Região de Trás-os-Montes e Alto Douro: cada vez mais, uma necessidade urgente

Os meios de atracção estrangeiros, face ao despovoamento de Trás-os-Montes e de Valpaços

Não há somente factores de incapacidade interna, que provocam o despovoamento, mas também, paralelamente, existem políticas bem estruturadas, nos países estrangeiros de acolhimento, para aí fixar os nossos emigrantes, de forma definitiva.

Numa breve retrospectiva, a partir dos anos 60 do passado século, primeiro “a salto”, e depois de modo legal, grande parte da população em idade adulta, emigrou, sobretudo, para a Europa (França, Alemanha, Luxemburgo, Suíça, etc.)

Desta época heróica, da emigração clandestina, conhece-se em Valpaços, como em todo o Trás-os-Montes, dramáticas “ histórias de sofrimento e de custosas passagem de fronteiras “ que dariam livros de memórias fantásticos.

Alguns desses países tinham saído há poucos anos da 2ª Guerra Mundial e tinham ficado com pouca população jovem, provocado pela perda dos milhares de soldados, que morreram nas linhas de combate.

Em Portugal devido a uma política astutamente doseada, de colaboração com as 2 facções em confronto (Aliados e Alemanha nazi), Salazar evitou que os portugueses fossem atingidos pela guerra, embora à custa de grandes sacrifícios alimentares, e mesmo fome, segundo se diz, por parte da população mais pobre.

Daqui resultou que acabada a Guerra, enquanto Portugal, tinha muita gente nova, mas muita pobreza, a Europa Ocidental, renascia da Guerra através do plano Marshall, mas faltava-lhe a mão-de-obra jovem, que tinha morrido em combate.

Portanto a emigração surgiu, como um reequilibrar dos pratos da balança, aliviando a pressão de população excedente em Portugal, para a redistribuir, pelos países europeus, ricos, mas carentes de mão de obra, não qualificada, para os trabalhos de reconstrução nacional.

Como diz o ditado, juntou-se a fome á vontade de comer, e nada conseguiu travar a população portuguesa de procurar melhores condições de vida nos países ricos da Europa.

Primeiro emigrando os cabeças de casal, essencialmente homens dos meios rurais, que viviam primeiramente em condições extremas de subsistência, nos chamados " bidonvilles".

Gradualmente as condições de vida melhoraram e começaram a chamar as famílias, passando a viver em melhores habitações e melhorando o seu nível de vida.

Os filhos foram-se integrando e frequentando o Ensino na sociedade francesa, daí sucedendo uma identificação cada vez maior com os países de acolhimento, a que se acrescentou uma maior fusão de costumes e culturas, com casamentos entre a população portuguesa e a população desses países, sendo hoje a segunda e terceira geração de origem emigrante, como franceses de pleno direito.

Com mais raízes nesses países do que em Portugal, com melhores condições de acesso á saúde e a empregos, do que em Portugal, as novas gerações, esquecem cada vez mais os países de origem dos seus pais e adaptam-se e ganham raízes, nesse países ricos que os acolheram.

Como aí se fixam os filhos e os netos, os emigrantes da primeira geração, agora já avós, embora com saudades da sua terra natal e de Portugal, vão gradualmente optando por ficar nesses países de acolhimento, junto dos seus familiares mais novos, que ai residem, trabalham e estão integrados.

A deslocalização destas enormes quantidades de famílias portuguesas, para fora de Trás-os-Montes, muitas delas, de forma definitiva, são também uma das causas do despovoamento transmontano, uma vez que Portugal não lhe criou as condições de emprego e bem-estar semelhantes às condições de bem estar, que eles têm nos países estrangeiros.

Uma politica inteligente de integração dos emigrantes portugueses, nesses países europeus, proporcionando-lhe melhor Saúde, facilidades no acesso a habitação própria, mais segurança em empregos. Agora qualificados, origina, que Portugal e Trás-os-Montes em particular sejam vistos, como lugares despovoados, desertificados e sem futuro…

Já existe hoje uma tendência gradual, para os emigrantes venderem as suas casa em Portugal, e construírem habitação própria, nos países europeus onde trabalham, como se pode detectar, a titulo de exemplo no concelho de Valpaços, neste fim de ano de 2009, onde as placas de “ vende-se” são em grande número, daqui resultando uma grande crise, no sector imobiliário.

