Voz grossa

Voz Grossa

Por Paulo Ferreira

O prestigiado "The Wall Street Journal" escrevia há dias que Portugal precisa(va) de um Orçamento do Estado (OE) tipo "ou vai ou racha". A avaliação do jornal não se confirmou: o OE só "vai" um bocadinho no sentido que devia ir, mas está longe de "rachar" - isto é: está longe de ser, como devia, um documento que, arrostando com as dificuldades, servisse como ponto de viragem. O Governo preferiu amenizar a dor, à espera, com certeza, que a economia internacional recupere e nos ajude a sair do pântano.

O nervosismo do Executivo ficou, de resto, bem patente na reacção intempestiva que o ministro das Finanças teve quando soube que as agências de rating não apreciaram por aí além o OE. O mesmo governante que falhou, uma e outra vez, o valor do défice chegou a dizer que as ditas agências (cuja palavra determina, em boa medida, o preço do dinheiro que Portugal tem que desembolsar quando pede empréstimos) estavam ao serviço de interesses comerciais, ou coisa que o valha. A acusação não é de somenos: se Teixeira dos Santos tem provas dessa grave promiscuidade, deve apresentá-las. Se não tem, deve permanecer calado, sob pena de se descredibilizar ainda mais. É que se há coisa de que, na verdade, não precisamos é de um ministro das Finanças politicamente desgastado e agastado.

A discussão sobre o estado das contas públicas e as indizíveis tricas com o senhor da Madeira escondeu o debate sobre a repartição dos dinheiros do Estado pelas regiões, designadamente através do PIDDAC (Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central). Como seria de esperar, o programa leva um tremendo corte: quase 25%. Como não seria de esperar, a Região de Lisboa e Vale do Tejo volta a ser a mais beneficiada, ao receber quase 19% do total da despesa, contra 10,8% para o Norte, 6,45% para o Centro e 1,9% para o Algarve. Quanto a prioridades, estamos esclarecidos: o Governo acha que, de entre todas as regiões do país, é Lisboa e Vale do Tejo a mais necessitada.

O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) ensaiou anteontem uma diplomática reacção: "A primeira leitura (da distribuição das verbas) é de perplexidade", disse Carlos Lage. Há sinais q.b. desta "perplexidade". Exemplo: Valongo recebe cinco mil euros para a construção de dois centros de saúde. Chega para comprar os primeiros sacos de cimento e os primeiros tijolos. Depois, logo se vê. Lendo as notícias percebe-se que há pequenos sinais de indignação pela região fora. Esse é o problema: pequenos sinais de indignação não incomodam o Governo. Tristemente, os autarcas do Norte ainda não perceberam que falar para a paróquia (com o devido respeito) não acrescenta um átomo ao essencial: e o essencial é falar a uma só voz, de preferência uma voz grossa.


|JN|

Por L. Seixas.


Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

Já há muitos meses aqui escrevi sobre os "paleativos políticos" (em que somos especialistas) que não solucionando od problemas estruturais de há séculos acabam por não servir para coisa nenhuma. Entretanto, o tempo vai passando, aumenta a dependência nacional da produção e dos recursos financeiros dos outros Países e, apesar de as empresas de rating serem os abutres que são e de não olharem a contemplações nem a etiqueta, lá vão afirmando que se as coisas se não forem alteradas com a profundidade e extensão que deveriam, acabaremos numa morte lenta mas muito dolorosa. Só que meia dúzia continuará e ficará muito bem, se não for cá dentro será onde muito bem lhe aprouverem.
As condições actuais de exercício político só são comparáveis à indignação do Ultimato inglês lançado pelo nosso aliado histórico: a Inglaterra. Por isso, só falta um novo 31 de Janeiro para as coisas se recomporem, com a regionalização autonómica à mistura.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)