António Guterres e o futuro da Beira Interior

• Entrevista a António Guterres

«Tenho uma profunda esperança no futuro da região»


fotoP – Como conhecedor desta região, muito pela ligação que tem às Donas, considera que a Beira Interior se desenvolveu nos últimos anos?

R – Acho que continuamos a assistir a um ritmo de desenvolvimento muito interessante nesta zona. É evidente que as infraestruturas que foram construídas, como o regadio da Cova da Beira, o desenvolvimento da universidade, as auto-estradas ou a modernização da linha de caminho-de-ferro, contribuem para que deixe de ser uma região que está numa ponta para passar a estar no centro da ligação entre Lisboa e a Europa. Tenho uma profunda esperança no futuro da região e nas pessoas que aqui trabalham, bem como nas que dirigem os destinos políticos, económicos e sociais da região. É com muita satisfação que venho aqui e percebo que está melhor do que quando eu aqui trabalhava politicamente.

P – No caso do regadio, há ainda blocos por concluir, apesar de enquanto primeiro-ministro ter estimado que estaria pronto em 2006...

R – Muita coisa se foi fazendo. Há aspectos que por vezes sofrem alguns atrasos. Mas, se olharmos globalmente para a região, acho que temos que reconhecer que deu grandes passos, mesmo depois de me ter ido embora do Governo. E não quero, de maneira nenhuma, atribuir-me méritos.

P – O regadio ainda virá a tempo de “salvar” a agricultura da região?

R – Não conheço em detalhe a situação actual, mas o regadio já tem muita coisa feita. O que desejaria é que ele pudesse dar o maior contributo possível. Espero que o que falta seja feito na altura considerada mais adequada.

P – A região corresponde àquilo que imaginou?

R – A nossa imaginação nunca corresponde à realidade. Esta região tem pujança, que é sua e própria, que tem a ver com a capacidade de realização das gentes desta terra.

P – Numa altura em que há cortes de investimento um pouco por todo o país e também na região, o que diria aos beirões que continuam a exigir obras?

R – Neste momento é óbvio que as possibilidades do país serão limitadas em termos de investimento. Há que definir bem as prioridades e compreender que, quando se pode fazer só 50 e não 100, há que ter a garantia que as 50 que decidimos fazer são as mais importantes e as que podem ter um maior impacto para o futuro.

P – É um “embaixador” da UBI, tendo em conta também a distinção que foi concedida?

R – Creio que a UBI não precisa de embaixadores. O melhor embaixador é o seu prestígio e o seu êxito, nomeadamente o da Faculdade de Medicina. Muita gente dizia que uma faculdade aqui não iria para a frente. E aqui está a Faculdade de Medicina com uma pujança enorme e uma qualidade extraordinária. Naturalmente que tudo o que puder fazer para apoiar esta universidade, fá-lo-ei com todo o gosto. É naturalmente muito comovente para mim receber esta distinção da universidade, que é a universidade da zona onde os meus pais nasceram, onde tive sempre actividade política e de uma região à qual sempre me dediquei muito profundamente.


in O Interior (Guarda, Beira Interior), 06/05/2010

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