Crise: Região Norte vê a luz ao fundo do túnel

Se há momento propício a más notícias é este. Com o INE a rever em alta o défice público e a troika em Portugal, torna-se fácil ignorar as luzes de esperança. Mas elas existem. A indústria nortenha terminou o ano de 2010 dando claros sinais de recuperação através do aumento das exportações, em contraciclo com a saúde financeira do Estado. Segundo o secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, Valter Lemos, o Norte “é uma das regiões que mais rapidamente estão a ultrapassar a crise”.

Dos 11.896 milhões de euros arrecadados 2m 2009 pelas indústrias do Norte com matéria escoada para o estrangeiro, passámos para os 13.106 milhões de euros no ano passado. Nos dois primeiros meses de 2011, estas empresas venderam produtos no valor de 2.126 milhões de euros, revelam dados fornecidos ao GRANDE PORTO pelo Instituto Nacional de Estatística.

Foi a procura externa líquida a principal impulsionadora do ligeiro crescimento verificado no Produto Interno Bruto português nos últimos três meses de 201o, fixado em 1,2 por cento face ao período homólogo de 2009. À sua conta, esta procura “justificou um crescimento de 0,7 por cento do PIB”, enquadra o último relatório trimestral Norte Conjuntura, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte.

Compra de inputs

A recuperação e consolidação das exportações em sectores de exportação tradicionais, a par da afirmação de outros segmentos técnicos, como o dos materiais eléctricos faz com que a indústria do Norte atravesse “um período de crescimento”, conclui o relatório. “A compra de inputs destinados à indústria foi a principal causa do crescimento das importações da Região do Norte no quarto trimestre.

O crescimento verificado a Norte no quarto trimestre de 2010 fica no entanto um pouco abaixo do nível de exportações nacionais, que aumentaram em média, no mesmo período, 15,6 por cento.

De acordo com os totais anuais, as exportações aumentaram 12,9 por cento no Norte, no ano passado, uma inversão da tendência de 2009, em que se registaram perdas de 22,8 por cento face a 2008.

“Locomotiva” alemã impulsiona exportações portuguesas

Para o aumento das exportações numa época de crise contribuem múltiplos factores, mas as associações  convergem numa razão primordial: os principais mercados europeus já começaram a sair do aperto sentido em 2009 e as empresas nortenhas aproveitam o lanço para engordar de novo a facturação.

Oitenta e cinco por cento das empresas de vestuário e têxteis portuguesas operam nos distritos do Porto, Braga e Viana do Castelo. Cerca de 80 por cento da produção destina-se aos países do mercado europeu, que “têm tido um melhor desempenho”, constata João Costa, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. Hélder Pedro, secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal, realça que o sector, um dos que mais cresceu no Norte no fim de 2010 exporta 97 por cento da produção para a União Europeia (UE), para mercados “como a Alemanha e a França, que estão a recuperar” da recessão de 2009. No primeiro trimestre de 2011, exportaram-se 51.527 veículos, mais 39,7 por cento do que no período homólogo de 2010.

Retoma dos mercados

No mesmo sentido, Adão Ferreira, da AFIA – Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, informa que o aumento das exportações neste período “tem a ver com a retoma do mercado europeu”. A Alemanha, Espanha e França são os “grandes compradores” do sector. As 81 empresas que operavam em 2010, a Norte, na indústria de componentes para automóvel, exportaram quase 29 por cento do que produziram para a Alemanha. “O mercado alemão teve uma grande recuperação em 2010 e é o motor da Europa, são os maiores produtores de veículos na Europa e ajudam-nos a impulsionar as vendas para o exterior”, sublinha.

A Associação Portuguesa das Empresas do Sector Eléctrico e Electrónico (ANIMEE) representa um dos segmentos mais importantes para a vitalidade actual das exportações. Allegro de Magalhães, da ANIMEE, constata que “a retoma do comércio internacional fez subir 22 por cento as exportações”. Mercados “muito importantes, como a Alemanha, tiveram uma recuperação acima da média europeia” e que essa “foi a influência mais importante” no crescimento dos negócios.

"Motor da economia europeia"

Nada que surpreenda a subdirectora da Faculdade de Economia do Porto, Ana Paula Africano, que lembra que perante a dificuldade de vender em Portugal, é natural a procura de alternativas no estrangeiro. Refere que “alguns mercados europeus, como o alemão, estão em franca recuperação e crescimento” e isso reflecte-se nos resultados nacionais e regionais.

A economia alemã “passou por um grande ajustamento uma década antes de a crise se instalar”, avançando com “a estagnação e redução de salários, a reestruturação das indústrias e a flexibilização do mercado de trabalho”. Isso permite-lhe agora “recuperar mais rapidamente”.

Ana Paula Africano realça que a Alemanha “é a locomotiva” da economia europeia, influenciando-a nos momentos de quebra e impulsionando-a quando se expande, como neste momento, já que além de grande exportadora “também tem grandes necessidades de importação”. Para si, “é decisivo ver se este ritmo de crescimento das exportações a Norte se mantém, sustentando os negócios e fazendo com que a crise não seja tão aguda”.

|grandeportoonline.com|
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Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

A luz que se começa a ver, ao fundo do túnel, é ainda a do comboio.
Quem quiser que se iluda.

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)