Fio de Béque

Longe da Pátria, voluntariamente exilado desde o princípio do ano - por quatro ou cinco semanas - neste calor tropical, chegou-me uma mensagem via internet, requisitando com urgência o modesto artigo que me comprometi a escrever.

Óh diabo! Agora é que são elas! Como vou conseguir ter alguma ideia que se aproveite com este sol a torrar-me a cuca e as caipirinhas a embotarem-me o que resta de cérebro?

Bem, vou ter que me desenrascar, pensei eu, nem que escreva às prestações e vai daí resolvi dizer alguma coisa «à vol d’oiseau» sobre um assunto que de alguma forma me preocupa um pouco.

Existe um tema acerca do qual se irá falar nos tempos mais próximos - não obstante a já célebre e sempre presente crise económica - que é a possível Regionalização do País.
No caso vertente, o que nos interessa é, sobretudo, a alteração do estatuto do Algarve de província para Região Administrativa, constituindo para determinadas matérias uma unidade política autónoma, se bem que integrada no conjunto do país.

Existem várias forças políticas que ao longo dos anos se têm manifestado pela concretização desse desejo ou aspiração dos Algarvios, mas confesso que, apesar de me inclinar para um apoio efectivo à implementação de uma experiência regionalista no nosso Algarve, as dúvidas que tenho são muitas e as certezas quase nenhumas. Penso que o mesmo acontecerá com muita gente pois, para além dos principais interessados, o tema não tem despertado grandes paixões ou apoios alargados.

É de alguma urgência que o debate sobre a Regionalização saia do aconchego dos gabinetes e chegue à rua. É um tema que, pela importância e influência que poderá ter nas nossas vidas, deve ser discutido à mesa dos cafés, nas bancas das feiras, nos corredores dos shoppings e, sobretudo, pelo cidadão comum. Só assim poderá motivar as pessoas a um empenhamento emocional, que será condição essencial, quer para a sua implementação, quer para o seu sucesso.

Precisamos, com alguma prioridade, saber quais os aspectos positivos que a Regionalização nos poderá trazer e também quais os negativos, de forma a que possamos trabalhar e estar empenhados, quer na maximização dos primeiros, quer no combate e eliminação dos segundos.

Irá a Regionalização servir para criar orgãos administrativos dotados de capacidade política e económica que possam decidir quais os investimentos públicos necessários a um desenvolvimento sustentável e integrado?

Conseguirão esses orgãos sobrepôr-se aos interesses legítimos mas individualistas de todos os municípios existentes?

Será a actual classe política do Algarve capaz de criar plataformas de entendimento comum, não obstante as suas diversas origens partidárias? E conseguirão, inclusivamente, pôr-se de acordo num conjunto de perguntas/respostas que efectivamente esclareçam os eleitores e que os mobilizem para um apoio efectivo e afetivo a essa mesma Regionalização?

Penso que um dos grandes «medos» que o cidadão comum tem acerca desta matéria é o receio de que, afinal, a Regionalização só sirva para criar cargos político/administrativos que afaguem o ego dos principais dirigentes políticos, para estabelecer sinecuras, para acentuar divergências, luta por protagonismos e divisões, sobretudo num tempo em que a união pode já não fazer a força, mas concerteza ainda faz a diferença.

É necessário, pois, que as pessoas saibam como poderá o Algarve - zona de acentuada monocultura - e os Algarvios de todas as origens e estratos sociais beneficiar com a Regionalização?

Apesar de termos tido ao longo das últimas décadas uma performance económica sempre em crescendo, não é nossa a capacidade de influenciar algumas vertentes dessa mesma economia, o que inúmeros prejuízos já nos causou, nomeadamente no que às infra-estruturas e equipamentos de apoio diz respeito.

Senão vejamos: numa altura em que, por via da situação económica e anímica em que a Europa se encontra, deveríamos reforçar a promoção e marketing de toda a Região, encontram-se os mesmos quase estagnados e à espera do que aí vier.

Enfim, talvez a Regionalização seja o sopro de vida de que necessitamos, conquanto as imensas respostas às dúvidas existentes consigam ser esclarecidas pela classe política e aceites pelas gentes algarvias e porque, afinal de contas, é um pouco feio ter medo do futuro ?

in Algarve Mais de Janeiro de 2009

Comentários

Luis Melo disse…
Caros amigos,

Atribuí um dos meus Prémio "Dardos" ao vosso blogue. Continuem assim, bom trabalho.
Anónimo disse…
O Sr. Barão tem toda a razão. A regionalização tem vindo a ser discutida em círculos bastante restritos. É preciso alargar a discussão. O Problema é que a maioria da nossa população entende que esta é uma matéria bastante complexa e é por essa razão que um referendo a esta temática está condenado ao fracasso por falta de comparência.

Rui Silva
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Unidade política autónoma para decidir politicamente certas matérias, com base na regionalização administrativa, encerra em si um desequilíbrio entre os objectivos a atingir e os meios políticos e orgânicos necessários para os atingir.
As interrogações serão sempre pertinentes, mas a versão de regionalização mais adequada será sempre a das 7 Regiões Autónomas com novos protagonistas políticos.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Caro senhor Barão,
A República e o ex-Reino do Algarve, merecem o que há de melhor, em termos de organização territorial.
E o que há de melhor é mesmo a regionalização.
Melhor dizendo, a regionalização q. b.
Porque qq outra, pode ser uma espécie de Primeira República 1910/26, pode repetir o Salazarismo, pode ser tipo PREC, ou qq coisa pior.
Portanto, regionalizar, sim, mas com a cabeça fria e os pés bem assentes na terra.
E depois amigo Barão, parafraseando a Odete, ..."o Algarve ainda há-de ser nosso"...