Almeida: um concelho que sofre com o centralismo (parte I)

Excertos da entrevista do Presidente da Câmara Municipal de Almeida, Prof. Baptista Ribeiro, ao diário "As Beiras":



Os 200 anos da Batalha do Côa vão ser comemorados amanhã. O alheamento da Presidência da República e do Governo irrita o presidente da autarquia que garante tratar-se de de um marco tão importante como as comemorações da República.

O concelho de Almeida e, sobretudo Vilar Formoso, assume uma posição estratégica e potenciadora de investimentos, tendo em conta a proximidade com Espanha e, naturalmente, com o resto da Europa. Sobretudo numa altura em que se fala de introdução de portagens nas SCUT e no aumento dos combustíveis.

Esta é a opinião de António Batista Ribeiro, presidente da Câmara de Almeida, que considera que “a posição, sobretudo de Vilar Formoso, neste contexto, é favorável à fixação de empresas principalmente as que se direccionam para a exportação”.
O edil sublinha, porém, que “o investimento na área social e na cultura e a aposta nas pessoas são de primordial importância”.

“O município de Almeida investiu, nos últimos quatro anos, mais de 10 milhões de euros anuais na criação de infra-estruturas básicas e de acessibilidades, apesar de receber de transferência do Estado cerca de sete milhões de euros”, explica.

António Batista Ribeiro está preocupado com o “esvaziamento do interior, sempre que se retiram postos da GNR, Serviços de Atendimento Permanente (SAP), se encerram escolas e acabam organismos e serviços”. “Estas medidas não ajudam a que as pessoas se fixem, venham para esta região que tem potencialidades e capacidades, valores humanos e culturais e onde há qualidade de vida”, lamenta.

Na sua opinião, “o país tem de ser repensado de forma diferente” e sublinha que existe uma “certa deformação da visão política do Governo face ao interior que urgentemente tem de ser revista”.

No caso do município de Almeida, António Ribeiro reconhece que a autarquia gera “poucas receitas, porque também recebe pouco do que são os impostos próprios e também porque optou por conceder alguns benefícios fiscais, nomadamente a redução de três por cento do IRS, não cobrar derrama e ter o IMI mais baixo e taxas de licenças”. “Tudo isto fez com que fossem arrecadados cerca de meio milhão de euros a menos relativamente ao ano anterior”, reforça o autarca.

Defensor da regionalização do país, sem contudo apontar um modelo, não hesita em afirmar que “as autarquias têm sido o motor que ainda dá vida nas zonas do interior e têm feito um trabalho fundamental para a coesão social, criação de infra-estruturas e de condições para que as populações tenham qualidade de vida”.

(continua)

in Diário As Beiras (Coimbra, Beira Litoral)


Comentários

josealexandre disse…
O sr. Professor tem toda a razão, basta ver o que está a ser feito do lado de lá da raia com o Ayuntamento de Ciudad Rodrigo, a Junta de Castilla y Leon e o estado espanhol...
As comemorações já começaram e envolvem um conjunto de acções diversificadas e ao alto nível das administrações locais e nacionais, pois as batalhas de Vilar Formoso/Fuentes de Oñoro e de Ciudad Rodrigo de 1810, a par da batalha do Sabugal foram decisivas para escorraçar de vez os franceses do território nacional, com a ajuda dos aliados espanhóis e ingleses.
josealexandre disse…
Com esta história das portagens até pode ser que Almeida venha a beneficiar, pois o turismo espanhol, que já é significativo fica pela raia, em vez de se infiltrar mais para o interior do país. Ou seja, um turista ou visitante espanhol, tendo em conta os custos comparativos entre pagar portagens e se deslocar para outros pólos, ficar-se-á pela raia e assim poupar essas dezenas de euros que pagaria em portagens, neste sentido, com as boas estradas que unem Vilar Formoso a Almeida e a Castelo Rodrigo, bem como a Pinhel, esta região poderá potencializar com o acréscimo de turistas que ficam e que não se limitam a passar, qual efeito de túnel, em direcção a outras regiões. No entanto, para as pessoas que precisam de se deslocar dentro da região os custos serão difíceis de comportar atendendo às distâncias longas e à falta de alternativas, pois o IP5 foi pura e simplesmente «roubado».