Porto - mais uma machadada?

Mais um triste fim?

A Academia Contemporânea do Espectáculo (ACE) tem sede no Porto e tem, desde há anos, um projecto e um curriculum que fazem jus ao nome que ostenta. Desse projecto, faz parte ter casa e, para o efeito, decidiu abalançar-se à recuperação do chamado "Teatro do Bolhão", para o que se candidatou a verbas do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN).

O projecto apresentado foi bem avaliado e a candidatura foi bem-sucedida. Por isso, ficou à disposição da Academia um milhão de euros que, de acordo com o programa de financiamento, tem a seguinte composição: 700 mil euros de fundos comunitários e 300 mil de comparticipação nacional.

Embora o relatado atrás pareça uma pequena história de sucesso, a verdade é que tudo se conjuga para que a história acabe mal! E porquê? Porque o Ministério da Cultura, departamento a quem cabe(ria) assegurar a comparticipação nacional, já não quer dispor do dinheiro que tinha prometido e que, naturalmente, inscreveu no seu orçamento, sem o que a referida candidatura ao QREN não podia ter sido considerada. Tudo aponta, portanto, para que o que podia ser uma "peça" com um "fim feliz", ameace transformar-se numa tragédia, com a súbita morte do personagem "na praia", ou seja, já muito perto da salvação.

Claro que "estórias" como esta não são raras e as leituras que têm não são poucas. Dirão uns que é a fruta do tempo e que o tempo é de crise mas, outros, dirão que o "filme" já é por demais conhecido para ser credível e que, ainda que com personagens diferentes, passa sempre pelo mesmo enredo! Ou por outra: será que se pode desligar este episódio de outros como, por exemplo, o de tentar "racionalizar" o Teatro Nacional de São João, levando a sua Administração para Lisboa, ou, ainda, o das sempre anunciadas e logo a seguir desmentidas tentativas de "racionalizar" de igual modo o porto de Leixões ou o aeroporto de Francisco Sá Carneiro?

Dir-se-á que uma coisa não tem a ver com a outra! Talvez. No entanto, não deixa de ser curioso verificar que todos estes casos (entre muitos outros) são, reconhecidamente, "casos de sucesso" que não cessam de ser badalados quando dão jeito para as estatísticas ou para o "visual" externo do país e de ser silenciados quando se toma consciência de que, afinal, têm cabeça "na província" e, por isso, precisam de ser "racionalizados"!

No entanto, no caso do Teatro do Bolhão, os contornos do problema são, se possível, ainda mais preocupantes: primeiro, porque se trata da conclusão de uma obra na qual já foi feito um investimento significativo e para o qual concorreram instituições tão diversas como, por exemplo, o Ministério da Educação, a Câmara do Porto, a Fundação Gulbenkian ou a Fundação Eugénio de Almeida, para além de diversos mecenas privados; depois, porque, a não realização da segunda fase da referida obra (a que agora se encontra em risco) torna praticamente inútil e irrelevante o investimento feito na reabilitação já concluída do "Solar do Conde do Bolhão" (casa mãe do "anexo" que é a antiga litografia e onde vai localizar-se o teatro); depois, ainda, porque se trata de um conjunto classificado como patrimonial pelo próprio Ministério da Cultura com um projecto de reabilitação de elevada qualidade arquitectónica e cuja não conclusão é um prejuízo efectivo, o que não vai de acordo com os tempos; por fim, porque não cumprir com um compromisso realmente assumido é isso mesmo, ou seja, é não cumprir com a palavra dada e, portanto, a credibilidade que se vai!

Acresce que a única instituição que, até hoje, nunca ultrapassou a fase das promessas, foi, exactamente, o próprio Ministério da Cultura! Mas, convenhamos que a concretizar-se o "triste fim" que se anuncia e teme, seria interessante saber "para onde", afinal, e para que nova "racionalização", vão, então, os tais 300 mil euros que o mesmo Ministério inscreveu no seu orçamento e de que, agora, pelos vistos, não quer abrir mão? Mais uma vez... esperamos para ver.

|M Correia Fernandes|
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