Os tristes discursos neocentralistas (que só afastam as pessoas da Regionalização)

P – Para além do metro, a assembleia municipal vai também discutir o Plano Estratégico de Coimbra…

R – Sim. E é uma matéria relevante que pode levar Coimbra a tomar uma posição relativamente ao IC6, que eu, do ponto de vista estratégico, considero substancialmente mais estratégico do que o metro, não querendo, claro, menorizar a situação dramática que as populações de Miranda e da Lousã vivem hoje. Mas, para o desenvolvimento da cidade e do distrito de Coimbra, parece-me estrategicamente mais importante a ligação à Beira Interior e, a partir daí, a Castela e Leão. Infelizmente, a Comissão de Coordenação da Região Norte já percebeu isso e antecipou-se. Em Outubro, estabeleceu parcerias com a Galiza e Castela e Leão.

P – Isso é uma crítica ao plano?

R – O que me parece é que o Plano Estratégico, elaborado pela Deloitte, é pouco ambicioso. Falta-lhe este rasgo de ter percebido que Coimbra, emparedada entre Lisboa e Porto, deveria ter construído a sua solução de expansão a leste, passando por uma ligação fortíssima com a Beira Interior, garantindo para Coimbra a drenagem da procura de soluções especializadas que, hoje, as pessoas da Covilhã e Castelo Branco já procuram em Lisboa. E, também, uma ligação a Espanha, ao corredor Salamanca-Burgos, que nos leva ao coração da Europa e que pode garantir a Coimbra ser o ponto de passagem de Portugal para a Europa.

(...)

P – Este plano estratégico é o legado do supervereador João Rebelo?

R – Este é muito o plano de um homem só. O eng. João Rebelo tomou a iniciativa de mandar fazer esta análise de Coimbra e a construção da sua estratégia para o futuro, mas entendo que, depois, fechou em demasia a sua discussão e a própria forma como a organizou: foi o eng. Rebelo que, sozinho, escolheu as pessoas e organizou reuniões, que foram, a meu ver, pouco arrojadas, o que se revela nas conclusões dos grupos de trabalho, que nada trouxeram de novo, como por exemplo, a discussão do caminho de futuro para Coimbra. Na minha perspetiva, o futuro da cidade tem de ser sempre visto como o futuro de uma região. Coimbra será sempre a capital de uma grande região Centro – e penso que o será a breve prazo, com o ressurgir da regionalização. Mas, claro, só o será de forma inquestionável se ganhar essa dimensão crítica.

Luís Providência
Vereador da Câmara Municipal de Coimbra
em entrevista ao Diário As Beiras (Coimbra, Beira Litoral)


Nota do editor:

É este tipo de discurso que mina completamente as chances de sucesso de uma reforma como a Regionalização. Uma reforma que tem tudo para dar certo, que tem tudo para trazer benefícios a toda a gente, a todas as zonas do País... A menos que aconteça o que declarações como estas querem.

Atenção, regionalistas: isto é o discurso de quem quer uma cidade a centralizar uma região. Uma cidade a fazer com o "centro" aquilo que Lisboa faz com o País. Uma pessoa a defender que a sua cidade deve fazer aquilo que os seus cidadãos tanto têm criticado em Lisboa por fazer. Um responsável político que, em vez de se preocupar em dar aos cidadãos da cidade e zona metropolitana de Coimbra melhores infra-estruturas e condições de vida, acha mais "prioritário" insistir em criar uma relação completamente artificial, que ele sabe não existir e poucas razões ter para existir, com a Beira Interior, para a arrastar para esse híbrido chamado "região centro", com o único objectivo de fazer de Coimbra "sempre a capital". O que dirão as 400 mil pessoas da Beira Interior quando lêem isto? O que dirão os cerca de 1 milhão de habitantes da Beira Litoral que vivem fora de Coimbra? Ora, em Coimbra e no Baixo Mondego não vivem mais que 400 mil pessoas- e, como sei que a maioria dos conimbricenses tem uma visão global das coisas, sem bairrismos exagerados, sei também que a maioria não defende um centralismo tão descarado. Se olharmos as coisas num contexto verdadeiramente regional, conclui-se facilmente que este tipo de discurso colhe muito mais ódios que adeptos. Ou seja, discursos destes são um bom argumento para minar o processo de Regionalização com guerrinhas exageradamente bairristas, parolas e desnecessárias.

Isto não é discurso de regionalista: é discurso de centralista. E temos que combater este tipo de discursos com a mesma veemência que combatemos os discursos dos que querem a manutenção do centralismo no Terreiro do Paço.
A quem se quer aproveitar da Regionalização para criar novos centralismos, respondamos: não, obrigado!


João Marques Ribeiro

Comentários

Al Cardoso disse…
Eu sou um dos que tudo farei ao meu alcance, para que nao haja novos centralismos, sejam de Coimbra ou qualquer outra cidade.
A regionalizao e uma outra coisa; regionalizemos e descentralizemos, distribuindo servicos e competencias por toda a regiao!