Daqui resulta, que se cava cada vez um major abisma, entre o Trás--os-Montes pobre e isolado e os países industrializados, num tremendo ciclo vicioso, que cada vez aprofunda mais essas diferenças.

Voltando sempre á raiz do problema, enquanto não se optar, (se ainda formos a tempo?) por fazer uma regionalização eficaz e criar uma região própria de Trás os Montes, que face aos seus fracos índices económicos, aqui concentre efectivamente uma grande parte dos fundos estruturais da União Europeia, e se crie riqueza e trabalho, jamais passaremos da cepa torta.

Oxalá os políticos, neste novo ano auspicioso de 2010, façam avanços frutuosos, nestes domínios, e se consolide um adequado projecto de regionalização.

José Mourão

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

A especialidade nunca historicamente contestada dos nossos políticos sempre foi a "política de transporte" em prejuízo de uma "política de fixação". Esta especialidade tem raízes de séculos na prática política do nosso País, pois sempre foi muito mais fácil fazer emigrar quem está a mais e a incomodar os que estão "muito bem" (uma grande minoria), proporcionando melhorias muiti sensíveis em todos os indicadores econímicos e sociais "per capita", sem qualquer investimento.
Esta ausência de investimento (materiais, equipamentos e recursos humanos) é a grande insuficiência da sociedade portuguesa e que a tem atrasado no desenvolvimento e na convergência reais, não estando aqui incluidos os grandes investimentos que se propalam a todos os ventos mas com reduzido efeito multiplicador na economia portuguesa, muito infelizmente em especial no debelar do desemprego.
Desaparecidos os mecanismos de ajustamento financeiro e monetário da nossa economia com a entrada no euro (taxa de juro, taxa de câmbio, inflacção), mecanismos de algum facilitismo, insuficientes e de curto prazo, assiste-se agora à propalação de outros mecanismos (redução do valor do salário mínimo, aumento das horas de trabalho com remuneração a ser substiruida por compensação horária) que operam ainda a curto prazo e são inócuos em termos de aumento da competitividade da economia, não dinamizam a procura interna (que bem precisa ser satisfeita por produção interna) e nem de longe nem de perto correspondem a criação de riqueza (para muitos ainda, o conceito de criação de riqueza traduz-se apenas em embolsamento próprio, sem criação de riqueza).
Com estes mecanismos de operar a economia, minimalistas para o seu conjunto e desenvolvimento, não vai ser dificil engrossar o volume de desemprego, os níveis de criminalidade, os índiecs de emigração e, o mais grave, adiar sempre as soluções estruturais e de longo prazo capazes de fazer entrar a economia e a sociedade portuguesas no caminho do desenvolvimento.
Nem o Orçamento do Estado, mesmo numa rota de eliminação do défice, será capaz de reorientar a evolução da economia portuguesa no sentido de um maior volume de criação de riqueza interna porque falta o sentido do investimento integrado e estratégico (isto é, mais de qualidade do que de quantidade), o único capaz de gerar plataformas de competitividade interna e externa compatíveis com uma convergência real em relação às sociedades mais desenvolvidas, quer queiram quer não os que não identificam com estes argumentos.
Para além disso, é necessária muita inovação em tudo, especialmente em termos políticos, tanto estratégica como funcionalmente; no primeiro caso, o enunciado dos grandes desígnios nacionais (o nosso ADN) a partir de um programa político que rompa definitivamente com o "modus faciendi" habitual focalizado na governação centralizada e bacoca e estabeleça outra alicerçada na regionalização autonómica; em termos funcionais, com as exigências de total reestruturação da Administração Pública e dos Órgãos de Soberania e de mudança qualitativa dos protagonistas políticos e outros directa ou indirectamente ligados àqueles Órgãos de Soberania, substituindo a "política de transporte" (desde os Descobrimentos) por uma exigente "política de fixação" das populações às suas terras, acompanhada de cura da mimalhice habitual relacionada com a subsidiodependência a todos os níveis (o povo tem toda a razão: "quem não chora não mama").
Como costumo afirmar aos meus amigos mais afoitos nas conversas políticas:
"Somos um País sem mimo
Mas com muitos mimalhos
......"
Não continuo com a quadra por causa da palavra recomendada para rimar com o segundo verso.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
templario disse…
Como sabe, Caro pró-7RA., mesmo essa "política de transportes" de que fala, desde os Descobrimentos, rapidamente caíu nas mãos de estrangeiros. Sessenta anos depois da chegada à Índia estávamos em bancarrota.

