Regionalização e democracia

A regionalização, palavra que soa “mal”, com timbres cinzentos e foscos, deve aqui, neste escrito, ser entendida como autonomia regional.

Esta desconfiança adiantada e, talvez, sem fundamento, tem por base o que vamos vendo de há uns anos. Fala-se pouco de regionalização, dá-se-lhe pouca importância ou receia-se a importância das suas consequências.

A mudança súbita e feliz do 25 de Abril abriu horizontes para uma democracia plena, real, com participação de todos, com descentralização de poderes, com transferência de responsabilidades.

Uma democracia, construída por todos e para todos. Uma democracia onde os poderes centralizados nos Governos, nas Corporações, nos grandes grupos financeiros e económicos, se desvanecessem gradualmente. E, acentuo, se desvanecessem os poderes centralizados e quase intocáveis, para serem “apenas” parte da democracia e não predadores da dita.

Assim, governo após governo, ano após ano, a nossa democracia vem murchando e os portugueses vão-se afastando, distanciando, das coisas públicas. O tempo do eles é que mandam, eles que resolvam, nós não temos nada com isso é, cada vez mais, um sintoma, um reflexo de velhos tempos que, na realidade, ainda não se esfumaram, nem foram esquecidos.

Como parar este “monstro” que destrói lenta, mas seguramente, a democracia que nos vai fugindo debaixo dos pés?

Pés que nos pisam se disso os não impedirmos.

Mas voltemos à regionalização.

O que é que os nossos partidos, as nossas corporações e outros poderes nos vão querer dar?

Quando ouço dizer que as futuras regiões do país já estão definidas, que a regionalização administrativa já está praticamente feita, que já existem as estruturas necessárias para fazer a regionalização, fico mais do que preocupado, fico desesperado.

Gostaria de ouvir dos nossos partidos, do que está no poder e dos que estão na oposição, quais são os conceitos fundamentais para a futura regionalização.

O que é que realmente se pretende?

Criar uma “nova” rede de organismos entre as autarquias actuais e a administração central?

Mais estruturas, mais organismos, mais funcionários (igual a mais lugares para os boys)?

E, consequência pior, um cada vez maior distanciamento do cidadão em relação aos centros de decisão e, claro, do poder.

Li há dias os resultados de uma pequena sondagem (Público) de que destaco as principais conclusões:

- Os portugueses (a maioria) não gostam de maiorias absolutas:
- Os portugueses têm reservas quanto ao monopólio partidário (político);
- Os portugueses gostariam de participar mais.

Como satisfazer estes desejos da maioria dos portugueses?
A resposta pode estar na regionalização.

Uma regionalização que transfira poderes e responsabilidades para as regiões e destas para as autarquias:

Uma regionalização que emagreça radicalmente o Governo Central.

Uma regionalização que afaste um pouco os partidos, deixando, por exemplo, aos cidadãos o poder de escolher os seus dirigentes a nível autárquico. Começando por baixo, para construir um novo modelo, com mais e efectiva participação de todos.

Esta seria a “escola” para uma nova democracia, participativa, inovadora, exigente. E, consequentemente, com mais liberdade.

Nas escolas, propriamente ditas, procura-se ensinar os jovens a participar na vida pública, a interessarem-se pelas coisas públicas. E, depois?

Vão praticar como? Em eleições de 4 em 4 anos?
Ou enveredam por entrar para uma qualquer juventude partidária para garantir um futuro participativo (?).

A regionalização pode ser muita coisa, mas deve ser um princípio para uma nova forma de fazer política. Os partidos que aceitarem este caminho terão que mudar muita coisa, terão que refazer-se, democratizar-se.

Serão capazes?

|alcacovas|

Comentários

hfrsantos disse…
Estou de acordo que a Regionalizaçao tem conotaçoes muito negativas que nao podem ser menosprezadas, porque evoca:

- tornar Portugal Regional,

- tornar Portugal Provinciano.

Creio como o Autor que a melhor palavra é Autonomia Regional.

Defendemos a Autonomia Regional e nao a Regionalizaçao porque senao nao ha forma dos portugueses perceberem o que querem os Politicos.

Queremos Autonomia Regional!

Adaptem-se aos novos tempos, até o Portugues escrito ja se alterou desde que os portugueses andam nestas lutas pela Autonomia Regional!
Anónimo disse…
Caro hfrsantos,

Até poderá ser: 7 Autonomias Regionais em vez de 7 Regiões Autónomas, para não "ofender" ninguém nas respectivas susceptibilidades, de acordo com os elevados índices do nosso sensibilómetro nacional.

Sem mais nem menos,

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
hfrsantos disse…
Anonimo, é preciso saber passar a mensagem.

Os portugueses nao querem saber de REGIONALIZAçAO. Isso faz-lhes pensar em dividir Portugal em varias provincias.

é preciso atualizar o conceito de Regionalizaçao e explicar aos portugueses que o queremos é Autonomia Regional, para governar a Regiao, independentemente das crises politicas de Lisboa.

é hora de atualizar o discurso da Regionalizaçao!
Façam-se sondagens para perceber qual o termo que os portugueses compreendem melhor:Regionalizaçao ou Autonomia Regional.

Se queremos realmente ter Autonomia Regional é preciso saber fazer passar a mensagem.

Regionalizaçao é um termo demasiado despectivo para a maioria dos portugueses!!!
Anónimo disse…
Eu penso que os portugueses sabem o que é a Regionalização e o que é a Autonomia Regional.
Pelo menos sabem tanto disso como sabem de defice, dívida externa e cancro da pele.

Mas os portugueses, fartos de serem enganados pelos políticos, desconfiam, sempre desconfiaram, dessa coisa nova, a funcionar entre as Câmaras Municipais e o Governo.
E vai ter muita gente? Vai.

Bastou que um minúsculo grupo de "desestabilizadores" fizesse duas perguntas sacramentais, para o "povão" ficar de orelha à escuta.
E ainda ninguém respondeu.

Não basta dizer que a Regionalização é boa. Que vai trazer desenvolvimento. Menos IVA e menos IRS. Mais abono de família e mais rendimento sem trabalhar.

Falta dizer: - Quanto custa. Quem vai pagar.

Até lá, qualquer regionalista será sempre tido como alguém que faz... conversa de bananeiro para enganar mapuatas...

Incluam no projecto de Regionalização (cinco regiões) a redução de conselheiros de estado, e casas do PR, deputados, ministros e secretários de estado, adjuntos, assessores, secretárias e motoristas, sem esquecer os gestores públicos e outros que tais... apresentem contas e a Regionalização será tão popular como o campeão nacional de futebol...

Zé Lusitano