A Regionalização e as Potencialidades do Espaço Minho

Numa altura em que o tema Regionalização tem vindo a ser novamente debatido, até como chamariz de alguns candidatos à Presidência da República, será curioso falar sobre a conveniência da criação da “Região Minho” (distritos de Braga e Viana do Castelo). Não será fundamental referir uma divisão geográfica, uma vez que há pleno consenso sobre esse assunto. Mas sim, referir a criação de um centro de decisão único para o Minho, que facilite a resolução dos seus problemas económicos e sociais.

Esta Regionalização, defendida por muitos presidentes associativos e governantes do Minho, pretende mudar o rumo do planeamento estratégico e prioridades decididas em Lisboa, que não tomam atenção às especificidades e carências de cada região.

Se for possível concretizar a ideia de um Minho autónomo, seria praticável a candidatura individual a Fundos Comunitários Europeus alcançado assim, uma maior captação dos mesmos. E posteriormente, investir no território e fazer frente às dificuldades económicas e obstáculos que impedem o desenvolvimento da região Minhota.

Um ponto muito importante nesta discussão, é a necessidade de rejeitar a proposta da divisão do país em 5 regiões administrativas, o que faz com que a região Minho se inclua no centro administrativo Entre-Douro e Minho (Viana do Castelo, Braga Porto, Aveiro, Viseu e Vila Real) ou Região Norte. Esta decisão acarreta a implicação de todas as regiões incluídas ficarem sobre alçada do Porto, o que pode fazer com que desenvolvimento deste possa ofuscar o desenvolvimento das outras regiões.

No caso de se proceder a esta divisão de 5 grandes centros de decisão, as desigualdades económicas, sócias e de oportunidades vividas no Norte do país, poderão não melhorar ou ainda acentuarem-se, uma vez que o Porto rege-se por uma óptica centralista de receitas, despesas e de investimentos.

A região do Minho possui uma identidade própria e muitas potencialidades, quer geográficas, quer económicas e culturais que lhe permitiriam ter, com sucesso, uma estrutura única e autónoma de administração.

Um dos sectores de grande importância na região é o turismo, devido à diversificação geográfica, o Minho concilia zonas montanhosas de grande beleza paisagística e reservas naturais, como o caso da Serra da Peneda do Gerês, com uma zona costeira ainda conservada, de clima ameno e com uma vista marítima encantadora, uma harmonia perfeita para momentos de lazer.

Outras grandes potencialidades são encontradas no sector secundário, existe uma forte industrialização no sector têxtil, nomeadamente do vestuário, o sector mais relevante para a economia da região, e no sector de alimentação e calçado. O sector têxtil do Minho é reconhecido nacional e internacionalmente pela qualidade dos seus produtos. Outro sector de grande peso é a indústria naval em Viana do Castelo, que possui o maior estaleiro de reparação e construção naval de Portugal.

A zona é distinta pela sua histórica e tradicional paisagem, pela riqueza gastronómica, pela actividade artesanal ainda activa, particularmente o ouro e o barro, pelos produtos naturais fabricados, e pelas tradições e extensos monumentos de natureza religiosa.

A proximidade do Minho com Espanha, também será uma vantagem, facilitando a comunicação e cooperação transfronteiriça com o país vizinho.

A região conta ainda, com uma população jovem e dinâmica, com estudos e à espera de encontrar o seu lugar no mercado de trabalho. Existem inúmeras razões que provam, que o Minho tem capacidades para seguir um percurso independente.

Com o actual planeamento estratégico vigente no nosso País, as desigualdades de oportunidades entre regiões estão a tornar-se, cada vez, mais acentuadas, ficando regiões como o Minho paradas no tempo e a sofrer as consequências da profunda crise.

É necessário reescrever um futuro mais promissor, mais sólido e mais democrático para o País, onde a capacidade de desenvolvimento é para todas as regiões e não apenas para os grandes centros.

Diana Gomes - EEG/UMinho


|J. Cadima Ribeiro|
.

