Norte - Uma outra perspectiva

|Rogério Gomes|


Os dados sobre a conjuntura económica no Norte não são animadores, mas também não são inesperados. O desemprego chegou ao máximo histórico dos 13,2 por cento da população activa; entre os jovens, um em cada cinco não tem trabalho; quase um terço dos nortenhos tem mais de 65 anos; concelhos de grande concentração populacional e de indústrias tradicionais como Santa Maria da Feira, Barcelos ou Vila Nova de Gaia vêem a oferta de emprego diminuir todos os trimestres, etc.

O Norte está em declínio há anos e não há perspectivas de melhoria. Ou melhor, na actual perspectiva não há melhoria possível. O Norte já foi o motor económico do País, já foi o pulmão da recuperação económica quando era a indústria o verdadeiro cerne da economia. Era aqui que os têxteis, o vestuário, a pesca, as conservas, a metalomecânica, o calçado, a cortiça, os lacticínios, o vinho, a agricultura e outras actividades verdadeiramente produtivas vestiam, calçavam e alimentavam o País e ainda sobrava para exportar e fazer entrar divisas do estrangeiro.

E com este poder económico o Norte tinha peso político e social em Portugal.

A pouco e pouco, e hoje aceleradamente, toda esta riqueza e o respectivo poder se esvaíram. E não há inocentes. Os que durante décadas comandaram o País e não quiseram saber de nada que não fossem grandes investimentos estrangeiros a quem facilitaram e deram tudo, o sector dos serviços que cria valor a partir do nada ou de muito pouco, do Turismo e principalmente dos fundo europeus. Sem perceberem que, enquanto entravam milhares de milhões de euros por Portugal dentro, se foi destruindo o já de si incipiente sector produtivo nacional e, assim, eliminando os factores que permitem a qualquer País um mínimo de independência económica em momentos de aperto internacional.

Culpados também os que, tendo consciência do que estava a acontecer, não foram suficientemente persistentes na denúncia ou que se acomodaram face ao aparente progresso espelhado nos quilómetros de auto-estradas, nas centenas de centros comerciais e shoppings, no nascimento do “jet set”, das redes de televisão por cabo, no facto de os portugueses serem dos mais ricos em telemóveis e carros de luxo… e de termos uma cidade-capital entre as mais caras do Mundo.

A questão da distribuição da riqueza não se põe apenas ao nível dos ricos e dos pobres, mas também entre as regiões. Aquilo que digo em relação ao Norte pode afirmar-se em relação a qualquer outra região de Portugal continental: a diferença de rendimento disponível e de qualidade de vida entre um português que viva em Lisboa e outro de qualquer outra região é enorme.

Portugal nunca será um País desenvolvido enquanto estas diferenças se verificarem. E, dêem por onde derem, só é possível atenuar estes desequilíbrios quando as regiões puderem decidir em função das suas prioridades em todos os domínios que não ponham em causa a coesão e o interesse nacionais.

A Regionalização é a reforma que pode permitir a mudança de perspectiva indispensável para encontrar o caminho de saída para a crise. Não só para uma parcela do País mas para todo ele. É assim em toda a Europa, terá que ser assim em Portugal.

|GP|
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Comentários

António Correia disse…
Esta é na minha perspetiva a divisão do território mais racional.
A regionalização dificilmente avançará, os "nossos" políticos são maioritariamente centralistas.
Veja-se quando algum nortenho passa a fazer parte de um qualquer governo, no que rapidamente se transforma...
Anónimo disse…
Pois, é. Mas o FQP vai ser campeão. O que interessa o desemprego? Até o Bruno Pidá é uma jóia de pessoa... O Norte tem o que merece...
Causas justas? Mesas de negociações? O que é isso?