Uma telenovela chamada SCUT

Tivesse alguém dúvidas que neste mundo de Deus, e muito mais neste nosso brilhante país anda ou pelo menos parece andar tudo grosso, que logo com a telenovela em redor das SCUT elas se lhe acabariam.

Mediante a urgente necessidade de dinheiro para o equilíbrio das de há anos desgovernadas contas públicas, a governação lembrou-se de esquecer o dito o prometido, o jurado a pés juntos, e vem agora pôr a pagar o que antes, dizia-se, por uma questão de harmonia regional e justiça social era gratuito.

Desde logo os que sempre são contra porque é de sua natureza o foram e são, os que futuram os meandros da vida pelas cartilhas neo-liberais em que só quem tem dedos toca guitarra, mostraram e mostram o seu agrado, e os que são da situação, fazem assombrosa ginástica mental e argumentativa, para agradarem à nomenclatura partidária, sem que corram o risco de perder o pé junto das populações que lhe dão o ser político.

Chegámos pois então a este início de Verão, com a política a estorricar serpenteando pelos labirintos das estratégias partidárias de médio prazo, pois quanto ao curto, já poucos lhe ligam. Mais parece que já todos conhecem o desenrolar do filme, nada mais fazendo então do que esperar sentados ou pela morte do artista, ou pela recuperação do herói tido e achado como de sete fôlegos ao jeito dos gatos.

Cruzam-se argumentos e contra-argumentos, sem nada se acrescentar ou esclarecer nestes entrementes. As palavras estão gastas. Ao povo que nós somos, de nada lhe interessa a fita, pois sabe desde já que o projéctil de ricochete lhe vai acertar em cheio na carteira. Desdenhoso, encolhe os ombros, acomoda-se e busca outros entreténs para esquecer as agruras de uma vida em que lhe deitam cada vez mais carga no lombo.

Ladinos, alguns líderes regionais aproveitam a onda e colocam-se em bicos de pés, mostrando-se intempestivos e prontos a dar o peito às balas por amor dos seus eleitores e da sua região. O célebre Norte, e o badalado Algarve, têm bem quem jure a sua defesa até à morte. A revolta popular, afirmam, só não eclode, porque a coitada da Maria da Fonte há muito se foi desta para melhor.

Quem não tem escudeiros é o Norte Interior. Desse, os tais timoneiros do Vouga para cima, nem se lembram. Para eles, o Norte é o Porto e mais o que o rodeia imediata e territorialmente. Só para porem o odiado Algarve a pagar, exigem que todos paguem. Esquecem-se que o Interior que também é Norte, mas é muito mais pobre e isolado que as suas paróquias de junto à praia, não deve nem pode pagar.

Quando encerraram serviços em tudo o que é canto, quando centralizaram a vida quotidiana das populações nas cidades capitais de distrito ao ponto de a mais singela necessidade ali ter de ser suprida, as vias rápidas, as Scuts, são de uso obrigatório. Não são estradas por onde se vai esporadicamente laurear a pevide. Ligando vilas e cidades pequenas que tudo perderam em função da urbe maior, assumiram o papel de eixos de circulação rodoviária interna e urbana.

Claro que custaram dinheiro a construir e custam dinheiro a manter. Mas então se o dinheiro dos impostos entre outras coisas, não pode ser usado no combate das assimetrias e das desigualdades, para que serve ? Serve unicamente para pagar o funcionamento da máquina estatal centralizada essencialmente nas duas principais cidades do país? Mais numa que noutra, mas presente em ambas.

No Interior, de ponta a ponta, de cima a baixo, ajudámos a pagar equipamentos lá longe que nunca usámos. Se os de lá nos ajudarem a pagar estes de cá, não fazem favor nenhum. Não devemos pagar portagens entre as nossas principais localidades. Digo eu. O resto, por exemplo, se formos a Viseu dar uma volta, pois praticamente é só para isso que lá vamos, então sim, digam quanto custa.

Não nos tratem é como Sendo Como Uns Trouxas.
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