Norte espoliado

|Hernani de J. Pereira|

Em tempos já longínquos o Norte era constituído por alguns casos de riqueza, de opulência até, de um património histórico e geográfico ímpar e, acima de tudo, caracterizado por encantos e recantos de admirável beleza. Em muitos dos seus lugares - em cada rua, esquina ou largo – respiravam-se valores nobres e erguiam-se majestosos edifícios.

Descontando a uberdade monetária, no concerne ao outrora edificado, o mesmo ainda se conserva em relativo bom estado, proporcionando-nos o prazer de uma visita demorada, personalizada e o mais luxuosa possível.

Todavia, das suas admiráveis paisagens, infelizmente, não podemos dizer o mesmo, pois pouco mais resta que vestígios, reduzidas que estão a meros quadros cinzentos. Os fogos têm-se encarregado de as destruir, mercê de mãos criminosas, dizem uns, de incúria dos proprietários, afirmam outros, ou de desleixo governamental, acusam os restantes.

Por isso, torna-se urgente a sua reabilitação.

Ora, para que tal se concretize é absolutamente necessário dinheiro. Mas como se poderá concretizar tal ditame se, ainda hoje, se soube que o Governo desviou para cima de 154 milhões de euros de fundos comunitários das regiões mais pobres para os aplicar em Lisboa?

Quando para além destas adversidades, acrescentarmos o encerramento de tantas e tantas unidades hospitalares e de ensino, muito superior a qualquer outra região do país, bem como as contrariedades inerente à interioridade, será que nos podemos admirar da consequente desertificação?

Nunca advoguei a regionalização. Contudo, este e outros casos semelhantes levam-me a considerar que talvez seja a altura de mudar de opinião.
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Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

A verdadeira espoliação não parece estar localizada nesta ou naquela região, nesta ou naquela cidade ou vila, mas na 'incapacidade' em resolver os défices de vária natureza na economia portuguesa, nomeadamente ao nível da gestão do orçamento do Estado.
Passarem tantos anos sem uma resolução definitiva deste magno problema, o qual em comparação com outras situações de desequilíbrio anteriores tem ainda a pressioná-lo volumes muito superiores de dívida pública e privada, de défice permanente nas contas externas, de crescimento económico divergente em relação às economias mais desenvolvidas, de autofinanciamento insuficiente das empresas e das famílias (por razões conhecidas ou encapotadas), taxas de 'agasalhamento' de capitais em paraísos fiscais desproporcionais em relação à dimensão da economia portuguesa, etc., etc., é um sinal de incompetência política e técnica que faz recear pelo pior num futuro próximo.
Por isso, aqui está a verdadeira espoliação porque as populações não vêem os seus problemas resolvidos de forma estruturada e definitiva, por quem tem a obrigação de os ter resolvido a tempo e a horas, com uma distribuição de responsabilidades políticas quase equitativas desde o 25 de Abril de 1974.
E se as soluções de natureza executiva ou governamental são insuficientes o nível de decisão terá de 'subir' obrigatoriamente, para que quem governe se capacite terá de encontrar as soluções adequadas para os problemas que persistem tempo demais. Se existe capacidade então que o façam, se não a têm tenha a coragem e a pressa de se demitirem mas que assumam as responsabilidades políticas inerentes, sem se caucionar a entrada de outros políticos com idênticas qualidades as até agora demonstradas para se evitar 'mais do mesmo'.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
ravara disse…
No ciclo do Império a população saía da sua terra e entravam divisas na Praça. Que rica vida deveria ser a dos imperialistas! Foi o tempo dos solares, muito mais tarde por altura do PREC houve o ciclo dos Ferraris, não confundir com o ciclo do PEC em vigor, que segundo Imhotep é uma consequência natural e lógica de todos os ciclos anteriores. Para evitar isto a Constituição deveria prever a avaliação de todo o autarca em função dos ganhos e perdas populacionais e agir em conformidade.