Desertificação (física e humana) do Interior

Especialistas em desertificação reclamam novo modelo de administração do território e mais verbas nos vários programas nacionais de desenvolvimento. Isto, para fixar as populações no interior e desta forma combater este fenómeno, que já afecta um terço do território nacional.

"É necessário que os programas nacionais contemplem uma justa afectação de verbas para combater a desertificação e fixar as populações no interior, em especial nas zonas rurais", disse à agência Lusa o presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), Eugénio Sequeira.

Como exemplo, o especialista referiu o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT), o Programa Operacional da Região Alentejo (PORA), uma das regiões mais afectadas, e o Quadro de Referência Estratégico Nacional para o período 2007-2013.

Apesar dos diferentes sinais de alerta lançados nos últimos anos, lamentou Eugénio Sequeira, "a verdade é que continuamos sem políticas nacionais, gerais e sectoriais para combater a desertificação".

"Um problema emergente em Portugal e com consequências tão graves, como o aumento das assimetrias entre as regiões, criando perdas demográficas, pobreza, abandono e desemprego", alertou.

"Se nada for feito nos próximos 20 anos, cerca de 66 por cento do território pode ficar deserto e seco", acentuou, lembrando que, independentemente deste cenário futuro, cerca de um terço do território já sofre "uma grave desertificação".

"A aridez dos solos já atinge quase todo o Alentejo e o interior algarvio", sublinhou, alertando mesmo para proporções "quase dramáticas" na margem esquerda do Guadiana, nos concelhos de Mértola, Castro Marim e Alcoutim.

O fenómeno não está, contudo, confinado ao Sul do país, pois, disse, "todo o interior junto à fronteira com Espanha, do Algarve a Trás-os-Montes, está a ficar deserto", com a perda de potencial biológico dos solos (desertificação física) e de população (desertificação humana).

Lembrando que a presença humana é "fundamental" no combate à desertificação, Eugénio Sequeira alertou para a necessidade de se "contrariar o despovoamento nas zonas deprimidas".

"É preciso reivindicar medidas de discriminação positiva que possibilitem a fixação de população no interior, reduzindo a pressão sobre a orla costeira e resolvendo os problemas resultantes da litoralização da economia", afirmou.

"O combate à desertificação passa obrigatoriamente pela preservação do mundo rural", salientou, acrescentando que é preciso uma "agricultura compatível com o bom uso dos solos e a preservação da biodiversidade".

Neste sentido, o especialista voltou a defender o pagamento a agricultores que contribuam para serviços ambientais destinados a impedir a desertificação dos solos.

"O Governo, se quiser manter a agricultura no interior tem de pagar os serviços que a agricultura presta", disse, lembrando que "a culpa do despovoamento do interior reside na falta de condições para a fixação das populações".

Fonte - Lusa

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