5 Regiões: o falso consenso que vai matar a Regionalização

Nestes últimos tempos, muito se tem falado na Regionalização. No mapa regional. E tem-nos sido imposto, sem que ninguém tenha a frontalidade suficiente para ouvir os portugueses, um mapa de 5 regiões ("região norte", "região centro", "Lisboa e Vale do Tejo", Alentejo e Algarve). Não nos apresentam qualquer tipo de argumentação válida para justificar a imposição das 5 regiões. Apenas dizem que são melhores. São melhores "porque sim".

Neste contexto, temos assistido a declarações de vários responsáveis políticos dizendo que as 5 regiões são "consensuais", e que o processo regionalista já está em marcha neste sentido. E muitos portugueses perguntam: onde está o consenso? Já se fez alguma sondagem, já se fizeram entrevistas nesse sentido? NÃO. A única coisa que sabemos é que essa era a proposta que mais convinha ao PSD há uns anos, e que, estranhamente, o PS, que em 1998 apresentou argumentos válidos e bastante fortes para justificar a inviabilidade das 5 regiões, agora, sem sequer ouvir os militantes, passou a defendê-las. E aqui está o tal "consenso político".

Mas deixemos o campo político e vamos ao que interessa: a Regionalização. Porque é que a Regionalização é tão necessária? Porque Portugal, embora seja um país relativamente pequeno, é um país de contrastes. Por um lado, temos duas grandes cidades onde se vive bem, até acima da média europeia, onde há emprego, e onde, antes destes tempos de crise, houve grande investimento e desenvolvimento. Num nível intermédio temos todo um litoral em crescimento e desenvolvimento, onde porém não existem grandes metrópoles, e a população se distribui com uma certa homogeneidade. O nível de vida tem vindo a aumentar nestas zonas, e, nas últimas décadas, formaram-se clusters industriais, e as pequenas e médias empresas têm sido o motor de desenvolvimento económico destas regiões. Por outro lado, temos o interior. Um interior a ficar despovoado enquanto os responsáveis políticos assobiam para o lado. Um interior que viu as vias de comunicação chegarem com 20 anos de atraso. Um interior onde se fecham escolas e hospitais sem qualquer tipo de estudos sobre o impacto destas medidas. Um interior onde se têm que percorrer mais de 100 kms para encontrar um serviço de saúde condigno. Um interior onde os maiores projectos são da iniciativa dos espanhóis. Tudo isto enquanto se gastam 5 milhões de euros a requalificar a frente ribeirinha de Lisboa, e enquanto os fundos europeus destinados ao interior são aplicados no litoral. Uma verdadeira pilhagem ao interior, digna de um país de terceiro mundo, é o que tem acontecido ao longo de 30 anos.

A existência de 5 regiões-plano, para fins estatísticos, tem vindo a servir para esconder o atraso económico e as situações de miséria extrema que se vivem nas regiões do Interior, nomeadamente em Trás-os-Montes e na Beira Interior. Porque quando saem notícias dizendo que o norte é a região mais pobre da Península Ibérica, nós vamos ao Porto, a Braga ou a Guimarães e não vemos nada disso. Vemos uma sociedade com níveis de vida bastante bons, tal como na grande maioria dos concelhos do Minho e do Douro Litoral. Aí perguntamo-nos: de onde terão vindo então estas estatísticas? E lembramo-nos depois que o "norte" inclui também Trás-os-Montes. E quando vamos "para lá do Marão", onde, por imposição do centralismo clássico de Lisboa e do neocentralismo do Porto, desde há muito deixaram de mandar os que lá estão, descobrimos aquela que é, provavelmente, uma das regiões mais pobres da Europa.

Esta é a realidade: Trás-os-Montes e a Beira Interior são as regiões mais pobres da Europa. Embora não haja estatísticas que o possam dizer, já que estas regiões são englobadas no "norte" e no "centro", basta viajarmos para lá das montanhas, para descobrirmos regiões com desenvolvimento tardio e, em alguns casos, com infra-estruturas dignas de Terceiro Mundo.

