Mais Norte, pelas piores razões

Norte passou a liderar os calotes à Banca

Em meados de 2008, ainda antes do agudizar da crise, era a Norte que se encontrava mais crédito incobrável

É mais um dos sinais da crise que atinge as empresas situadas no Norte: é lá que está a maior percentagem de crédito de cobrança duvidosa do país. O couro (curtumes e calçado) e o têxtil lideram os calotes.

Ainda antes do agudizar da crise que atirou Portugal para a recessão, a situação das empresas do Norte tinha piorado a ponto de passarem a ter a maior fatia de crédito incobrável do país.

Dos 119 mil milhões de euros emprestados à actividade económica, 31 mil milhões foram entregues a empresas sediadas no Norte e, destes, 3% (quase mil milhões) foram dados como incobráveis no terceiro trimestre de 2008, diz o Banco de Portugal. O problema ainda vai piorar antes de melhorar, dizem os empresários, sobretudo se não forem dados passos para ajudar as firmas já em dificuldades.

António Marques, presidente da Associação Industrial do Minho, espera que o Governo crie um "fundo para ajudar as empresas viáveis, mas já com problemas", de forma a evitar falências e despedimentos. As linhas de crédito bonificado, por exemplo, só estão disponíveis a empresas que ainda têm em dia os pagamentos à Segurança Social e ao Fisco.

Mas o problema não surgiu com a crise iniciada no mundo financeiro e agora paira sobre as empresas e as famílias, referiu. Veio foi "agravar um problema antigo e estrutural": a desadaptação do país a uma lógica de trabalho diferente da tradicional. Exemplo disso é o que se passa em dois dos sectores mais tradicionais da indústria.

O couro (calçado e curtumes) e o têxtil são, por esta ordem, os sectores da indústria com maior percentagem de crédito malparado, apesar de este ter vindo a baixar.

Os curtumes reconhecem ter problemas em fazer face às prestações ao banco, mas Vasco Aparício, presidente da associação do sector, acusa o calçado (o principal cliente) de acumular incobráveis.

"O calçado usa muito o crédito a fornecedores e os curtumes têm funcionado como bancos", disse, acrescentando que pode estar em risco um décimo dos cerca de 2500 empregos do sector, concentrados em Alcanena. A associação do calçado não quis prestar declarações sobre o assunto nem responder às acusações dos curtumes.

Paulo Vaz, da Associação Têxtil e de Vestuário, reconheceu as dificuldades do sector, apesar dos "sinais de adaptação" como o aumento de 7% das exportações em 2007. "A reestruturação estava a dar bons resultados, mas a crise afecta todas as empresas, independentemente de serem viáveis ou não".

Apesar de garantir não haver casos de pânico ("as empresas estão a fazer um esforço enorme para cumprir os compromissos, mas não é eterno"), Paulo Vaz espera que cheguem a bom termo as negociações com o Governo de medidas de apoio ao sector.


"JN"

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Como é referido neste "post" baseado numa notícia publicada hoje no "JN", trata-se de um "problema antigo e estrutural". Também estive ligado a empresas dos sectores indicados na província minhota e, quando se alertava para o facto de os capitais próprios das empresas serem insuficientes para financiar com equilíbrio e optimização o valor dos activos necessário ao desenvolvimento dos negócios, a resposta aos pedidos de refinanciamento próprio foi sempre negativa. Por outro lado, já há anos que, em novos investimentos, o racio de capitais próprios para os financiar era admitido atingir apenas 25% do valor a investir na apresentação dos projectos a incentivos financeiros e fiscais, percentagem insuficiente para garantir a não ocorrência de problemas não só com a estrutura de financiamento como dos custos que lhe estão associados.
Esta notícia, por isso, ao conhecerem-se estes velhos antecedentes (não são referidos outros de envergadura negativa não desprezível e que, por razões óbvias não se vai mencionar aqui), não é nenhuma surpresa.
A este propósito, gostaria de conhecer a ligação entre os casos de endividamento elevado e os casos de capitais posicionados nos paraisos fiscais ou "offshores".
É evidente que o melhor sistema de regionalização política (a regionalização autonómica) não pode resolver este tipo de problemas mais entrocados nas tipologias de comportamento empresarial, mas pode dar alguma ajuda disciplinadora.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)