres que o Algarve. Mas, trata-se de uma mera operação aritmética e estatística, sem fundamento na realidade algarvia e o Algarve continuou a ser a mesma região, com o mesmo nível de riqueza e de pobreza, nada mais rica e com os mesmos problemas.

Na realidade, a riqueza do Algarve é efectivamente inferior a 75% da média UE (a 15 ou mesmo a 25) porque a nossa riqueza não pode ser aferido na mesma óptica de outras regiões, face às características próprias da principal actividade económica da região - o turismo e as suas muitas receitas que não ficam na região.

Sobre a riqueza do Algarve, basta ver que nas actividades mais relevantes no emprego algarvio, Hotelaria e Restauração, e Comércio por Grosso e a Retalho, os salários médios na Hotelaria e Restauração são 34% inferiores ao salário médio nacional e os salários médios Comércio por Grosso e a Retalho são 5% inferiores ao salário médio nacional.

A avaliação global do período 2000-2006 não é boa. Agora, já em pleno período 2007-2013 dos fundos europeus (os últimos dignos de nota), é desejar que os anos vindouros sejam realmente de mudança para melhor.

Numa próxima oportunidade, abordarei o período 2007-2013, mas tenho à partida algum receio sobre os resultados finais. É que falta uma coisa essencial: a regionalização. A existência da Região Administrativa do Algarve é o único garante da existência de debate regional, planificação participada, politicas regionais dinâmicas e líderes eleitos.

Mesmo apesar do esforço de alguns líderes regionais nomeados por Lisboa ou sob a sua influência, continuará a faltar uma coisa essencial à administração regional: terem passado pelo processo construtivo do debate de projectos e ideias regionais, pela aprovação das suas políticas pelos algarvios e pelo estimulo ao trabalho proporcionado pela prestação de contas ou candidatura perante os eleitores.

Comentários

Vitor Silva disse…
gostei bastante da sua análise.
gostava de lhe perguntar se me poderia enviar os dados base que usei para ela de forma a eu poder criar uma visualização parecida com a que disponibilizei em http://blog.osmeusapontamentos.com/?p=902 para a evolução da população em portugal
Anónimo disse…
Exmo. Vitor,

São dados do INE, dos mas não tenho-os sistematizados em base de dados.
Vitor Silva disse…
não é preciso base de dados.
se me quiser enviar um mail para vitorsilva.com at gmail.com com a informação que tem eu vejo o que se consegue fazer.
é só para me poupar o trabalho de recolha de informação onde se gasta bastante tempo.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Estamos perante um excelente exemplo para enquadrar toda a problemática da regionalização como instrumento político de desenvolvimento, ao colocar a ênfase na valorização dos recursos próprios de cada Região, nomeadamente na valorização (que não chega) e na mobilização dos respectivos recursos humanos.
Os índices médios "per capita" apresentados correspondem mais ao reposicionamento estatístico do nosso País, decorrente da entrada de novos Países com pior desempenho do que a uma efectiva melhoria da nossa posição face aos índices médios da UE (mesmo ao nível dos salários praticados nos sectores em que o Alagarve tem demonstrado alguma competitividade: hotelaria e restauração).
Por outro lado, com a estrututa orgânica e política sem alterações, no período 2007/2013, os resultados estatísticos relacionados com o desenvolvimento não serão muito diferentes (como iremos verificar mais tarde) dos encontrados no período anterior de colecção dos fundos estruturais da UE.
Por isso, é relevante que se compreenda que é necessário diversificar a produção de todas as futuras Regiões Autónomas, de acordo com as características dos seus recursos próprios, sem esperar desistência de investimentos e produções em sectores como a indústria, o comércio, a agricultura, a silvicultura e o turismo, em que neste último sector será validado pelo mercado apenas investimento de qualidade média-alta e alta (teremos de perceber de vez que quantidade nunca é sinónimo de qualidade) e tudo enquadrado na coerência de diversas políticas de natureza e finalidade regionais, em direcção ao desenvolvimento regional e nacional.
Face a este enquadramento, não se (pode) resistir a propor uma nova organização regional e política que permita uma governação muito diferente da actual (vai ser uma luta política gigantesca), especialmente nos seus aspectos QUALITATIVOS, assente na criação e implementação da regionalização autonómica (7 Regiões Autónomas) e no abandono definitivo (custe o que custar e a quem custar) das regiões administrativas que nunca permitirão uma verdadeira eleição de políticos regionais nem permitirão o rejuvenescimento dos dirigentes políticos, sempre submetidos a direcções nacionais insensíveis a problemas de desenvolvimento regional, nem a reestruturação eliminatória dos vícios funcionais históricos dos partidos de dimensão nacional.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)