Região Centro - “Esta região precisa de uma voz que se faça ouvir em Lisboa”

ENTREVISTA - Diário Beiras Online

José Couto defende que o perfil discreto do beirão tem prejudicado a afirmação do Centro no contexto nacional. Nesta entrevista, o presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC) partilha ainda a sua preocupação em relação ao atraso registado na aprovação de projectos comunitários.

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P - Como se encontra a dinâmica económica da região Centro?
R - A avaliação que fizemos há pouco tempo permiti-nos aferir que a zona Centro continua a cobrir as suas importações e que há interesse em continuar a exportar. A região exporta muitos produtos industriais, mas os tecnológicos têm vindo a crescer. Por outro lado, a ligação entre as empresas e os centros de conhecimento está a obter resultados positivos. A Espanha, França e Alemanha representavam 83 por cento das exportações, mas, nos últimos tempos, os empresários procuraram outros destinos para os seus produtos, reforçando a sua presença nos Estados Unidos e na Ásia, o que é vital para minimizar os efeitos das variações do mercado.

P - Em que medida a regionalização pode favorecer a economia do Centro?
R - Temos consciência da importância e das vantagens que a regionalização pode trazer a esta região. Porém, há que ver a definição do mapa. Nós, o CEC, não queremos que esta região seja a periferia do Norte e do Sul. Por isso, acho que é importante começarmos a pensar na homogeneidade da região.

P - Quem deve liderar esse processo?
R - Esta região tem um problema que deve ser rapidamente ultrapassado: a falta de uma liderança. Sobretudo a zona considerada beirã, já que os extremos Norte e Sul conseguem capitalizar interesses, beneficiando da vizinhança com os centros de poder instalados nas duas grandes regiões do país. Portanto, continuamos a viver sob esta típica cultura beirã, que é a de estarmos calmamente na nossa região, que muito nos tem prejudicado, na medida em que tem faltado acutilância na discussão de muitas questões políticas do país.

P - Que se passa com as Zonas de Actividades Logísticas da região?
R - A logística é um dos fóruns de discussão lançados pelo CEC, porque temos de saber como vamos ultrapassar os Pirenéus e fazer chegar os nossos produtos de forma rápida e competitiva à Europa. Temos dois portos importantes, o da Figueira e de Aveiro, e o relacionamento privilegiado com as regiões fronteiriças espanholas. Portanto, há que definir o meio de transporte ambientalmente mais eficiente e economicamente mais competitivo para as nossas exportações e importações. Dito isto, e respondendo à sua pergunta, há que voltar a discutir a logística da região e saber por que motivo há plataformas que não avançam. A da Guarda não funciona e nós queremos que alguém nos diga porquê. E a da Figueira, que é fundamental para o desenvolvimento do porto, devia estar mais avançada.

P - O TGV é prioritário para a região?
R - Penso que o mais importante para a região é começarmos a discutir um modelo de transporte de mercadorias mais rápido por via ferroviária, como já referi, com ligação aos dois portos.

P - As portagens nas SCUT vão afectar significativamente a economia regional?
R - Há seis anos, o CEC disse que a A 25, A 23 e A 24 são vias sem alternativa. Entretanto, a realidade não foi alterada. Assim sendo, as portagens continuam a ser um factor inibidor para o desenvolvimento da economia.

P - Como estão as relações entre o CEC e o Clube de Empresários de Coimbra?
R - O CEC tem como sócios as associações empresariais, presta serviços às estruturas associadas e às empresas e tem dimensão regional, enquanto o Clube de Empresários de Coimbra tem um raio de acção local e é um fórum de reflexão. Por isso, não há aqui uma sobreposição de funções, e as relações são boas.

P - Com quem é que fala o CEC em Lisboa?
R - Para além de falar com os seus interlocutores habituais, detém a vice-presidência da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), que é o nosso lugar para discutirmos assuntos regionais com contexto nacional. É verdade que não temos o mesmo peso que têm as estruturas do Porto e de Lisboa, porque temos tido um comportamento de perfil discreto, consentâneo como a forma de ser do beirão. Continuo, pois, a defender que nos faz falta uma voz que se faça ouvir em Lisboa.

