Norte com a recuperação mais lenta

As três regiões mais pobres do país (Norte, Centro e Alentejo) cresceram em 2007, mas a ritmos diferentes


|JN|
ALEXANDRA FIGUEIRA E CATARINA CRAVEIRO

As três regiões pobres o suficiente para receber fundos da União Europeia recuperaram, em 2007, do atraso em que vivem. O ano, contudo, foi menos favorável à Região Norte, que cresceu apenas 0,1 pontos percentuais.

O Anuário Estatístico Regional 2008, publicado ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), adianta que o Centro recuperou 0,7 pontos percentuais (pp) face ao ano anterior, enquanto que o Alentejo cresceu 0,9 pp. Perante o crescimento destas regiões, claro, as mais ricas perderam alguma da vantagem que levavam sobre o resto do país que se tornou, assim, um pouco mais coeso.

De acordo com o anuário, o PIB per capita no Norte foi de 79,6% em 2007, contra 79,5% de 2006. A pressionar esteve o Grande Porto que caiu 1,2 pp. Carvalho das Neves, economista, explica o fraco crescimento com a falta de confiança do mercado e a baixa criatividade dos empresários. Lisboa foi a região que criou mais riqueza por habitante (138,8%). Segundo o também economista Alberto Castro, a capital "tem actividades muito mais produtivas, estando muitas delas isoladas da concorrência internacional, enquanto que no Norte essa exposição é maior".

Os dados são estatísticos, mas Carvalho das Neves afirmou ao JN que, por vezes, "os resultados de Lisboa são distorcidos, uma vez que é na capital que estão as sedes das grandes empresas, mas os pólos de produção estão descentralizados noutras regiões". Para o economista, o mesmo não se passa no Norte, onde "as empresas que contribuem para o PIB tanto têm sede como produção na região", apesar de serem mais pequenas.

Não obstante a riqueza nortenha, medida por pessoa, ser a mais baixa do país, a verdade é que, pela sua dimensão e grande quantidade de trabalhadores, o Norte continua a ser a segunda região que mais contribuiu para o Produto Interno Bruto (PIB). Colaborou com cerca de 46 mil milhões de euros para o total da riqueza do país (163 mil milhões de euros), sendo apenas ultrapassada por Lisboa, que contribui com mais de 59 mil milhões.

Alberto Castro justifica este segundo lugar com o facto de o Norte aglomerar uma percentagem significativa da população nacional, e de ser uma das regiões mais industrializadas da Europa, embora tenha perdido competitividade nos últimos anos.

Ainda assim, em 2007, a Região a Norte tornou-se mais competitiva. Em termos de produtividade (medida em valor acrescentado por trabalhador), apresenta 22,3 mil de euros, mais do que o registado no ano anterior. Apesar disso, está abaixo da média nacional (27,3 mil euros) e foi a que menos produziu, sendo apenas ultrapassada pelo Centro.

No que toca à remuneração média também aumentou de 15,9 mil euros, em 2006, para 16,5 mil euros, em 2007. O ano a que se reportam os números foi favorável e Alberto Castro antevê que, no relatório de 2009, "os números serão muito piores", tendo em conta crise que afectou, sobretudo as regiões exportadoras, como o Norte.

Para o economista, o grande problema da região é "a baixa qualificação da mão-de-obra e dos próprios empresários". Para reverter o cenário, sugere a criação de um movimento sócio-económico que defina estratégias numa perspectiva internacional. "É preciso congregar associações empresariais, grandes empresas e um governo central de forma a criar um lóbi forte".

O relatório refere ainda que o Norte não é das regiões do Continente em que mais empresas abrem, mas é a segunda com maior taxa de sobrevivência, a dois anos. Em 2007, a taxa média de sobrevivência no país foi de 53,79%. O Norte superou com 57,07%, impulsionada pelo Tâmega e Minho-Lima.

'Norte está a passar por uma grave crise estrutural'
[João César das Neves, economista]

De acordo com números do INE, à excepção de Lisboa, a Região Norte é a que mais contribui para o Produto Interno Bruto (PIB) Nacional. Como podemos justificar?

Dado o facto de a Região Norte há anos que é a mais pobre do país (dados da União Europeia), só pode ser das que mais contribui para o PIB porque é a mais populosa.

Todas as regiões mais pobres subiram no que diz respeito ao PIB per capita. O Norte registou uma subida de apenas 0,1 ponto percentual. Lisboa foi a região que registou o PIB per capita mais elevado em 2007. A que se deve esta estagnação do Norte no que diz respeito à geração de riqueza por habitante?

A região Norte está a passar por uma grave crise estrutural há mais de uma década, que vem da sua aposta original na indústria, sobretudo têxtil. Isso choca com as dificuldades desse sector a nível mundial, agravadas pela condução da política económica nacional, que tem prejudicado esse sector. Dada esta situação, o facto de o seu PIB per capita ter estagnado até nem é mau.

O Norte não é das regiões onde se verifica o maior número de abertura de empresas, mas é a segunda região com maior taxa de sobrevivência empresarial. Qual a sua opinião?

Os dois resultados estão ligados, porque menos natalidade pode implicar mais sobrevivência. Isto tem a ver com a referida orientação sectorial e mostra uma falta de dinamismo que é preocupante.

Comentários

Anónimo disse…
Estado ajuda a "roubar" Red Bull Air Race para Lisboa

O presidente da Câmara de Gaia, Luís Filipe Menezes, denunciou que o Estado está a negociar a realização da Red Bull Air Race em Lisboa, "roubando" o evento a Porto e Gaia.

Nos últimos três anos, a "fórmula um" dos aviões atraiu milhões de pessoas às margens do Douro. O autarca criticou o facto de serem institutos públicos, empresas públicas ou participadas pelo Governo a promover o desvio de rota do Red Bull Air Race, sendo que, para isso, até vão aumentar, três ou quatro vezes, o valor do patrocínio.

Luís Filipe Menezes não nomeou empresas - falou, apenas, no Instituto do Turismo - mas o JN sabe que em causa estarão, por exemplo, a EDP, a TMN ou a Galp.
JN
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Aposta numa só Região cada vez é mais forte !!!!!!...
Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

O espectáculo do "Red Bull" e da fórmula é o circo do habitual "pão e circo", apenas uma vez por ano.
O que se pretende é que a sociedade seja dinamizada com inicitivas que se autosustentam e contribuam para a evolução qualitativa da sociedade portuguesa e assegurem uma efectiva convergência real em relação às sociedades mais desenvolvidas.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)