Ainda a Barragem do Tua !

A meter água

O turismo, que devia ser uma das apostas estratégicas do País, é ignorado por causa de uma barragem

Há coisas que nunca mudam. O apego dos Governos às Parcerias Público-Privadas seria enternecedor se não fosse uma das grandes causas da ruína do País. A ligação quase umbilical entre o Estado, empreiteiros, bancos, concessionários e seus advogados pode explicar que ao fim de meio ano de Passos Coelho as PPP continuem a ser negócios ricos e florescentes para os privados e uma desgraça para o Estado. Está tudo na mesma, para pior.

Agora, há o risco de a Unesco retirar a classificação de Património Mundial ao Douro Vinhateiro, se a Barragem do Tua for construída. Podia não ter importância, só baixava um pouco mais o ânimo dos nativos, mas não. O que a Unesco disse, em 2001, é que há uma região tão bonita e fantástica em Portugal que tem de ser usufruída pelo Mundo inteiro. E isso atrai turismo, como tem atraído cada vez mais.

Mas subir o Douro de barco e andar na centenária e única Linha do Tua, submersa com a barragem, deixará de ser possível. O turismo, que devia ser uma das apostas estratégicas do País, é ignorado por causa de uma barragem que vai dar apenas 0,67 por cento a mais de energia e que, de custo inicial, é de 300 milhões (num total de 16 mil milhões pagos pelos contribuintes), fora as derrapagens e a mão de Souto Moura para “melhorar” o paredão de mais de 100 metros de altura.

Foi este paredão “imenso” que a ministra do Ambiente disse ao Parlamento já estar construído, para justificar a barragem. Mas não está. Confessou depois ao CM que o secretário de Estado Daniel Campelo a informou mal.

Mas, ficou tudo na mesma, pior. Mais de mil sobreiros já foram abatidos dos mais de cinco mil autorizados pela ministra e o argumento mudou. Agora, há um contrato para respeitar que, por acaso, tem sido seguido pela antiga firma de advogados da ministra e uma indemnização de cerca de 100 milhões no caso de quebra de contrato.

Então, retire-se o necessário dos 2500 milhões do CIEG (os custos políticos que se pagam com a factura da luz) e use-se como indemnização e isto sem invocar o interesse nacional que serve para alterar tudo o que é contrato laboral! Em vez das barragens, aposta-se na eficiência energética nos edifícios e nos transportes e a ministra do Ambiente, em vez de parecer… é!

MANUELA MOURA GUEDES no CM
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Comentários

Bruno Veloso disse…
Absolutamente fantástico, como se fala do desconhecido... MMG já nos habituou a falar do desconhecido, a inventar e a ditar um chorrilho de disparates.
Mas falar de uma linha que certamente desconhece, falar numa linha que não serve há muito as populações e poucos são os turistas que se aventuravam na mesma é falar de e para os Transmontanos com a soberba lisboeta ao seu pior estilo... é quase como dizer...lá por Tras os Montes onde tudo é vrgem e a civilização não chegou temos um reduto que aconselhamos a visita mas sitio ao qual nunca vêem...
O que seria do patrimonio do Douro e das suas cascatas se não fossem as barragens a montante...
Enfim numa altura em que a dependencia energética externa é o que é... onde a aposta nas renováveis é uma exigência. quando Tras os Montes tem esse mesmo ouro do futuro (produção energentica a partir das renovaveis)... há sempre alguem que impoe um obstaculo ao desenvolvimento que não é nem será meramente betão.
Relembro que as proprias Assembleias Municipais se manifestaram a favor da construção da Barragem do Tua ou da Foz do Tua e nao Barragem Foz Tua como os forasteiros do contra a renomearam.
Muito haveria a falar mas o espaço não o permite....
Caro Bruno Veloso,

Muito Obrigado por nos trazer aqui uma perspectiva diferente sobre esta problemática da Barragem da Foz do Tua.

Cumprimentos,
manuel amaro disse…
Isto é muito difícil.
E, não sendo urgente, não deixa de ser importante. Mas tanta gente a falar, ou pelo menos a escrever, ou tentar, sobre coisas que não conhecem... sei, não.
Mas, nós, Portugal, neste momento estamos neste apeadeiro.
Uma noite destas ouvia a "Quadratura do Círculo" e imaginei como a Europa e o resto do mundo seriam felizes se o António Costa e o Pacheco Pereira, dividissem entre eles, alternadamente, a Presidência Francesa e a Chancelaria Alemã.

É impressionante a facilidade com que qq comentador, escritor político ou jornalista, emite opinião definitiva, sobre os mais diversos assuntos.
Agora é esta barragem. Tal como em tempos foi outra barragem. Como já foi um Aeroporto, uma Ponte, ou uma linha férrea...

Não desistam.
Continuem a escrever.
Haverá sempre alguém, cada vez menos, a trabalhar para pagar a conta.