Património Ferroviário do Douro

O economista Miguel Cadilhe acusou este sábado o Governo "centralista" de condenar o património ferroviário do Douro a "uma morte lenta".

A convite da Liga dos Amigos do Douro Património Mundial (LADPM), Miguel Cadilhe moderou este sábado um colóquio sobre "O Património Ferroviário do Douro", onde, para além da linha do Douro, se incluem os seus ramais de via estreita como o Tua, o Corgo e o Tâmega, actualmente todas com a circulação suspensa.

O economista foi duro nas críticas ao Governo, que acusou de ser "centralista" e de condenar este património a uma "morte lenta".

É que, com a construção da barragem de Foz Tua, a linha de ferro que sobe ao longo do rio até Mirandela ficará parcialmente submersa.

"Se eu mandasse nunca permitiria que se construísse a barragem do Tua", afirmou.

Miguel Cadilhe acusou ainda os políticos de serem "tacanhos e mesquinhos" por não perceberem o valor histórico, cultural e social deste património e defendeu que estas vias ferroviárias deveriam ser candidatadas a Património Mundial da Humanidade.

"Se esta obra humana belíssima e histórica e com valor cultural enorme e incomensurável estivesse no Tejo, junto a Lisboa, estaria lindamente conservado e a ser utilizada", frisou o responsável.

Considerou ainda que a cultura está muito acima da economia, mas, enquanto economista, explicou que "muitas vezes a oferta cria a sua própria procura".

"É uma lei da economia que não tem sempre aplicação, mas por vezes tem", disse.

Ou seja, se a oferta ferroviária estiver a funcionar, por exemplo, para fins turísticos e culturais, é provável que a procura apareça e então a oferta criou a sua própria procura", sublinhou.

Cadilhe salientou que este sábado foi dado um "grito para os políticos centrais perceberem que há este património ferroviário e que é preciso preservá-lo e não destruí-lo".

A defesa e a salvaguarda das linhas de caminho de ferro foram precisamente os temas centrais do encontro de hoje e as principais reivindicações de um documento que vai ser enviado ao Governo e que apela também à elaboração de um estudo sobre o custo/benefício do "afogamento" da linha do Tua.

Gaspar Martins Pereira, da Universidade do Porto, referiu que a destruição e degradação do património ferroviário nacional se agravou com as políticas "neo-liberais do professor Cavaco Silva", e que hoje, em termos ferroviários, "o Douro está muito pior do que há 100 anos".

O investigador considerou ainda um atentado ao Património Mundial da Humanidade, classificado em 2001, a construção da barragem do Tua, numa área ainda inserida no Alto Douro Vinhateiro.

Por isso mesmo, a organização do congresso deixou a promessa de pedir a intervenção da UNESCO na salvaguarda do património classificado.

De França chegou um exemplo de sucesso através de Jacques Daffs, vice-presidente da Federação dos Caminhos-de-ferro Turísticos Franceses, que referiu que, por ano, 3,2 milhões de pessoas visitam as linhas turísticas francesas, muitas das quais são geridas por privados.

O professor da Universidade do Minho, José Lopes Cordeiro, centrou a sua intervenção no valor "patrimonial irrepetível" das linhas férreas, chamando a atenção para as obras de arte como pontes, túneis, taludes, e a técnica de engenharia usada para cortar a pedra e atravessar os montes.

O docente considerou que a linha do Tua possui todas as condições para ser classificada como Património Ferroviário da UNESCO, à semelhança das cinco vias que já foram distinguidas Áustria, Índia e Itália-Suiça.

|JN|

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalsitas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,,

Como diz o ditado "Tarde piou".
Ter memória curta é, em certas ocasiões uma vantagem para não agravar conflitos desnecessariamente; noutras, é uma necessidade premente e patriótica para fazer lembrar quem teve responsabilidades directas ou partilhadas na destruição do património ferroviário nacional, com participação de todos os governos de há 25 anos a esta parte.
A política seguida de destruição quase cega de alguns subsistemas de transporte ferroviário, formados por ramais estreitamente ligados à economia e à vida das populações locais e regionais, pode classificar-se de lesa pátria sem qualquer possibilidade de recuperação possível para a prossecução de objectivos de desenvolvimento. Por outro lado, é uma manifestação de autêntica falta de respeito relativamente a quem decidiu historicamente a favor de uma infraestrutura de transporte que nunca ficará ultrapassada se não negligenciarem os investimentos necessários à sua permanente modernização e adaptação à prestação do respectivo serviço (atenção: não se pense que se está a defender o TGV).
O que se passou com o sistema ferroviário relativamente a essa destruição irresponsável constituiu um autêntico desgosto, individual e colectivo.
Como foi possível tal destruição?

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Rui Farinas disse…
Penso que a condenação à morte da linha do Tua é irreversivel. Só uma intervenção dum organismo como a UNESCO a poderia salvar,mas chegaria a tempo? E quem se encarregaria de organizar o processo?
A imagem deste artigo tem autor. É favor dar o devido crédito e alojar a mesma em servidor próprio. Se isso não for feito brevemente, serão tomadas medidas legais.