O nosso mal esteve sempre nas elites várias deste país, traidoras de quem os parturiu.

Por isso, o autor do post em questão, esqueceu-se de vincar que o moderno fluxo de emigração se iniciou em plena ditadura que já vinha de antes do início da Seg. Guerra e, caso optasse por nela entrar, esse regime não tinha chegado ao fim (da Guerra). Ao optar pela guerra colonial assinou a sua certidão de óbito.

Com o 25 Abril perdemos a pouca "política de transportes" internacionais que ainda tínhamos, caindo totalmente (a marítima) em mãos estrangeiras.

Resumindo: não é a regionalização, autonómica ou não, que nos faz falta. A ser assim, estaríamos a enganarmo-nos.

O nosso problema reside na qualidade da "classe" política que temos, que tomou de assalto o nosso sistema partidário, a mesma que agora, numa tentativa de saltar por cima da sua própria cabeça, grita pela regionalização, como tábua de salvação, para lançar o caos e destrir mesmo o país.

Dai que o "fogo" deva ser apontado para o sistema partidário, no sentido de o sanear da base ao topo, para o renovar, para que Portugal possa ser bem governado.

Estou convencido de que um NÃO no Referendo à regionalização, vai despoletar esse movimento que enxotará os bandos de malfeitores do sistema partidário.

É por isso que estou muito entusiasmado com o Referendo anunciado.
Anónimo disse…
Caro Templário,

Ao mencionar a "política de transporte", não me estou a referir à componente plural ("política de transportes") mas singular, a um fenómeno social e económico que contempla todo o drama da diáspora portuguesa centenária para exclusivo "bem-estar" de quem por cá ficou, a usar e a abusar sem honra nem glória nos desmandos de governação, com excepção apenas de poucos períodos de lucidez e competência políticas (por exemplo, o Governo do Marquês de Pombal, no reinado de D. José I).
Em termos históricos, "os fenómenos são correntes embora em circunstâncias diferentes", como é meu hábito escrever, assistindo com desgosto profundo à permanência desses mesmos defeitos e maldades de governação, porventura atenuados mas igualmente recentrados numa fileira estreita de interesses que nunca se identificaram com o desenvolvimento económico, social e cultural, entre muitos outros.
Constituimos ainda hoje uma sociedade controversa, bicuda e interesseira, protagonistas de peisódios lastimáveis não raro envolvendo personalidades ímpares da cultura e da ciência portuguesas ordinariamente vilempiados pela titularidade de interesses mesquinhos, hipócritas e até revoltantes.
Com efeito, numa coleccção sobre temas económicos, em boa hora editada pelo Banco de Portugal, honrando e muito o respectivo Conselho de Administração e o seu Governador, no Volume 12, páginas VII a IX e prefácio do Senhor Professor Jacinto Nunes, pode ler-se uma nota histórica sobre o autor da obra "A Matemática na Economia Pura: A Troca", da autoria do advogado, Doutor António de Sousa Horta Sarmento Osório, candidato a lente da 10ª Cadeira - Economia Política - da Escola Politécnica de Lisboa com a entrega daquele trabalho. Nesse concurso, em 1911, com 29 anos de idade, foi preterido por outro candidato, Afonso Costa que apresentou o trabalho "O problema da Emigração" (que é como quem escreve: "O Problema de sempre da Sociedade Portuguesa"), muito mais descritivo que o teor modernista e analítico-matemático do primeiro. A decisão do júri do concurso contribuiu para atrasar o ensino da economia no nosso País entre 30 a 40 anos, segundo o Professor Doutor Teixeira Ribeiro e representou um erro grosseiro. Mais tarde, quiseram reparar o erro mas já foi muito tarde, pois o candidato preterido respondeu que "se não tinha servido da primeira vez, também não serviria da segunda". O insucesso no concurso para professor marcou profundamente a sua vida e obra, deixando-as tanto uma como a outra, gravemente amputadas.
Não se exagera ao afirmar que é este o País que ainda temos e a razão por qure se emigra ("política de transporte" e não "política de fixação").

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)