Regionalização a cinco para enterrar fantasmas de 1998

Cai a região da Beira Interior proposta por António Guterres em 1998. José Sócrates quer mapa com base nas cinco regiões-plano. É a garantia de um processo mais pacífico para evitar novo chumbo

É o "take" dois do processo de regionalização em Portugal, o renovado fôlego de um assunto que ficou sepultado no ano de 1998 nas urnas de voto de um referendo. O Primeiro-Ministro, José Sócrates, anunciou que irá propor um processo de regionalização para o país na próxima legislatura se for, naturalmente, reeleito. O mapa, esse, será distinto e, acima de tudo, mais pacífico daquele que foi a referendo em 1998.

A primeira tentativa de regionalizar Portugal, dotando-o de uma estrutura de gestão política intermédia caiu estrondosamente por terra a 8 de Novembro de 1998. A proposta do governo de António Guterres para a criação de oito regiões – entre as quais a da Beira Interior, com os distritos de Castelo Branco e Guarda – foi chumbada por quase 61 por cento dos eleitores. Apesar de os resultados não serem vinculativos, – os exigidos 50 por cento mais um eleitor a terem que depositar o voto em urna não foram alcançados – a decisão dos que votaram foi respeitada.

Um manto de silêncio voltou a nebular esta questão, apesar de algumas vozes esparsas se levantarem aqui e acolá. A questão voltou à agenda no início do mandato de Durão Barroso como Primeiro-Ministro com uma insípida tentativa de acomodação intermédia através do processo de constituição de comunidades urbanas, que veio lançar mais ruído e confusão na discussão em torno da política regional e administrativa, que, em alguns casos, foi substancialmente maior do que em torno das regiões propostas por António Guterres.

Caem as oito regiões propostas em 1998 (Alentejo, Algarve, Beira Interior, Beira Litoral, Entre Douro e Minho, Estremadura e Ribatejo, Lisboa e Setúbal e Trás--os-Montes e Alto Douro) e serão propostas as cinco regiões-plano que vigoram relativamente imutáveis desde a passagem de Marcelo Caetano como presidente do Conselho, nos anos 70, e que estão traduzidas nas actuais NUT II: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.

Nuno Francisco

Comentários

Estas 5 regiões são, em minha opinião, um autêntico disparate. Parece mais uma manobra para adiar o processo por mais uns anos.
Anónimo disse…
Caro Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final) vai votar sim ou não no referendo?
Isso. Bonito. Comecem já a fazer graxa ao Litoral e aos governantes porque bem vai ser preciso. Afinal, se nós, Beira Interior, vamos ficar com as migalhas do Litoral, bem vamos precisar de muita graxa para matar a fome. E, mais tarde ou mais cedo, vamos acabar por morrer.
Mas há pessoas aqui na região que são mazoquistas. Só não percebo porquê. Não acreditam nelas próprias, na capacidade dos cidadãos e dos políticos da Beira Interior governarem a sua própria região. Não acreditam que os políticos da Beira Litoral são muito mais incompetentes do que os da Beira Interior. E querem ser governados por eles. Não precebem que este mapa, uma vez implementado, vai demorar várias décadas a ser modificado. E que, com este mapa insuficiente, o Interior (não só a Beira Interior, também Trás-os-Montes), vão MORRER. E quando se concluir que este mapa regional foi péssimo para o Interior, e se quiser mudá-lo, o Interior já vai estar na sua agonia, num processo de desertificação completamente irreversível. Mas há quem, no Interior, pareça que quer isso. Infelizmente.
Anónimo disse…
Mas quando é que certos "iluminados" acabarão com essa divisão, sem pés nem cabeça, em cinco regiões, regiões estas que são meras emanações do centralismo do Terreiro do Paço. Apesar de ser do Porto, prefiro uma Beira Interior alargada que essa "região centro" que nos querem, por força, impingir.As regiões não devem ser ditadas por políticos e tecnocratas ignorantes das realidades culturais e da evolução histórica do território português.
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Como é próprio dos ciclos na vida das sociedades, de vez em quando perde-se a noção do essencial para alguém orientar a "discussão" para aspectos periféricos e sem interesse. Periféricos porque desviam-se dos aspectos essenciais a prossecução das finalidades da regionalização, com respeito integral pelos interesses das respectivas populações. Regionalização com base estatístico-plano e deficientemente delimitada, sem se sujeitar às determinantes geográficas, históricas, antropológicas e culturais, entre outras aqui já assinaladas, só poderá resultar em intervenções sobre aspectos periféricos.
Sendo assim, não revelam qualquer interesse para que os tais objectivos da regionalização permitam um desenvolvimento equlibrado e autosustentado num quadro de cooperação intra e inter-regiões.
Tudo o resto é conversa fiada ou confiada.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Eu também não concordo com regiões "tão grandes" para um país tão pequeno e atendendo ao que existente no resto da Europa (onde são com uma dimensão bem mais próximas dos nossos antigos distritos).
Concordaria com uma regionalização próxima das NUT's 3 que ficam mais perto das populações, dos indicadores reais entre o interior e litoral, das necessidades das populações, etc.. etc..
Regionalizar a grande escala para mim é um erro. Como há até quem afirmou que Portugal seria uma região de Espanha.. lá para os lados da América..
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Se continuarmos como estamos, lá chegaremos a ser, descansem.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Num cenário de proliferação de regiões, com grandes diferenças entre elas, especialmente, em termos de população, tornar-se-ia, muito difícil, estabelecer a perequação relativa às verbas provenientes da aplicação da Lei das Finanças Regionais.
Anónimo disse…
Caro António Felizes,

A perequação não é um ser absoluto nem pode ser um sucedâneo do PEC europeu, pela sua inflexibilidade e imutabilidade, mesmo em situações de crise ausente.
Antes de se estabelecer as condições dessa perequação da distribuição das verbas públicas, haverá que definir as diferentes políticas para cada Região Autónima (não é Administrativa) onde cada Política Económica Regional terá de introduzir novos parâmetros coincidentes com o aproveitamento integral dos recursos próprios respectivos.
Depois, nessa distribuiição, a perequação terá de ajustar-se às condições de equilíbrio regional no quadro da eliminação das assimetrias existentes e que continuarão a agravar-se, perante a insensibilidade de quem decide politicamente (as novas acessibilidades tanto dão para entrar como para sair e são uma gota no oceano da eliminação dessas assimetrias).

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)