Retomando o que disse alguns parágrafos acima, os objectivos principais da Regionalização devem ser:

*A diminuição do centralismo de Estado existente;
*Evitar a criação de novos centralismos;
*Promover a coesão nacional, atenuando os contrastes entre as regiões do Norte e do Sul, do Litoral e do Interior;
*Efectuar uma discriminação positiva às regiões menos desenvolvidas, de forma a facilitar a igualdade de oportunidades e a coesão com o restante território nacional;
*Dar efectivos poderes às diferentes regiões, de modo a que o Estado se torne mais próximo das populações, e consiga ser mais eficiente, e responder melhor às necessidades específicas de cada região;
*Extinguir diversos organismos actualmente existentes, com insuficiente autonomia, por um menor número de organismos, mais autónomos e coordenados, num único mapa regional que sirva os interesses do país, aumente a eficiência do Estado e diminua as despesas.

O mapa das 5 regiões não cumpre estes objectivos. É, por isso, uma Regionalização muito deficitária. Em primeiro lugar, ao juntar o litoral e o interior, conduz à criação de novos centralismos à volta das maiores cidades, que reclamarão para si a condução dos destinos das respectivas regiões (Porto no "norte" e Coimbra no "centro", nomeadamente). Por outro lado, vai haver uma balança muito desequilbrada entre o Litoral e o Interior. Trás-os-Montes e a Beira Interior, sem poder reivindicativo dentro do "norte" e do "centro", vão tornar-se meros apêndices do Entre-Douro e Minho e da Beira Litoral. Vai continuar a haver muita desigualdade na distribuição dos recursos. O fosso entre ricos e pobres vai continuar a aumentar. E não venham com histórias, quando dizem que vai haver "solidariedade dentro das regiões". Não sejamos ingénuos. A solidariedade que vai haver dentro das regiões "norte" e "centro" para com Trás-os-Montes e a Beira Interior é a mesma que existe actualmente entre Lisboa e o resto do país. Ou seja, as migalhas para o Interior, e o grosso do dinheiro para ser gasto, primeiro em Lisboa, depois no Porto, depois no resto do Litoral, e só depois no Interior.

Este mapa regional promoverá a atenuação dos contrastes entre o Norte e o Sul do país, mas continuará a deixar que o contraste Litoral-Interior se agrave. A discriminação positiva continuará a ser uma ilusão. E as pessoas do Interior continuarão a estar a centenas de quilómetros do poder efectivo: a igualdade de oportunidades consagrada na Constituição desde 1822 continuará a não existir. Com as 5 regiões, continuarão a ser necessários organismos de associativismo intermunicipal, já que as regiões serão demasiado grandes e populosas para que sejam governáveis apenas com estruturas de nível regional e municipal, e os concelhos do Interior vão ter que se unir cada vez mais para ter, ainda que pouco, algum poder reivindicativo dentro do "norte" e do "centro".

O Interior continuará, com esta Regionalização, a correr os mesmos riscos de morte e de desertificação que corre actualmente. Como será este mapa assim tão consensual? A resposta é simples: não é! Em Trás-os-Montes, Beira Interior e Alto Minho, este mapa tem chumbo garantido. Em Lisboa provavelmente, qualquer que seja o mapa, a Regionalização será chumbada por princípio. Juntos, já são 3/4 dos eleitores contra a Regionalização.

É este o "consenso" que temos. Quem defende as 5 regiões, só pode ser anti-regionalista. Se em 1998 se caiu no erro de não se explicar às pessoas o que era a Regionalização, embora estas concordassem com o mapa (os níveis de "Sim" à 2ª pergunta foram superiores aos níveis de "Sim" da primeira), em 2009, quando os portugueses já perceberam a falta que faz a Regionalização, vamos aplicar-lhes um mapa artificial, insuficiente, e que só serve para algumas regiões, e para criar novos centralismos.

É necessária uma discussão séria, que crie um mapa regional que sirva todos os portugueses. Um mapa que distinga o Litoral do Interior. Que não condene o Interior a ser eternamente um mendigo junto do Litoral, à espera que este lhe dê uns cêntimos. É preciso evitar a morte do Interior. É preciso um mapa moderno: um mapa de 7 Regiões.