Comentários

Rui Valente disse…
«Um ponto muito importante nesta discussão, é a necessidade de rejeitar a proposta da divisão do país em 5 regiões administrativas, o que faz com que a região Minho se inclua no centro administrativo Entre-Douro e Minho (Viana do Castelo, Braga Porto, Aveiro, Viseu e Vila Real) ou Região Norte. Esta decisão acarreta a implicação de todas as regiões incluídas ficarem sobre alçada do Porto, o que pode fazer com que desenvolvimento deste possa ofuscar o desenvolvimento das outras regiões.»

Esta, de as regiões ficarem sobre a alçada do Porto e deste se reger por uma óptica centralista de receita, faz-me alguma confusão. O cemtralismo desenvolve-se a partir dos centros do Poder e, que eu saiba, até agora, e nos últimos anos de forma mais acentuada, os centros do Poder estão todinhos plantados em Lisboa. Mas, se calhar ando mal informado.

Acho que esta é a mentalidade Sony, aquela que fazia o vizinho invejar o tamanho da televisão do outro. Lembram-se? É assim que a Regionalização NÃO SE FAZ!
Caro Rui Valente,

Cabe-me a mim enquanto coordenador deste 'blog' dar voz a todos as opiniões sobre esta matéria da regionalização, concordando ou discordando delas.

Sobre este 'post' em concreto, partilho da sua opinião, este argumento do centralismo do Porto é, no mínimo, forçado.

Não podemos confundir a regionalização com bairrismo, sobre pena de, para o processo avançar e estar toda a gente de acordo, serem preciso criarem-se, não cinco regiões, mas, para aí, umas 20!

Cumprimentos
Caros Rui Valente e António Almeida Felizes:

É verdade que os centros de poder estão todos em Lisboa, mas não deixa de ser verdade que o Porto já deu sinais de ter uma atitude demasiado parecida com a de Lisboa quando tem algum poder.

No caso concreto dos poderes "descentralizados" para o "norte", tudo tem sido demasiado tratado nas esferas de poder do Porto. O resto da "região" pouco ou nada vê.

Tudo isto somado à ausência de uma identidade regional, que nunca existiu e nunca existirá, apesar da insistência de alguns círculos do Porto em impô-la (um JN que faz questão de repetir até à exaustão a palavra "norte" em cada edição; um Porto Canal que quer ser "um canal do norte" sem perder os vícios de uma televisão urbana; um semanário Grande Porto que sofre dos mesmos males...), faz as pessoas do Minho e, principalmente, de Trás-os-Montes, desconfiar. E, pior que isso, não vêem qualquer vantagem numa Regionalização destas...

Esta faceta centralista vai-se mostrando, para choque dos minhotos e transmontanos, com decisões como a de chamar à região de turismo "Porto e Norte", demonstração demasiado clara de centralismo, que pouco ou nada difere da do Terreiro do Paço.

Portanto, os minhotos e os transmontanos estão desconfiados e, compreensivelmente, pensam que mudar o poder de sítio não lhes adiantará de muito, ainda por cima sabendo que a Regionalização acaba com os distritos, que são o único poder que resta nessas regiões.

Penso, por isso, que há necessidade de deixar de ter a questão da Regionalização centrada no Porto, e passar a pensar numa Regionalização que sirva os interesses de todas as regiões.

E isso só se resolve com as 7 regiões, com poder distribuído pelas actuais capitais de distrito.

PS:

1-Para uma melhor percepção desta problemática do "portocentrismo", nomeadamente face ao Minho, podem ver o debate que tive com um participante do nosso blogue uns posts atrás:
http://www.regioes.blogspot.com/%3c$BlogItemCommentCreate$%3e

2-Escrevo isto enquanto vejo a entrevista de António Barreto, que está a defender uma profunda descentralização, nomeadamente no sector educativo, deixando ao Ministério apenas a responsabilidade de elaborar currículos e pouco mais...
Ora, sabendo que Barreto é absolutamente contra a Regionalização, suponho que esteja a defender que haja, em Portugal, 308 maneiras diferentes de gerir o sistema educativo... Está-se a ver a confusão que isto iria dar!
Mais uma vez, chega-se à conclusão que a descentralização eficaz só é possível com Regionalização.

Cumprimentos,