A asneira que incomoda


Na edição do Jornal de Negócios ... salta à vista o seguinte título – “ Para lá do Marão são poucos e velhos os que ainda lá estão”.
Olhei duas vezes, li e reli o texto. E só posso dizer que o seu autor não sabe o que diz, não conhece Trás-os-Montes e Alto Douro e tem uma visão afunilada da vida, dos que aqui fazem a sua sorte.
Para lá do Marão estão dois distritos e várias realidades diferentes. Os distritos são Vila Real e Bragança. E as realidades são o Douro, o Alto Tâmega e Barroso, a Terra Fria Transmontana… Cada um destes territórios tem especificidades, mas não estão mortos e muito menos enterrados.
A diminuição populacional tem vindo a registar-se, é verdade. Mas a afirmação de que aqui só há velhos, é alvitre de quem chegou de noite e saiu pela madrugada.
Vivem no distrito de Vila Real mais de 230 mil pessoas e no de Bragança mais de 150 mil portugueses. E se olharmos a pirâmide da população residente, poderemos constatar que ela não comprova a “alarvidade” do título da notícia.
O que fará, então, com que possamos ser confrontados com tais considerações?
Eu diria que há três factores que pesam. O primeiro, o facto de se assistir a uma reivindicação do chamado “cosmopolitismo” que impregnou os discursos e manifestos políticos e que desgraduou o rural, o território, o país que sempre fomos; o segundo, o facto de ser mais interessante apanhar um “low cost” a 30 euros para uma qualquer capital europeia do que viajar de carro, de comboio ou mesmo de avião, para as regiões do interior, belíssimas dizem os de fora; o terceiro, porque muitos dos agentes políticos, que por aqui se fazem eleger, são  “infecundos” na afirmação global do seu território, como espaço cheio de “competências” e de “futuros”.
Há uma visão do interior que é a visão da negação. Essa visão, que se revela em comportamento e até em acinte, faz com que se estejam a forjar conjuntos de “elites” que abjuram o Portugal que sempre fomos, e querem limitá-lo ao eixo da A2 Lisboa/Algarve, com umas fugidas à boa comida do Ribatejo e do Alentejo!
E é isto, o país dos que não aprenderam história e que não querem ter uma nação unida.
Há uns tempos, na Praça Tierno Galvan em Madrid, assisti a um festival das casas regionais das Espanhas. E lá estavam, com galhardia, todas elas. Em Portugal, nos dias de hoje, isso seria impossível. Porque há cada vez menos gente a afirmar-se como sendo, com gosto, de fora do espaço avassalador das “capitais”.

|ALSS|

Comentários

Anónimo disse…
Caros Regionalistas,
Caros Centralistas,
Caros Municipalistas,

O autor do artigo por certo ainda não se consciencializou que para lá caminha. Será velho e caduco, daqui a alguns anos, e decerto se lembrará da fórmula que encontrou para não dignificar quem trabalhou toda a vida e sempre foi ignorado ou marginalizado nos seus anseios.
O autor, novo certamente, deveria ter em atenção que "Para lá do Marão mandam os que lá estão", prevendo-se que seja originário doutra região do País mais bafejada pelas decisões políticas iníquas e utilitaristas que têm caracterizado a prática política no nosso País.
Por isso, deveria ter escrito com mais respeito pelas pessoas que vivem em 2 distritos importantes e teria sido muito mais inteligente e respeitoso se escrevesse: "Para lá do Marão, é muito lamentável que sejam cada vez mais poucos e velhos a mandar e que ainda lá estão".

Sem mais nem menos.

Anónimo pró-7RA. (sempre com ponto final)
Corvo disse…
Para os média "lejboetas" o que está fora da CREL não existe, é aquilo a que chamam "o país real", algo que só existe na cinematografia, na literatura e nas desgraças que são notícia, de que ouviram falar, mas que, de tanto olharem para o umbigo, não conseguem sequer imaginar. O professor Martelo e as Moura Guedes do nosso descontentamento são o paradigma deste tipo de atitude, repetida pelos "pés-de-microfone" até à exaustão.