Afonso Miguel

Comentários

Sócrates não é nem nunca foi um regionalista, tal como não o era Guterres.
Este mapa das 5 regiões está, em minha opinião, condenado a uma derrota em referendo e só servirá para o país perder mais dez anos, como já perdemos desde o referendo de 1998.
José Leite disse…
Tanta parra e tão pouco uva!...
Anónimo disse…
Este mapa das 5 regiões não serve os interesses do País, pois trata-se de um mapa "cozinhado" por lisboetas e seus lacaios ou servidores, se preferirem. Um mapa que, por exemplo, não respeita a fronteira sul do Norte e que resolveu inventar uma região "centro" e outra de "lisboa e Vale do Tejo". Na realidade o interior de Portugal tem sido sempre, ou quase, esquecido logo prejudicado mas vejamos: que fizeram os sucessivos deputados eleitos por vários partidos,que sendo dessas regiões ou "estrangeiros" a elas, durante todos estes anos em defesa desse interior? Trocaram a sua obrigação e missão por cargos e benesses políticos ou empresariais. Se quiserem nomes de transmontanos e beirões, ministros ou ex e deputados, não faltam, mas e que fizeram eles? Aceitaram o jugo e os interesses centralistas de Lisboa. Quanto ao Porto, não está tão rico como o autor afirma, há muita miséria e desemprego na cidade e arredores, casas a cair por uma política de rendas congeladas e muitas outras causas que não vou abordar agora.
Quanto ao número, limites e autonomia das regiões, para mim trata-se de um problema em que se devem procurar consensos, mas este, das 5 Comissões de Coordenação Regional travestidas em 5 "regiões", nem pensar, por muito que doa a certos políticos que nada fizeram até agora.
Nuno Gomes Lopes disse…
"Trás-os-Montes e a Beira Interior são as regiões mais pobres da Europa". isto mão só não é verdade como não é sério. a albânia e a bielorússia também são europa. ok, talvez afonso miguel se referisse à UE. então, a bulgária e a roménia também pertencem à europa. ok, UE a 25: as zonas mais pobres da polónia e da eslováquia também pertencem à UE a 25. imagina o que será uma região pobre da ucrânia?

ou nem sequer pensou nisto, e apenas lançou poeira ao ar?

e outra coisa, caro afonso miguel: já percebi por estes fóruns que há quem defenda a região do minho, com sede em braga. com que legitimidade é que o afonso miguel defende a regionalização a 7? não se interessa pelos problemas dos mihotos, do tal prometido 'portocentrismo' da região de entre-douro-e-minho que propõe?
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municicpalistas.

Este "post" do Afonso Miguel tem "a parra suficiente e necessária para uma boa uva".
Como somos um país de "serviços mínimos" (quer queiram quer não é uma espécie de greve vingativa), em todas as vertentes da política, por desgraça nossa aparecem os factos históricos a confirmar que se tem optado sempre, com algumas mas poucas excepções à mistura, por decidir actuar com base em soluções facilitadoras em vez de soluções exigentes e modernas(louvor ao Marquês de Pombal que optou, então, pelas soluções mais difíceis e estruturais).
Presentemente, com o problema político da regionalização está a passar-se o mesmo, os responsáveis políticos, como não têm visão de estadista por lhes faltar o "melhor" para lá chegarem, optaram por afirmar a inevitabilidade das 5 regiões administrativas, justificando-a por ser a da mais perfeita dimensão, por já já estar inscrita nos preceitos constitucionais, por ser de mais fácil implementação, por corresponder aos legítimos desejos das forças da sociedade civil (nem se sabe o que isto é), por acabar com o nervosismo miudinho das estruturas partidárias, mas nunca relevaram se os interesses das populações serão legitimamente (realmente) defendidos. Para essa defesa, lá postularam o mecanismo do referendo, o qual tirará todas as dúvidas que possam existir, na altura própria, e tornará o acto, politica e profundammente reformador nos seus objectivos, na confirmação e legitimação plena e formal de algo político que vai deixar tudo na mesma com a mudança de algo que só poder administrativo ou burocrático. Tais regiões administrativas passarão a constituir uma espécie de "governos civis de nova geração" e a funcionar como braços regionais do governo central e cada vez mais jacobino e clientelista em todas as direcções.
Por tudo o que foi escrito, um projecto político de regionalização com tais características não pode ser um projecto político sério nem o apropriado para garantir a eliminação das sempre existentes, continuadas e desastrosas assimetrias de desenvolvimento entre regiões (por mais auto estradas que construam).
As regiões só poderão ser autónomas e deverão ser constituidas com base nas respectivas características geográficas, culturais, antropológicas e idiossincrasias económicas e sociais, onde o legítimo respeito pelas suas populações só poderá ser prioritariamente garantido com novas condições e reais perspectivas de desenvolvimento, sem receio de desobedecer a esta ou àquela espécie da tal "sociedade civil" habitualmente mais beneficiada com o actual regime de governação.
Tal solução só poderá assentar na criação e implementação das 7 Regiões Autónomas, sem ter por detrás os resquícios estatísticos das NUT's, das CU's, das AM's e das CIM's que alguns lhes querem apendiçar, de forma a ser eliminados, para sempre, todos os "nado-mortos" da organização admnistrativa do nosso território continental, para abrir caminho a uma autonomia política responsável virada para o futuro onde as populações de cada Região Autónoma possam fazer o que querem e o que lhes apetece com os seus próprios recursos, dentro da limitação superior e constitucional de prosseguir ALTOS DESÍGNIOS NACIONAIS (soberania, desenvolvimento económico e social, conhecimento e tecnologia e equilíbrio social), os quais implicam a prática da subsidiariedade e da cooperação intra e inter-regionais.
Tudo o resto é "déja vu", com outras roupagens mais próprias de um figurino do "Rosa & Teixeira" que de um projecto político estrutural e estruturante como das 7 Regiões Autónomas, só acessível a políticos estadistas e fora do alcance mental e estratégico (e é pena) dos actuais políticos-de-turno.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Caro G:

