Sobre a Regionalização


por, Samuel de Paiva Pires

(...)

Após ter reclamado a recuperação da instituição monárquica decidi reflectir sobre um outro tipo de projecto político, confesso, não sem alguma inquietação perpassando a minha mente, como poderão perceber.

Erroneamente, de uma forma um pouco subconsciente, costumava pensar que um sistema federal apenas seria viável em países constituídos por um imenso território, como é o caso dos Estados Unidos da América ou do Brasil. Isto porque nunca antes debrucei o meu pensamento sobre o sistema federal, talvez devido a uma habitual centralização sobre o redutor sistema político português.

O critério do território certamente não é passível de sustentação de um projecto político de federação, de que é exemplo a Confederação Helvética que, politologicamente é uma federação.

Através de um projecto de federação para Portugal seria necessário criar estados autónomos com um governo e parlamento com esferas de poder e competência específicas, efectivamente descentralizando o Estado, algo de que alguns vão timidamente falando, apesar do silêncio que permanece sobre o assunto da descentralização desde que se mandou a Secretaria de Estado da Agricultura para a Golegã, o que constituiu apenas um movimento de deslocalização, fracassado por razões óbvias.

A nível do governo central, seria necessário criar uma segunda câmara no parlamento, voltando a utilizar-se a Sala do Senado (onde figura uma bonita tela de D. Luís), o que implicaria uma revisão constitucional que especificasse as atribuições e competências da Câmara dos Deputados e da Câmara dos Senadores (representantes dos estados federados, em número igual por estado), tornando o sistema bastante semelhante ao sistema norte-americano.

Assim se criaria um contra-poder que, se não acabaria, pelo menos atenuaria a ditadura da maioria vigente nas legislaturas mais recentes, decorrente das maiorias absolutas que os líderes partidários têm o displante de pedir em período de campanha eleitoral, o que faz com que os cidadãos se conformem com a realidade de a democracia portuguesa ser de facto uma oligarquia de interesses egoístas e personalidades que não se preocupam com os verdadeiros desígnios da Nação e do Estado.

Desta forma se alcançaria um Estado descentralizado através do que Tocqueville ensina, conferindo "uma vida política a cada porção de território, a fim de multiplicar até ao infinito as oportunidades de os cidadãos agirem em conjunto e lhes fazer sentir diariamente que dependem uns dos outros", o que diminuiria a típica assimetria entre o Portugal rural e urbano.

Com este projecto se recuperaria o conceito dos corpos intermédios que diminuem a perigosidade do Estado para a liberdade do homem e do cidadão, acautelando e aconselhando o poder vigente.

Acabar-se-ia finalmente com os Governos Civis, que têm apenas atribuições como emitir Passaportes (pelo menos o de Lisboa) e perdoar multas de trânsito, entre outras que não representam uma considerável regulação da vida social, e através deste sistema talvez o desenvolvimento económico e social do país pudesse levar-nos a um lugar mais elevado nos índices da União Europeia e da OCDE, em vez de continuarmos a disputar um “honroso” último lugar com a Grécia (na UE a 15).

Pergunto-me no entanto qual a viabilidade deste projecto e o que poderá representar, já que poderá assustar os interesses vigentes, porque os ameaça, porque é uma revolução do Estado feita pelo Estado dentro do Estado, em que não se muda de regime, mas de forma mais importante, se muda de sistema.
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Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

O problema é que os ensinamentos de Monsieur de Tocqueville nunca tiveram no nosso País uma receptividade na parte sens~´ivel de vivência em sociedade em que determinando a funcionalidade e a necessidade de "uma vida política a cada porção de território, a fim de multiplicar até ao infinito as oportunidades de os cidadãos agirem em CONJUNTO E LHES FAZER SENTIR DIARIAMENTE QUE DEPENDEM UNS DOS OUTROS".
Tudo isto, apesar de provir de uma das importantes e influentes personalidades políticas e culturais francesas, fonte cultural privilegiada das elites portuguesas de há dezenas de anos a esta parte.
Pelos vistos, sem resukltados palpáveis em termos de desenvolvimento e da sua estrutura organizativa.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Anónimo disse…
Escrevi um post em 2008 em que propunha, para acabar com o nefasto centralismo lisboeta e a discriminação exercida sobre o resto do País, a hipótese de Portugal se tornar num estado federal, com regiões política e administrativamente autónomas, bem como os seus órgãos governativos e representativos. Seria ainda uma forma patriótica de manter a unidade nacional, porque se tudo continuar como até agora, é natural que surjam movimentos independentistas para libertar, por exemplo, o Norte (não, não acaba no Rio Douro ou pouco mais abaixo como querem os lisboetas e certos conimbricences e outros "compagnons de route". Depois será um Ai - Jesus, contra esses, mas os responsáveis são os actuais e anteriores políticos, principalmente do PS e do PSD, que com a sua política centralista, discriminatória e corrupta acabarão por provocar essa reacção. Depois, será tarde para os seus lamentos hipócritas e dos que os têm apoiado.
Sendo assim, em muitos aspectos, concordo com as afirmações do autor, mas se estivermos à espera que os centralistas mudem de ideias nunca mais isto mudará. Temos de ser nós, os cidadãos, a fazê-lo, custe o que custar e deixar de votar em aldrabões nas próximas eleições, criando um movimento, partido ou o que tiver de ser, diferente dos actuais e acabando com o voto útil. Se eu resolver ir almoçar a um restaurante e não gostar dos pratos que me são propostos, levanto-me e venho-me embora, não como lá o que não quero.
Pensem nisto!
Cumprimentos