Escolha de Portugal e Espanha para Mundial de futebol de 2018 acelerará construção do TGV

Investigador diz que entrega da prova aos dois países seria a garantia de que a inauguração da alta velocidade será feita nessa altura

Se a vitória da selecção espanhola no Mundial influenciar, como muitos desejam, a escolha da candidatura conjunta de Portugal e Espanha para a organização do Campeonato do Mundo de 2018, então nessa altura aumentam as probabilidades de ficarem concluídas as linhas de alta velocidade Lisboa-Madrid e Lisboa-Porto-Vigo. De outra forma, tudo se arrastará por mais anos em sucessivos adiamentos.

Esta é a tese de Manuel Tão, actualmente investigador na Universidade do Algarve, que fez um doutoramento em Alta Velocidade no Institute for Transports Studies em Leeds (Inglaterra).

"Desde a criação do Mercado Único em 1992 até à actualidade, o investimento ferroviário em Portugal foi sempre secundário, quando não mesmo acessório", diz este especialista, que comparou as séries estatísticas sobre o investimento realizado em Portugal na ferrovia e na rodovia nos últimos 18 anos.

No entanto, "a proximidade de grandes eventos, como a Expo"98 e o Euro 2004 foram duas ocasiões únicas onde se verificaram dois picos no investimento ferroviário". Situação que o leva a concluir que um eventual Mundial 2018 constituiria um bónus para as linhas do TGV serem todas construídas até essa altura.

"Pelos vistos, só somos capazes de terminar as grandes obras quando temos uma meta impreterível", diz Manuel Tão, recordando que a electrificação da Beira Alta, o comboio na ponte 25 de Abril, as primeiras quadruplicações na Grande Lisboa, a linha vermelha do Metro são obras ferroviárias marcantes que datam do período 1997 a 1999. O segundo pico, entre 2002 e 2004, coincide com a preparação para o Europeu de Futebol, quando a Refer inaugurou o eixo Braga-Faro e electrificações na Beira Baixa e no Grande Porto.

Os números indicam também que, com excepção do período de 1997 a 1999 (em que o investimento realizado na ferrovia foi mais de metade do da rodovia), o caminho-de-ferro ficou-se sempre por um valor próximo da quarta parte do dinheiro aplicado nas estradas.

Só entre 2001 e 2007 o investimento na rodovia - que coincide com o período de cruzeiro das Scut - foi de 12,3 mil milhões de euros. "Um valor astronómico, muito superior ao que é necessário para construir a alta velocidade, mas sem qualquer polémica ou contestação", refere o investigador, que fala numa "revolução silenciosa" que teve o apoio de todas as forças políticas e da maioria da sociedade portuguesa e que agora vai custar caro. "Em contrapartida, os projectos ferroviários são contestados ou, no mínimo, discutidos apaixonadamente e sucessivamente adiados", argumenta este investigador.

É por isso que, a repetirem-se os cenários do passado recente, um Mundial organizado em conjunto por Portugal e Espanha em 2018 - de acordo com a candidatura apresentada pelos dois países junto da FIFA - seria a garantia de que, nesse ano, os adeptos já poderiam circular em TGV entre Madrid, Lisboa, Porto e Vigo.

Oficialmente o Governo mantém, nos documentos oficiais, que a linha para Madrid será construída em 2013 e Lisboa-Porto-Vigo em 2017, mas sabe-se que, devido às vicissitudes da Terceira Travessia do Tejo, a primeira destas grandes obras não estará nunca em funcionamento antes do fim de 2016.

|Carlos Cipriano|
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Comentários

Paulo Rocha disse…
Futebol = TGV