Acho de muitíssimo mau gosto que me acuse de "mandar poeira ao ar". Ao contrário dos nossos políticos, eu meço bem as palavras que digo, e sei muito bem daquilo que falo. Porque não falo sobre a Beira Interior ou Trás-os-Montes a partir de um gabinete de um qualquer ministério em Lisboa. Falo destas regiões a partir de Vilar Formoso, por isso sei bem do que falo.

Se fala da Albânia ou da Ucrânia, eu acho sinceramente que, se visitasse esses países de que fala, e visitasse a Beira Interior, ficaria agradavelmente surpreendido com a Albânia, a Polónia ou a Ucrânia, e surpreendido pela negativa com a Beira Interior. Quando imagino esses países imagino um cenário terceiro-mundista, com gente sem emprego, a trabalhar na agricultura, um país sem indústria nem investimento, uma população envelhecida e um país em processo de desertificação, com boa parte da população emigrada no exterior. Tudo isso se confirma, é certo.

Mas quando viajo aqui pela Beira Interior constato que:

*Dezenas de concelhos, e dezenas de milhares de pessoas, estão a mais de 100 kms de um hospital em condições;

*Escolas e centros de saúde têm vindo a ser encerrados nos últimos anos, obrigando milhares de pessoas a enormes deslocações diárias;

*A água canalizada e os esgotos continuam a faltar em muitas aldeias;

*A indústria que existe, ainda é em menor número e mais frágil que na Albânia ou na Ucrânia; a que existe por cá está a fechar e a deslocalizar-se para esses países;

*Deste modo, pouco produzimos e exportamos, e importamos muitíssimo;

*Uma grande parte da nossa população vive na agricultura, uma agricultura antiquada, sem ajudas e pouco produtiva;

*O desemprego está perto dos dois dígitos, com tendência para aumentar;

*1/3 da população da Beira Interior emigrou nas últimas décadas (na Albânia este valor é de apenas 1/5), e cerca de 3/4 saiu dos seus concelhos de origem, para dentro e fora da região.

*Somos uma das regiões mais envelhecidas da Europa (bem mais do que as mais pobres da Albânia ou da Polónia);

*A Beira Interior é das poucas regiões da Europa em risco de desertificação, e é sem dúvida aquela em que este processo está mais avançado (a maioria dos concelhos pode ficar com população zero já nas próximas décadas);

Como vê, não lancei nem lanço poeira ao ar. Apenas constato factos. Factos que os nossos políticos teimam em esconder.

