Mais números negros para a Região Norte

Jovens da Região Norte deixam escola mais cedo

Assimetrias regionais nos níveis de escolarização são um dos problemas que dificultam a introdução da obrigatoriedade de frequentar a escola até aos 18 anos. No Norte, regista-se a menor taxa de frequência da escola e, em Lisboa, a mais alta.

Os números referem-se ao ano lectivo de 2007/08, foram divulgados, ontem, pelo Ministério da Educação e revelam que a escolarização, na faixa etária entre os 16 e os 18 anos, atinge os 80,8% no continente, mas mostram também que é no Norte que os jovens saem do sistema educativo mais cedo. Nesta região, a taxa situa-se nos 74,2% enquanto em Lisboa está nos 89%. A situação agrava- -se se analisarmos apenas o grupo dos jovens com 18 anos. Só 56% frequentam a escola na Região Norte, enquanto em Lisboa, a taxa é de 82,6%.

Os dados revelados são factores que obrigarão à adopção de políticas flexíveis e diferenciadas, em termos regionais, para aplicar a obrigatoriedade de doze anos de ensino e dos 18 anos de idade. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues admitiu isso mesmo, no início de uma conferência de peritos sobre o alargamento da escolaridade obrigatória, realizada ontem em Lisboa, e na qual estiveram ainda presentes o primeiro-ministro, José Sócrates, e o ministro do Trabalho e da Segurança Social, Vieira da Silva (ler caixa).

"Estamos conscientes de que para muitos jovens, em particular na Região Norte, o trabalho é a alternativa à escola e é isso que queremos inverter com o alargamento da escolaridade acompanhado de mais apoios sociais", acentuou a ministra. Confrontada com as disparidades regionais por Braga da Cruz (ex-ministro da Economia) revelou confiança de que "dentro de três anos" as taxas de escolaridade aos 18 anos atinjam o pleno.

(...)

|JN|

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Tive oportunidade de ler o conteúdo deste excelente texto sobre o abandono escolar dos jovens residentes no Norte do País, no "Jornal de Notícias". Na verdade, as características socio-económicas da região norte, à qual pertenço desde que nasci, quase que obrigam a encarar o trabalho adolescente (o infantil parece estar definitivamente erradicado) não como uma alternativa à escola mas como uma necessidade decorrente das condições indigentes e objectivas de produção de muitas das empresas que aqui têm a sua actividade e incapazes de proporcionarem remunerações aos progenitores bem acima do salário mínimo e aptas a sustentar uma família numericamente média: casal e 2 filhos.
Quando as condições de crise declarada e sentida se intensificam é muito difícil às famílias conjugarem a educação escolar (básica e secundária) dos seus filhos com o drama vivido das carências materiais por insuficiência de rendimento, carências tantas vezes sentidas e com dificuldade aliviadas, mesmo quando não são "vísiveis" esses efeitos dramáticos de crise também causada por uma estrutura produtiva secular que teima em estar permanente e insuficientemente equipada e modernizada para responder aos desafios da concorrência interna e externa.
No entanto, tal não é ainda suficiente para explicar a totalidade do abandono escolar noticiado, uma vez que noutras regiões do País tal não se verifica com tamanha intensidade, provavelmente por os rendimentos se situarem, injustificadamente, num patamar superior aos verificados no norte, mas também por uma notória diferença de mentalidade entre quem é natural do norte e quem é natural do sul, aqui mais sensíveis à fruição de abertura das mentes ao mundo, à formação e à cultura por razões que também têm a ver com o cosmopolitismo.
De qualquer modo, a situação poderá alterar-se com a obrigatoriedade da frequência escolar até ao 12º. ano, mas terá de alterar-se a política salarial no nosso País, com as empresas a abandonar os critérios ancestrais e velhações de remuneração do trabalho pelos "serviços mínimos" (logo, salário mínimo) e começarem a enveredar por políticas salariais com base na exigência e no mérito, sem o Governo continuar a "assobiar para o lado".

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Fronteiras disse…
A questão da escolarização em Portugal não pode ser tratada com leviandade. É uma questão muito séria.

Para começar, em Portugal temos muita falta de pessoas formadas. Não serve aquilo de antigamente de deixar a escola e arranjar um emprego onde, aos poucos, a pessoa era promovida, com mais responsabilidades e, é claro, com mais rendimentos. Ou entrar naquela fábrica ou empresa da localidade onde estavam empregados pais, tios, irmãos, primos e a vizinhança toda. Esse modelo faliu, está ultrapassado.

Uma das questões que se colocam agora, no contexto da globalização, é a formação das pessoas. O modelo económico baseado na fabricação de produtos com baixos salários acabou. Existem países do Terceiro Mundo que podem fazer isso com a mesma ou maior eficiência. Mas isso não foi interiorizado pela maioria dos portugueses. Vejo-o quando falo com muitas pessoas, que acreditam que estudar ou não serve para nada (os "doutores" também têm problemas de desemprego, dizem) ou que fica fora das suas possibilidades.

