Distrito de Santarém deve perder população já a partir de 2010

Estudo alerta para problemas de falta de renovação geracional e envelhecimento

Santarém deve perder população já a partir de 2010. Coruche pode crescer

27.10.2009 - 10:51 Por Jorge Talixa

Embora situado próximo do litoral e da Grande Lisboa, o distrito de Santarém deverá começar a perder população já a partir de 2010, de acordo com as projecções de um estudo demográfico agora publicado pelo Governo Civil escalabitano. O documento sustenta que os saldos migratórios vão deixar muito em breve de compensar a perda natural de população motivada pela baixa natalidade e que esta tendência generalizada deverá fazer com que, em 2030, o distrito ribatejano tenha menos cerca de 19 mil habitantes do que actualmente.

Significa isto que apenas seis dos 21 municípios da região conseguirão aumentar a sua população nos próximos 20 anos e que, em termos gerais, se vão agravar os problemas de envelhecimento, de necessidade de mais programas e equipamentos sociais, de falta de jovens e de redução muito significativa das populações activa e escolar. Um cenário mais preocupante em concelhos do Norte e do interior da região, como Tomar, Abrantes e Coruche, para onde se prevêem grandes quebras de população, mas também para municípios como Mação, Sardoal e Chamusca, onde essa redução já foi notória nos últimos 30 anos.

Intitulado "A evolução e prospectiva demográfica no distrito de Santarém. Projecções e análise concelhia 2001/2030", o estudo, coordenado por Renato Campos (economista), Margarida Oliveira (geógrafa) e César Lourenço (planeador urbano), apresenta uma investigação aprofundada e que começa por frisar que o envelhecimento e o declínio populacional são hoje uma das grandes preocupações das sociedades desenvolvidas e que as análises existentes prevêem que Portugal ainda mantenha um ligeiro crescimento populacional (fruto principalmente da entrada de imigrantes) até 2030 e comece, depois, a perder população. Essa tendência deverá, no entanto, revelar-se bastante mais cedo no distrito de Santarém, já a partir da próxima década.

Joaquim Botas Castanho, governador civil escalabitano, explica que, nos últimos oito anos, o distrito de Santarém ainda revelou um crescimento de cerca de 11.300 habitantes, atingindo um total da ordem dos 465.687 residentes. "Esse crescimento teve como principal origem a ocorrência, em vários concelhos, de saldos migratórios positivos, já que os saldos naturais resultantes de uma generalizada baixa natalidade pouco ou nada contribuíram para esse acréscimo populacional", refere. Para os próximos 20 anos, o estudo prevê um maior decréscimo do saldo natural que "um saldo migratório, também ligeiramente em regressão, não conseguirá compensar", acrescenta o governador.

Benavente cresce

Há, no entanto, algumas variáveis que poderão alterar um pouco estes cenários, especialmente o impacte da construção do futuro aeroporto na fronteira entre os distritos de Santarém e de Setúbal (concelhos de Benavente e do Montijo), que trará naturalmente bastantes milhares de trabalhadores ligados à obra e à sua futura exploração. Se para Benavente e Salvaterra de Magos o estudo já prevê algum crescimento nos próximos 20 anos, Coruche (o maior município ribatejano, com 1117 quilómetros quadrados) poderá ter uma evolução diferente da agora projectada, porque está próximo da localização do futuro equipamento aeroportuário. De qualquer forma, o documento aponta para um agravar da perda de habitantes já verificada em Coruche, município que perdeu 20,7% da sua população entre 1970 e 2008 e poderá, se se confirmar esta projecção, perder ainda mais alguns dos seus cerca de 20 mil habitantes.

Interior perde população

Desde 1970, o concelho de Mação viu a sua população reduzida a menos de metade (perdeu cerca de 53,5%) situando-se, agora, nos 7061 habitantes. Esta evolução negativa é também evidente no vizinho município do Sardoal (menos 31,4%) e em concelhos como Ferreira do Zêzere (menos 25%), Chamusca (menos 23%) e Coruche (menos 21%). No sentido contrário tem-se revelado a evolução populacional em dois pólos principais do distrito: o do Sul, influenciado pela Área Metropolitana de Lisboa, e o do Entroncamento. "Para além do pólo de atracção de índole ferroviária Entroncamento/Vila Nova da Barquinha, os maiores crescimentos deram-se em concelhos limítrofes da AML, beneficiando da descompressão urbanística desta", explica o estudo.

O prolongamento da esperança de vida aliado à baixa da natalidade deverá fazer com que, em 2030, no distrito de Santarém, vivam mais de 130 mil pessoas com mais de 65 anos e apenas 52 mil crianças e jovens com idade até aos 14 anos. Significa isto que nos próximos anos só Benavente e Entroncamento terão alguma subida na sua população activa.

Os concelhos de Benavente e do Entroncamento têm sido os que mais têm contribuído para contrariar a tendência para a perda de população na região, influenciados pela proximidade da AML e pela actividade ferroviária. Juntos garantiram nos últimos 40 anos mais cerca de 28 mil habitantes, correspondentes a 78% do acréscimo total do distrito. Quem mais perdeu no mesmo período foram Abrantes e Mação, cada um com uma quebra superior a 8 mil habitantes. Uma tendência que continuará a afectar estes municípios - o estudo prevê que Mação perca 41% da sua população nos primeiros 30 anos deste século e que Abrantes perca 12,6%.

Fonte: Público.

Comentário:
Este estudo vem a pôr de manifesto a aprofundação das assimetrias regionais, quer em matéria de população, quer em matéria económica, uma vez que ambas as duas variáveis não se podem dissociar uma da outra. E estamos a falar de um distrito como o de Santarém que não é dos distritos menos desenvolvidos e que não apresenta uma situação tão excêntrica quanto outros territórios.

Indo ao assunto, só se salvam aqueles municípios que vão ficar sob a área de influência directa de Lisboa, designadamente a causa do novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete. Lá se vai a oportunidade de consolidar o eixo de cidades médias Alcanena-Abrantes que poderia actuar de área de atracção de investimentos económicos, uma vez que usufruem de uma situação privilegiada a meio caminho entre Santarém e Lisboa e que poderiam ao mesmo tempo aproximar a Beira Interior ao resto do país irradiando a sua influência para o eixo de cidades Castelo Branco-Fundão-Covilhã-Belmonte-Guarda, de modo a criar as condições para um continuum económico, bem como para o Norte Alentejano, nomeadamente Ponte de Sôr (infelizmente, mais uma vez, capa das notícias económicas) e Portalegre.

É claro que a regionalização por si só não garante sucesso, mas daria às regiões um poder de decisão quanto à ordenação do território, decidindo os pólos a desenvolver, investimentos prioritários, a aplicação de incentivos económicos em áreas deprimidas, etc. em função de uma lógica regional, sem que isso signifique perder uma perspectiva nacional e europeia como pensam os anti-regionalização que sempre falam nessa ladainha que já cansa do famoso país 'retalhado' aos pedacinhos nessa conversa de 'velhos do Restelo' mas sem nunca oferecer nenhuma solução para o hipercentralismo que o país padece.

L. Seixas.

Comentários

Rui Silva disse…
E assim, alegremente, caminhamos para o abismo. Temos já dois terços do território quase abandonado ... e as coisas só tendem a piorar.