Douro Alliance: As Portagens Serão o Princípio do Fim

Há cerca de uns vinte anos a esta parte, começou-se a ouvir falar muito numa coisa que então se chamou “Eixo de Cidades”. O então ministro do Planeamento ou coisa que o valha, de um governo PSD, o professor Valente de Oliveira, surgia como o grande impulsionador, como o pai da ideia. Esta, apontava nada mais nada menos do que para a criação de uma cidade de média dimensão aqui na nossa região, e a ser constituída pelas actuais cidades de Vila Real, do Peso da Régua e de Lamego.

Estagnou-se contudo e à nossa velha maneira o assunto metidas que foram as intenções no gavetão enorme onde está tudo o que são promessas vãs feitas a uma região com um punhado de votos, e cujas lideranças mais não visam do que o momento de se irem daqui dependurar o pote na grande urbe aconchegados que nem pintainhos sob o calor das luzes da ribalta acesas por um qualquer padrinho benfazejo mas implacável cobrador de favores prestados e a prestar.

Mais tarde, vão para aí três ou quatro anos, a ideia ressurgiu, desta feita sob o capa de um projecto a que deram o nome de “Douro Alliance”. Já havia mais substância, objectivamente a componente essencial para a criação da tal cidade do Douro já existia e existe incorporada na auto-estrada que liga as três urbes rápida e seguramente entre si. A coisa avançou e materializou-se, ao ponto de ter gabinete montado, responsáveis próprios, e eventos já organizados e levados a efeito com todas as celebrações que se impõem.

Aos cidadãos entre os quais eu, e possivelmente quem isto lê, foi dito e pedido para se começarem a sentir não habitantes desta ou daquela cidade entre uma das três, mas antes da tal cidade de média dimensão atravessada pelo rio Douro e servida pela auto-estrada. Estar-se por exemplo na Régua e ir ao cinema a Vila Real, ou estar-se aqui e ir-se a um evento cultural a Lamego, seria, ou antes, já era e é mesmo fácil. Em termos de comparação, seria, ou antes, já é , como um portuense estar na Boavista e deslocar-se até à avenida dos Aliados, ou já agora, ao Estádio do Dragão. Tudo são andanças dentro da mesma cidade.

Pela minha parte e sem me querer armar, confesso que comecei a sentir este estado de espírito. Assumi-me como cidadão da “Douro Alliance”, apesar do estrangeirismo do nome. Pessoa que circula muito por aí como sou, encontrava e encontro caras pelo menos conhecidas em qualquer uma das cidades. Facilmente vejo gente de Vila Real em Lamego e na Régua, e vice-versa. Estávamos todos a começar a sentir-nos vizinhos com as ancestrais rivalidades esquecidas. Os muros do local estavam a cair. Já não há muro em Berlim, e no Douro começava a não haver. O universo mental alongava-se dentro de uma área metropolitana com muita massa crítica que sempre andou espalhada, desunida e improdutiva no sentido cívico da coisa.

A auto-estrada 24 utilizada com uma verdadeira via urbana estava a permitir este milagre. Estava, mas vai deixar de estar, pois caso a ponham com portagens lá se vai tudo por água abaixo. Nero ao incendiar Roma para seu deleite, pior maldade não fez do que o que agora se pretende fazer em relação à ideia de cidadania que estava a germinar. As portagens dentro da “Douro Alliance” para os seus habitantes e seus vizinhos, reafirmarão os limites territoriais depois de se terem gasto milhões e mais milhões de euros a tentar mentalmente destruí-los.

As portagens dentro do Eixo, serão o fósforo que vai incendiar e destruir uma cidade que morrerá antes de nascer. Há sortes assim.


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Comentários

Gregório disse…
Porque não vão queixar-se ao Passos Coelho???
Anónimo disse…
Porque foi o Socrates que gastou o dinheiro...