"Norte de Portugal e Galiza formam um país"

Presidente do Conselho Económico e Social considera que a região Norte foi das que mais perderam com a globalização

"O país está numa situação muito complicada e antevejo muitas dificuldades nos próximos tempos. Temos o problema da dívida perante o exterior e o provável aumento das taxas de juro", afirma José Silva Peneda, recém-eleito presidente do Conselho Económico e Social.

No âmbito da iniciativa "Almoços JN", o ex-ministro de Cavaco Silva e antigo eurodeputado pelo PSD, olha com preocupação para a actual situação sócio-económica do Norte e propõe soluções no quadro da União Europeia (UE) para as regiões que mais sofrem com a globalização.

"Se imaginássemos que os Estados centrais implodiam, a Galiza e o Norte de Portugal formam claramente um país, partilhando características muito próprias", acrescenta, mostrando-se um adepto do aprofundamento dos laços daquela euro-região. Apesar das similitudes, o fosso de desenvolvimento é hoje notório. "Há cerca de uma década, o PIB per capita da Galiza e do Norte de Portugal era idêntico e agora a diferença é superior a 40%. A grande diferença entre as duas regiões ibéricas reside na organização do respectivo sistema político".

Silva Peneda considera que há políticas que fazem sentido para o Norte e não para outras regiões. " Se houvesse regionalização, ninguém imagina que as políticas para a região Norte fossem fotocópia das políticas do poder central.

Em conversa com o director do "Jornal de Notícias", José Leite Pereira, o eleito presidente do CES, que ainda aguarda pela data da tomada de posse, recuou aos tempos da sua juventude, altura em que frequentava o liceu D. Manuel II, no Porto. Entre os anos 50 e 70, o 5.º ano de escolaridade era a ambição que a família média portuense tinha para os respectivos filhos. Era a garantia de emprego, nomeadamente na banca. Mas tudo mudou. O mestrado é hoje o objectivo de quem estuda e os empregos para quadros qualificados escasseiam no Porto. "Depois do 25 de Abril, era natural ter reuniões no Porto com administradores de bancos e de companhias de seguros. O próprio BPI e BCP, que nasceram na CCDR-Norte, já não têm a administração no Porto. Hoje em dia, um jovem quadro da banca que esteja no Porto está sem perspectivas de evoluir na carreira".

Mas a escassez de empregos no Porto é apenas um sinal de que algo está mal no conjunto da região Norte, um facto que os indicadores económicos regionais têm provado. Fundando-se na sua experiência ministerial e recorrendo ao seu passado recente enquanto eurodeputado, Silva Peneda avança com propostas concretas no capítulo dos fundos comunitários.

A distribuição dos fundos dentro da União Europeia (UE) é feita em função do critério das regiões mais pobres. "É uma análise estática. Acho que devíamos introduzir aqui uma análise dinâmica. Com a globalização, há sempre o risco de perder, mas o mesmo fenómeno fez com que várias regiões alemãs que exportam tecnologia têxtil ganhassem. Não é nada de novo. Quando o problema se colocou com a siderúrgia alemã, na bacia do Ruhr, houve apoios substanciais. Não vi qualquer voz a exigir esta reforma".

José Leite Pereira não deixou de questionar o presidente do CES sobre a viabilidade de programas específicos para regiões como o Norte de Portugal. "Tudo depende da forma como a ideia for apresentada. A questão nunca deve ser apresentada como sendo o problema da minha região", respondeu, lembrando que Portugal conseguiu, no passado, algo semelhante com o Programa Específico para o Desenvolvimento da Indústria Portuguesa (PEDIP).

O desvio de verbas do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) do Norte para a região de Lisboa - efeito "spill over" - merece um breve comentário por parte de Silva Peneda. "Não concordo e é uma coisa mal feita para resolver um problema surgido na capital. O problema está mais nos princípios e menos nos montantes envolvidos".

O Norte também perdeu com a fusão dos patrões (AEP e AIP)? Silva Peneda discorda. "Quanto mais fortes forem os parceiros sociais, tanto melhor", diz o recém-eleito presidente do CES.

|JN|
.

Comentários

templario disse…
Pois, pois....

É o que eu digo.

"Norte de Portugal e Galiza formam um país"...

Simultaneamente o Sr. Pinto da Costa conta anedotas para a televisão sobre os mouros...

Regionalização com "poder político efetivo", é o que estes senhores já pregam....

Imaginem o que seria depois....

E ainda, depois, iriam mais longe:

A língua galaico.duriense é a mãe, o português de Portugal é filho e o português do Brasil passa a ser brasileiro porque da mesma mãe é filho. Muitos académicos no Brasil aguardam por este desfecho.

E com razão: se não pararmos estes regionalistas, era uma vez um território que se chamava Portugal...

Também não admira, a conduta empírica destes senhores foi sempre em manobras e golpes de poder, a única qualidade que desenvolveram nos últimos 30 anos.

Quanto a servir Portugal, é o que sabemos e está à vista.

A consciência e pensamento de cada um depende da vida, do meio, da realidade em que cada um vive. E estes senhores viveram sempre a raciocinar sobre formas e dimensões de poder. São uns faias.

Quanto à vida do povo português, ao futuro de Portugal.....
Caro Templario,

Conforme já lhe disse em várias ocasiões, a prevalência deste modelo politico/administrativo centralista (sem um patamar intermédio de poder onde as pessoas se possam, com mais facilidade, rever) começa a dar alguns sinais de 'quebra' da nossa unidade nacional.

A regionalização, também, neste aspecto, apresenta-se como decisiva para a manutenção da unidade nacional.

Cumprimentos,
Anónimo disse…
É uma falácia meter no mesmo saco todo o norte de Portugal.

Trás-os-Montes pouco ou nada tem a ver com Galiza. Podem falar em Entre-Douro e Minho mas a região transmontana está mais ligada a León.