Quanto à região do Minho. Em primeiro lugar, acho que comparar o Minho com Trás-os-Montes é uma estupidez. A única coisa que Braga e Bragança têm em comum são as primeiras letras do topónimo. O Minho pode estar perfeitamente integrado numa região com o Porto, ao contrário de Trás-os-Montes, pelas seguintes razões:

*O Minho e o Douro Litoral pouco se distinguem. São regiões homogéneas, com o mesmo tipo de factores, de problemas e de necessidades, e numa situação semelhante em termos económicos, demográficos e sociais. Separar o Minho do Douro Litoral é como separar Trás-os-Montes do Alto Douro. Não faz sentido, nem é necessário;

*50% da população de Entre-Douro e Minho viveria fora do Porto. Ou seja, haveria um equilíbrio de influência dentro desta região, e não se criaria necessariamente um Portocentrismo, já que o peso que têm as populações do Alto e Baixo Minho, do Vale do Sousa, do Baixo Tâmega, das Terras de Basto e de Entre-Douro e Vouga, não deixaria que se criasse tal centralismo;

*Para além do Porto, existem no Entre-Douro e Minho cidades muito fortes e influentes, nomeadamente Braga, Guimarães e Viana do Castelo, entre outras, que ocupam um lugar de destaque na região, e impedem que esse centralismo se forme;

*Por outro lado, a proposta das 7 regiões não prevê capitais ou sedes regionais. Assenta sim, na distribuição dos diversos serviços regionais por diferentes concelhos (nunca nenhum concelho poderia ter mais que 1 serviço regional aí sediado), tendo o cuidado de nunca levar a sede do Governo ou Junta Regional para a maior cidade (neste caso, o Porto), mas para aquela com mais passado histórico ou mais central (neste caso, Braga ou Guimarães).

*Os distritos de Braga e Viana do Castelo são de tal maneira dinâmicos e importantes em termos económicos que assumiriam um papel fulcral na região de Entre-Douro e Minho, nunca deixando que se criasse um "portocentrismo".

Já no caso de Trás-os-Montes:

*Trás-os-Montes e Entre-Douro e Minho são regiões tão diferentes que chegam a ser antagónicas, a todos os níveis. Trás-os-Montes está a perder população galopantemente, Entre-Douro e Minho está em crescimento demográfico acelerado; Trás-os-Montes tem um tecido empresarial frágil, Entre-Douro e Minho tem um tecido empresarial fortíssimo e múltiplos clusters; em Trás-os-Montes fecham-se infra-estruturas, em Entre-Douro e Minho abrem-se, etc., etc., etc.;

*Apenas 11% da população da "região norte" vive em Trás-os-Montes e Alto Douro. Desta forma, não haveria, para lá do Marão, poder reivindicativo dentro de uma "região norte" para reclamar medidas que potenciassem o desenvolvimento da região transmontana. As maiores cidades (Bragança, Vila Real, Chaves, Mirandela ou Lamego) não passam dos 35 000 habitantes. É impossível vê-las a competir e a ter voz perante cidades como o Porto, Braga, Guimarães ou Viana do Castelo, dentro da mesma região. A balança iria sempre pender para o lado do Litoral;

*A proposta das 5 regiões é elaborada por mentes altamente centralizadoras, que se apressarão a convocar todos os serviços regionais para uma capital regional do "norte", ou seja, para o Porto;

*A região de Trás-os-Montes e Alto Douro está em acelerado processo de desertificação, e numa crise económica e de investimento crónica, desde há várias décadas, pelo que não teria voz perante uma região de Entre-Douro e Minho que atingiu hoje níveis de desenvolvimento bastante elevados.

Por isso a proposta das 7 regiões é indispensável. É uma proposta moderna, e com futuro, mas com base nas tradições portuguesas: só falta a coragem política para a implementar.
Nuno Gomes Lopes disse…
caro afonso miguel: obrigado pelo tempo que perdeu a responder-me e - permita-me discordar.

apenas um apontamento. quando se falou na 'reorganização dos serviços de saúde' - e não no 'fecho de hospitais', como se propalou, houve sítios a abrir e outros a fechar. as urgências de foz côa, por exemplo, reabriram. nos dois anos e meio que passei em foz côa, não havia urgência, apenas na guarda e em bragança. por isso, digo-lhe apenas isto: quando queremos ser fatalistas, a realidade pouco importa. ou não?

um abraço a todos
Não, caro G, não. Eu não sou fatalista. Sei das potencialidades da minha Beira Interior e sei como ela está agora.