A União Europeia tem como objectivo a Agenda de Lisboa, que pretende que um 80% das pessoas na faixa etária entre os 18 e os 24 anos tenha a secundária superior, isto é, o equivalente ao nosso 12º ano, para 2010. Portugal tinha em 2007 apenas um pobre 51%, ficando no fundo da tabela junto da Malta e Espanha, se bem tem-se verificado um aumento constante nos últimos anos. É claro que não vamos atingir, nem de longe, esses níveis. Mas não podemos ficar de fora.

Já a questão das assimetrias regionais pode ter muito a ver com a estrutura económica da região. Os lugares onde há um elevado desenvolvimento do turismo, por exemplo, apresentam taxas de desistências maiores. No caso do Norte de Portugal, a crise do sistema económico pode ter, eventualmente, levado aos jovens a sair do sistema educativo para procurar emprego porque lá na sua casa não havia os rendimentos suficientes. Ou porque tradicionalmente existiam oportunidades de emprego nas empresas tradicionais. Em Lisboa também há maiores oportunidades de emprego, está certo, mas como se tem concentrado todo o poder lá, os quadros melhor formados também tendem a se concentrar em Lisboa, pelo que a educação converte-se em uma boa forma de progredir na escala social, favorecendo a formação de contactos e a troca de informação. E já se sabe: informação é poder.

O alargamento da escolaridade obrigatória até o 12º ano é uma medida que deve ser muito ponderada. Para já, implicaria a mudança da lei laboral, porque não seria lógico poder trabalhar aos 16 anos mas ter de continuar na escola até os 18. Só com uma mudança para os 18 é que os miúdos ficariam impossibilitados de sentir a tentação de desistir para trabalhar.

Outra questão são as próprias desistências. Se estas já são muito elevadas agora, como é que se pretende acabar com elas? Isso só seria possível se a educação permitisse a escolha de itinerários educativos por parte dos alunos a partir de uma certa idade, sendo que alguns seriam orientados para uma educação mais profissional e outros para uma educação mais formal, na linha de continuar logo na universidade.

Isso apresenta vários problemas. O primeiro é que nem todas as localidades poderiam ter os cursos profissionais adequados. Quem determina esses cursos? Lisboa? Ou uma Comissão Regional competente, à base de um estudo exaustivo sobre as necessidades profissionais e económicas do território? Imaginemos que um aluno quisesse estudar Fotografia e na sua localidade não têm esse tipo de especialização e tem de ir à cidade X para poder frequentar esse curso. Quem paga as despesas? O Estado? Ou sai do bolso dos pais? Mais ainda, terá de esperar a concluir o 12º ano que, lembremos, é obrigatório, e depois frequentar um curso pago com o seu dinheiro? É claro que não é questão de implementar todos os cursos e matérias em todo lado, mas também não se podem limitar as possibilidades das pessoas em razão da sua procedência mais ainda do que estão.

Acho que com a implementação da escolaridade obrigatória até ao 12º ano corre-se com o risco de desvalorizar ainda mais o sistema educativo, fazendo com que o nível do novo 12º ano seja, na prática, o antigo 9º ano e não seja mais do que uma táctica para apresentar bons números (fictícios, é claro), mas sem nenhum valor real.

O alargamento da escolaridade obrigatória só pode ter sucesso se se derem três condições básicas:

1-Um aumento do orçamento, com a extensão das bolsas para facilitar a mobilidade dos alunos.

2-A implementação de verdadeiros itinerários educativos que visem uma boa formação profissional e/ou formal dos alunos.

3-A concretização de um programa educativo real, baseado na realidade regional e na própria estrutura económica do território para fornecer aos alunos a possibilidade de formação em cursos com verdadeiras saídas profissionais na região à que pertencem, de modo a diminuir os fluxos migratórios por falta de oportunidades ou falta de formação adequada às necessidades da região.

É no ponto três, para finalizar, onde entra em jogo a regionalização. Se as regiões estivessem implementadas, essas regiões poderiam adaptar o sistema educativo às necessidades próprias da região, de acordo com a sua própria estrutura económica e facilitando a interacção entre escola e empresa.

A crise estrutural que está a passar Portugal só pode ser ultrapassada com uma mudança de modelo económico para um onde os conhecimentos técnicos tenham muita mais importância e tenham o reconhecimento, em termos de salários adequados. Se não, corremos o risco de formar pessoas que vão emigrar fora do país porque cá não têm o reconhecimento profissional adequado. É claro que se, numa cidade britânica, francesa ou alemã qualquer se vai ganhar três vezes mais, nem se pensa. E afinal os recursos gastos em Educação não vão ter os resultados apetecidos porque o pior que pode fazer um país é exportar mão de obra formada.

Vamos lá ver o que acontece!