P - Onde se posiciona o CEC no novo enquadramento das principais estruturas empresariais do país?
R - Participamos nesta discussão na qualidade de vice-presidentes da CIP. Consideramos que o número de vozes que falam em nome das empresas deve diminuir. Mas o CEC vai continuar a fazer valer o seu estatuto de representante regional.

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P - Qual é a expressão da crise na região Centro?
R - A taxa de mortalidade das empresas tem aumentado brutalmente. Por outro lado, existem empresas com problemas de liquidez e de financiamento. Por causa disso, muitos empresários estão a diminuir a sua actividade e o número de trabalhadores, mesmo tendo condições para aumentar a produção.

P - A qualidade do ensino de economia e gestão da região tem a qualidade que o mercado exige?
R - Tem a qualidade necessária. Mas, na minha opinião, o ensino superior desta região não comunica bem alguns aspectos qualitativos e diferenciadores e que são casos de sucesso, ao contrário de outras escolas que o fazem de forma muito eficaz.
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Comentários

josealexandre disse…
A região Centro é uma falácia. As regiões só podem ser as regiões históricas que permaneceram por mais de 5 séculos, a saber:
- Entre Douro e Minho;
- Trás-os-Montes;
- Beira;
- Estremadura;
- Lisboa;
- Entre Tejo e Guadiana;
- Algarve;
- Açores; e
- Madeira.

Coimbra pertence à estremadura e de beirões não têm nada. A Beira corresponde grosso-modo aos actuais distritos de Viseu, Guarda e Castelo Branco, que durante séculos e séculos foi a região mais populosa do reino. A dita região Centro só quer fortalecer a cidade de Coimbra em detrimento do coração histórico da Beira que vai de Mondim da Beira a Monforte da Beira; do Tejo ao Douro; das alturas do Caramulo à Raia.
Aveiro, Coimbra e Leiria são estremenhos e não beirões: quem assim não pensa está equivocado no que respeita à História que vai da Recomquista às lutas liberais do século XIX. Só neste século a Beira foi retalhada e à parte setentrional da Estremadura foi dada a designação de Beira Litoral.
Vasquez da Gama disse…
Em termos históricos não posso comentar o que diz o josealexandre, mas a região centro tem de existir, e com capital no interior e não em Coimbra.
Fica mais uma noticia interessante das nossas regiões.
josealexandre disse…
A haver uma região Centro, esta deveria ter uma administração descentralizada: a sede de Governo Regional em Viseu em memória do local de «nascimento» de dois grandes vultos da portugalidade: Viriato e Afonso Henriques; a Assembleia Regional poderia ficar em outra cidade com peso histórico indiscutível: Aveiro, Coimbra, Guarda, Lamego...
Anónimo disse…
josealexandre, pode dizer o que quiser, mas eu sinto-me muito mais "beirão" que "estremenho"

A estrada da Beira começa em Coimbra, não se esqueça disso, e a cidade está cheia de pessoas que vêem ou são descendentes de pessoas do interior do distrito, ou de outros distritos da Região Centro. Temos muito mais afinidades com Viseu, por exemplo, que com Leiria...
Al Cardoso disse…
O que eu discordo e chamar-se as "BEIRAS" regiao centro, se bem repararem no mapa nem sequer ficamos no centro do pais.
Mas o nome nem e o mais importante o que sim deveria ser importante era que a regionalizacao trouxe-se um desenvolvimento mais equilibrado para toda a regiao e nao somente para as suas cidades maiores.
Estou convicto que se conseguiria isto em parte ja com a deslocalizacao dos varios servicos para areas mais ou menos centrais localizadas em pequenas cidades ou ate preferivelmente em vilas.
Olhem para o mapa e vejam la se a capital da regiao nao ficaria muitissimo bem em Oliveira do Hospital, Seia, Arganil ou Pampilhosa da Serra?

Um abraco de amizade regionalista dalgodrense