Ou vai-me agora dizer que é a mesma coisa viver no Litoral e viver no Interior?

Ou vai-me negar qualquer uma das situações de que falei acima, que se passam no Interior? Ou vai negar que a grande maioria dos serviços educativos de saúde que abriram nos últimos anos estão no Litoral, e a grande maioria dos que fecharam estão no Interior?

Ou vai-me agora dizer que o Interior é um mar de rosas?

A realidade é esta: se ninguém quiser fazer nada, o Interior vai afundar-se, e chegar a um ponto sem retorno.

Por isso, digo-lhe apenas isto: se queremos ser conformistas e borra-botas, a realidade pouco importa.

Cumprimentos,
Afonso Miguel
Nuno Gomes Lopes disse…
bom. imagino que esses insultos não eram dirigidos a mim. não sei o que é um borra-botas, e se fosse conformista não comentava em páginas como esta. passar bem
Pois, imagino também que fatalista não é algo que possa chamar-me. É que não sou nem parecido. Agora quem me chama de fatalista quando digo que na Beira Interior se vive mal, das duas uma, ou não conhece a realidade, ou é conformista. E mais não digo. Apresentem-se propostas, e não se discorde apenas porque sim.
Nuno Gomes Lopes disse…
caro afonso miguel: eu moro no litoral. curiosamente, na região com mais desemprego do país (norte) e dentro desta, na subregião com mais desemprego (vale do ave). mas se não quiser falar da realidade, bem, enfim, falamos de outra coisa. de futebol, talvez?
Nuno Gomes Lopes disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno Gomes Lopes disse…
o que disse foi que o afonso miguel não estava a ser sério quando disse que a beira interior e trás-os-montes eram as regiões mais pobres da europa. isso é uma mentira. não é por ter escrito uma resposta compridíssima que se redime de ter escrito uma mentira. mentira que critica aos políticos, mas desculpa em si?
Caro G:

Já vi que se lembrou de embezerrar (sim, é mesmo este o termo, embezerrar) comigo. Já escrevi um texto compridíssimo, como disse, onde lhe expliquei palavra por palavra porque é que a Beira Interior e Trás-os-Montes são as regiões mais pobres da Europa.

Mas o caríssimo amigo não percebe. Ou melhor, não quer perceber. Só se preocupa com a sua regiãozinha e mais nada. Só se preocupa em olhar para o seu umbigo e para os interesses do seu concelho e dos concelhos vizinhos. Sabe o que é que se chama isso? É o egoísmo. É o mal de que tem sofrido o nosso país, o egoísmo de Lisboa que tem ficado com tudo para si e entregado as migalhas aos outros. É o egoísmo que está a alastrar à nova sociedade portuense, que está a perder o melhor que há no Porto para ficar cada vez mais parecida com Lisboa.

Primeiro, quem diz que eu não estou a ser sério não pode ter telhados de vidro. Se realmente o que diz na sua ficha de blogger, que vive na Póvoa do Varzim, não vive no Vale do Ave. Vive, sim, na Área Metropolitana do Porto, o que é bem diferente.

Em segundo, não pense que está a contar-me uma novidade ao falar no Vale do Ave. Eu, para além de ser de Vilar Formoso, na Beira Interior, sou originário de Paços de Ferreira, um concelho que se divide entre a realidade do Vale do Sousa do mobiliário e do Vale do Ave dos têxteis. Sei bem o que isso é, do que me fala.

E mantenho o que disse. A Beira Interior está bem pior que o Vale do Ave. Os problemas que o Vale do Ave enfrenta agora, já a Beira Interior os enfrenta há décadas. O que aconteceu? Houve a emigração. Perdemos a maioria da nossa população, ficamos uma região envelhecida, despovoada, sem indústria. As indústrias que ficaram desenvolveram-se um pouco, mas a região é pobre. Uma pobreza escondida. Uma pobreza que não vem na televisão, porque esta, se não está em Lisboa, está no Porto, no Minho ou no Litoral.

