O DOURO TEM FUTURO ?

A Região Demarcada do Douro tem, há muito, um grave problema que ninguém quer tratar. Esse problema chama-se – perda de credibilidade.
Durante muitos anos a Casa do Douro e as Adegas Cooperativas foram as traves mestras da actividade vitivinícola da Região. Sem problemas de gestão aparentes, sem necessidades extraordinárias de capital, conseguiam estruturar social e economicamente um sector, que tem sido vital na nossa imagem externa.
Acontece que, de há duas décadas para cá, a RDD se envolveu em processos que tardam encontrar uma solução.
As dívidas da Casa do Douro, sem serem hoje um problema para os agricultores, são, contudo, o centro do debate institucional, porque retiram força à produção, no contrato que esta tem que ter com a comercialização; As situações incompreensíveis das adegas, em situação de falência muitas delas, que retiram capacidade de ajuda aos produtores em situação critica. Estes são os graves problemas…
Em boa verdade, assistimos a uma situação em que os pequenos lavradores se encontram em processo de empobrecimento rápido e os médios se encontram em situação de alienação de propriedades, por vezes a preço da chuva.
Esta situação tem muitos culpados. E ninguém pode alijar culpas. Mas o factor de maior preponderância, na não resolução de conflitos e pendências, é o progressivo afastamento da RDD dos centros de decisão e, assim, uma maior dificuldade em encontrar um caminho para a normalização da vida económica dos produtores durienses.
Nos últimos dias o “interprofissional” decidiu autorizar o “benefício” a 85 mil pipas em 2011. Menos 25 mil pipas que em 2010. Esta redução atinge, de forma drástica, os mais pequenos produtores.
Um amigo nosso, conhecedor das coisas da governação, mas desconhecedor das coisas do Douro, ligou-nos ontem dizendo “…finalmente acabaram os benefícios para o Douro. Agora o mercado funciona. Isto de estar a dar dinheiro aos agricultores tem que acabar…” Por minutos não lhe chamámos tudo… O “beneficio” a que ele se referia é, tão só, a autorização que o organismo responsável (neste caso o IVDP) concede, para que se possa transformar o vinho que sai da terra, em Vinho do Porto. E como muitos saberão, o Vinho do Porto é um produto composto, que recolhe vinho não fermentado ainda totalmente e aguardente vínica neutra, com 77º de álcool. Este processo permite que seja um vinho doce, porque o açúcar não se transforma completamente em álcool. Há ainda muita gente que acha que o Vinho do Porto, o Vinho Generoso do Douro, sai directamente das uvas cortadas numa qualquer manhã de Outono…
O Douro e a sua Região Demarcada tem que encontrar um caminho. Resolver, de vez a situação da Casa do Douro; associar adegas e encontrar um programa de saneamento financeiro; transformar o IVDP em CVR; assumir a realidade dual, em que a utilização da terra pode ser feita em moldes tecnológicos modernos, numa parte, mas tem que garantir o património da humanidade, na outra; encontrar um processo de fazer ligar a viticultura ao turismo de forma mais profunda e abrangente; refundar as estruturas institucionais promovendo novos activos com visões de gestão modernas. Este é o único caminho.
Esta redução de benefício anunciada vai atacar, principalmente, os lavradores dos Baixo e Cima Corgo. Os que têm propriedades mais pequenas e que ocupam o território de forma tradicional. É por isso urgente que os poderes locais se mobilizem. Não tanto para contestarem a insuficiência das 85 mil pipas. Mas para que se inicie o processo de refundação.
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Notas – Constituição da Região Demarcada do Douro – 45.000 ha de vinha.
 - Baixo Corgo – Vai, na margem direita de Barqueiros ao Rio Corgo e, na margem esquerda, da freguesia de Barrô ao Rio Temi-Lobos em Armamar;
- Cima Corgo –  Inicia-se nos limites a nascente do Baixo Corgo e vai até ao meridiano que atravessa o Cachão da Valeira;
- Douro Superior – Inicia-se no cachão da Valeira e vai até à fronteira de Espanha;


® 2011.07.27 – ALSS

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Se o Alto Douro não tem futuro, nada tem futuro em Portugal!