Fechar o ralo lisboeta do lavatório Portugal



Jorge Fiel

|DN|

Não sou daqueles que acham que nós, homens, fomos mais penalizados do que as mulheres na hora em que o Criador, na sua imensa sabedoria, deliberou sobre as penitências a observar pelos dois sexos relativamente à culpa pelo Pecado Original.

Ter de fazer a barba parece-me uma penitência bem mais benigna do que a suave prestação mensal que as mulheres adultas pagam, a título quase vitalício, para se redimirem dos nossos antepassados Adão e Eva terem trincado a maçã num compreensível momento de desvario – quem nunca cedeu a essa tentação que atire a primeira pedra!

Nunca fui de me dar ao incómodo de fazer a barba todos os dias. Habituei-me a justificar com as poupanças - em tempo (que é dinheiro), lâmina, espuma, água e after shave -, o que era olhado como um desleixo. Há coisa de poucos anos, José Mourinho foi um dos líderes da revolução libertadora que legalizou socialmente a barba de três dias, absolvendo-me do facto de só me por em frente ao espelho, antes do banho, uma ou duas vezes por semana.

Fechar o ralo do lavatório é o meu primeiro gesto da rotina quando faço a barba, o que me permite usar na limpeza da lâmina a água gasta na preparação da cara para a espuma. No final, depois de abrir o ralo, limpo com uma folha de papel higiénico os pelos que ficaram acumulados no lavatório. Temos de poupar água, que é um factor escasso.

O problema é que no lavatório Portugal o ralo Lisboa suga e desperdiça todos os recursos que a torneira do resto do país lhe despeja, sem que até agora ninguém lhe tenha conseguido por travão.

Num artigo publicado no Expresso, no dia de Natal, Daniel Bessa, fez as contas (o que ele sabe fazer, ao contrário do incompetente que o despediu do Governo) e concluiu que para trazer o défice de volta aos 3% do PIB o Estado português tem de arranjar dez mil milhões de euros.

Aumentar as receitas não é viável, pois não se pode tirar sangue das pedras – a economia está em coma e o tacho da cobrança coerciva das dívidas fiscais já está rapado. Reduzir o investimento público seria criminoso no país da UE que na década 98/08 teve o pior desempenho neste capítulo, com uma queda anual média de 4,6%.

A alternativa é reduzir drasticamente a despesa, o que implica desmantelar este Estado velho, gordo e centralista que gasta metade da riqueza do país. O combate à crise exige o reordenamento do território, a destruição deste aparelho de Estado e a redistribuição de competências.

Só a Regionalização pode fechar o ralo do desperdício lisboeta por onde se esvai a nossa riqueza. Se não se fizer, o resto do país não tem outra alternativa senão fechar a torneira e começar a pensar numa solução à catalã.
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