Sabe qual é a diferença entre o Vale do Ave e a Beira Interior? É que o Vale do Ave ainda tem gente. Ainda está numa fase embrionária da crise. Quando esta atingir o seu auge, vai atingir-se o auge da emigração. Só que o Vale do Ave está perto do Porto, o que torna a sua situação sempre melhor do que a da Beira Interior. E se o "norte" é a região com mais desemprego do país, não é por causa da Área Metropolitana do Porto, nem de Braga nem de Viana do Castelo. É, sim, por causa dos Vales do Sousa, do Ave, do Tâmega, das Terras de Basto e de Trás-os-Montes.

A Beira Interior é, sem dúvida, uma das regiões mais despovoadas da Europa, uma das regiões com mais desemprego do país, e aquela em que o poder de compra é menor.

Eu conheço o Vale do Sousa, o Vale do Tâmega e o Vale do Ave. E conheço a Beira Interior e Trás-os-Montes. E digo-lhe: se me quer convencer a mim ou a alguém que o Vale do Ave, lá porque tem vivido uma crise industrial nos últimos 10 anos, está pior do que a Beira Interior, que está em crise há quase 50 anos, não vai conseguir.

Deve andar com os olhos tapados, de certeza. Se considerar isto um insulto, pense naquilo que tem escrito acima. É que nem merece resposta. Seja sério, por favor. Apresente propostas e não olhe só para a sua região. Com pessoas como o senhor, Portugal anda como o caranguejo, para o lado, não sai do sítio.
Nuno Gomes Lopes disse…
tanto a póvoa de varzim como vila do conde pertencem à associação de municípios do vale do ave. caso não saiba, a foz do ave é em vila do conde.

a população da associação de municípios do vale do ave é de 687000 pessoas, sensivelemente 19% da população do norte. se 19% da população de uma região tem o dobro da média do desemprego a nível nacional, isso quer dizer o quê? desenvolvimento?

parece-me que a discussão está a descambar. se eu apresento números e factos, o afonso miguel acusa-me de "embezerrar". vamos ficar-nos pelo essencial - eu apoio a proposta de 5 regiões, o afonso a de 7. ou seja, somos ambos contra o centralismo, com maneiras diferentes de o ser.

ou o afonso miguel está nos fóruns da internet para antagonizar todas as pessoas que não defendem exatamente o mesmo que defende o afonso? se quiser ser razoável, não me importo de continuar a discussão. tenho a noção que a beira interior é bastante específica e tem problemas muito graves, que o afonso diz que não serão resolvidos com uma regionalização a 5. tudo bem. mas isso não invalida a nossa luta comum - contra o centralismo, pela regionalização. isto não é um campeonato entre regiões - é congregação de esforços contra o centralismo.

cumprimentos para o afonso e para os demais regionalistas
Nuno Gomes Lopes disse…
hum. e, por favor. eu moro na "póvoa de varzim", não "póvoa do varzim"
Fenomenal... Ficámos a saber que viver na Póvoa de Varzim é horrível, bem pior do que viver em Oleiros, Mação ou Mêda...

Ficámos a saber que, coitadinhos dos poveiros, vivem muitíssimo mal e precisam muito de ajuda, porque a terra deles está a morrer...

Ficámos a saber que a Póvoa é uma região onde se vive tão mal, tão mal, tão mal, que até existe lá um casino e até é uma das estâncias de férias mais exclusivas da zona do Porto.

Isto, meu amigo, é gozar com toda a gente que, todos os dias, paga um preço bastante alto por viver em Trás-os-Montes e na Beira Interior.

Pede-me para ser razoável mas fala-me como se eu fosse um burro: pensa que eu não sei que a foz do Ave é em Vila do Conde, que eu digo mentiras, que não sei do que falo, que não me apoio em dados, que eu devia estar a falar de futebol, que eu sou fatalista, que estou a leste da realidade, que não tenho legitimidade para falar, que não sei escrever, etc., etc. Ó meu amigo, a quem tem telhados de vidro e vem para aqui armar-se em esperto, eu nem me devia dar ao trabalho de responder.

