Exemplos da Decadência do Norte

Aldeia do Cachão ainda é conhecida pelo colossal Complexo Industrial


Três vezes ao dia, o silêncio e monotonia são rasgados pelo apito sonoro. Sonoridades que ressoam nas paredes degradadas e nos edifícios abandonados que já viram melhores tempos. Vestígios de um sonho que, há muito, caiu por terra e foi deixado à deriva.

Contudo, basta uma passagem pelo Cachão, na freguesia de Frechas (Mirandela), para constatar a grandiosidade e imponência das construções que, outrora, formaram o Complexo Agro-Industrial de Cachão (CAIC).

Criada na década de 60, pelas mãos do engenheiro agrónomo Camilo Mendonça (natural de Vilarelhos - Alfândega da Fé) com o apoio do Estado Novo e de Salazar, a infra-estrutura chegou a empregar milhares de pessoas. Pensado para “transformar” a agricultura e produtos transmontanos, particularmente os do Nordeste do País, numa referência a nível europeu e, mesmo, mundial, o CAIC integrava, além de infra-estruturas agro-industriais, um complexo sistema de regadio, que previa a construção de 130 barragens com paredões de terra.

Tudo que se produzia em Trás-os-Montes podia ser “enviado” para o Cachão, onde seria transformado. Castanha, hortícolas, vinho e frutícolas, entre muitos outros, depois de passarem pelo CAIC, entravam nos circuitos comerciais de Portugal, do resto da Europa e, mesmo, da Rússia ou Estados Unidos da América.

Com vista a fixar novos trabalhadores e alojar os que já laboravam no Cachão, construi-se o bairro social, também conhecido por Vila Nordeste, que acolhia mais de 100 famílias.

A par da criação deste empreendimento, foram instalados, também, alguns equipamentos de apoio, como infantário, escola primária, posto médico e centro cultural, entre outros.

Revolução de Abril “ditou” abandono do projecto

Apesar da grandiosidade e riqueza de todas as infra-estruturas a ele associadas, o CAIC entrou em decadência após a Revolução de 25 de Abril de 1974. Contudo, algumas fábricas, bem como as barragens de Alfândega da Fé, Cachão, Carvalheira, Vila Flor, Vilares da Vilariça e Vilarelhos resistiram ao abandono do empreendimento.

A situação económica complicou-se progressivamente, agravada pelo facto de Portugal passar a integrar a Comunidade Económica Europeia e porque a região ficava afastada dos principais e maiores centros urbanos e de consumo, sendo que o transporte e distribuição de produtos eram encarecidos pelas más acessibilidades.

Depois de um lento enfraquecimento económico e financeiro, o CAIC acabou por encerrar, em 1992, altura em que as autarquias de Mirandela e Vila Flor ficaram responsáveis pela administração dos imóveis.

Actualmente, ainda funcionam algumas fábricas no Cachão que empregam cerca de 200 pessoas, mas parte dos antigos funcionários do CAIC viram-se obrigados a emigrar ou procurar trabalho noutros locais da região.

|Jornal Nordeste|

Comentários

Anónimo disse…
No início de 1981 a empresa foi constituída em sociedade anónima, pertença do Estado, mudando novamente de gestão. Os objectivos do CAICA-S.A. eram a viabilização da empresa, tendo em conta as suas potencialidades, e o desenvolvimento sócio-económico de Trás-os-Montes e Alto Douro.

No entanto, a situação foi-se agravando ao longo da década de oitenta, acumulando-se as dívidas na banca, e crescendo as dificuldades de fazer concorrência ao mercado aberto que se sucedeu à entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia.

A situação geográfica do Complexo, longe dos principais centros de consumo, e as tortuosas vias de comunicação da região encareciam os produtos e dificultavam as funções comercial e de distribuição da empresa. Os salários dos trabalhadores chegaram, por vezes, a ser pagos com meses de atraso.

Por outro lado, existe um consenso no que respeita à boa qualidade atribuída aos produtos, mas estes eram produzidos em pequenos quantidades, o que dificultava a sua distribuição no mercado fora do país.

|RIO TUA|