Acusa-me de estar a fazer um campeonato entre regiões, mas quem o começou foi o senhor quando disse "eu moro na região com mais desemprego do país (norte) e dentro desta, na subregião com mais desemprego (vale do ave)".

E mais: ainda não o vi apresentar um único argumento válido a favor das 5 regiões. Apenas o vi atacar e desviar a conversa. Como se estivesse acima de tudo e de todos.

Já lhe disse isto muitas vezes: apresente propostas, não se limite a dizer mal apenas porque sim.

E, se continuar a escrever o que tem escrito, nem sequer vai merecer mais respostas minhas. Não vou perder tempo com pessoas que apenas sabem criar discussões estúpidas para desviar a discussão do essencial.

Já se percebeu que para si, as 5 regiões são o mapa perfeito, Sócrates é o melhor primeiro-ministro de que há memória, e até já lhe ganhou os tiques: não se fecharam hospitais nem escolas, apenas se "reorganizou".

Bonito. Com gente desta Portugal vai longe.
Nuno Gomes Lopes disse…
bom. começou no insulto, continua pela demagogia.

mais uma vez, o afonso miguel mentiu dizendo que a póvoa não pertencia ao vale do ave, e quando eu lhe relembrei disto, inventou outra coisa qualquer. mais uma vez, não estou aqui para fazer campeonato entre regiões - apenas lhe relembrei que nem tudo no litoral são rosas, ao contrário do que quis fazer crer no seu artigo.

e que acho uma demagogia tremenda só falar no fecho de hospitais, quando há uns que abrem e outros que fecham (e lemrbro-lhe que o hospital de vila do conde perdeu as urgências, e que esse e o hospital da póvoa irão fechar quando abrir um novo hospital comum).

e porque é que me colou ao sócrates? já não tem mais nada para me enxovalhar? o nível está a piorar de comentário em comentário, não acha?

vou deixar de subscrever os comentários deste post. afonso miguel, ligo-lhe apenas uma vez: defendo o mapa das 5 regiões porque me parece o menos mau. menos regiões não tem sentido, assim como mais subdivisões. se isto não lhe chega como justificação, bem, amanhe-se como puder.

abraço a todos
Pelos diferentes comentários a este post, aqui trocados, o que é, mais saliente, é a falta de consenso relativamente ao mapa das regiões.

Este é um problema insolúvel. Cada cabeça ... a sua sentença e, se persistirmos nesta via, não vamos chegar a lado nenhum.

Imaginem agora, o comum dos portugueses, quando for chamado a pronunciar-se, em referendo, sobre estas matérias. O que fará?

Certamente não irá comparecer, ou, se o fizer, vota "Não", porque a confusão vai ser tanta que ele preferirá deixar tudo como está.

Cumprimentos,
Anónimo disse…
Caro Afonso Miguel,

Como sabe, já tirocinei neste blogue na parte relativa às respostas a alguém que trata o acessório como essencial, privilegia o argumentário pessoal e egoista em detrimento do argumentário objectivo, interessa-se pela distribuição das "verbas" ("uma moeda para ti, dez para mim" é como se distribui no nosso País) sem saber se a produção é toda importada e tudo o resto para aí gizado só para contrariar o projecto da regionalização.
Já aqui escrevi que não "vale a pena gastar cera com fraco defunto" e volto a reafirmá-lo, com todo o respeito pessoal que as pessoas merecem, mas que revelam impreparação (ou falsa fé) no argumentário sobre a regionalização.
Lamento reafirmá-lo mais uma vez mas o que se constata, infelizmente.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Caro anónimo pró-7RA:

Tirou-me as palavras da boca. Não vale a pena responder a quem insulta o Interior desta maneira. Vem-me comparar o fecho das urgências em Vila do Conde, quando a 2 kms existe o hospital da Póvoa, com o fecho das urgências de Trancoso ou de Pinhel, que obrigam as pessoas a viajarem 1 hora pelo meio da serra para chegar à Guarda ou a Foz Côa... É um insulto aos milhares de pessoas que têm que percorrer quilómetros e quilómetros para chegar a um hospital ou a uma escola...

Enfim, mais vale não queimar mais cera com fraco defunto.