O Porto vai fazendo o que pode mas... pode pouco

Na capa da edição de hoje do JN, o leitor encontra dois assuntos que comprovam a tese exposta neste editorial. Por um lado, temos a boa notícia do início da demolição das torres do Bairro do Aleixo e, por outro, a má nova de que a RTP come cerca de 3,6 vezes mais dinheiro dos nossos impostos que a STCP e a Metro do Porto juntos pela parte de serviço social que nos prestam.

Moro na vizinhança do Aleixo e vejo todos os dias que o Estado deveria distribuir os meus impostos beneficiando sobretudo quem mais precisa de descontos para viajar em transportes públicos. E, em consequência, pelo menos não beneficiar um canal de televisão que não faz parte do cabaz de necessidades primárias das populações mais desfavorecidas.

Não é preciso nenhum esforço especial nem nenhum especial atributo de análise para entender que as indemnizações compensatórias que o Estado paga às empresas pela parte de serviço público que elas nos prestam não deveria ter esta relação de valor e de implicação dos nossos impostos.

É evidente nos números e na relevância da sua utilidade social que, no cotejo que o JN faz nesta edição, não pode haver dúvida de que o Estado deveria dar todo o benefício a empresas de transportes com a responsabilidade de garantir aos mais carenciados, em particular crianças, idosos e sem trabalho, meios para poderem deslocar-se.
Não só não acontece isso como parecemos prisioneiros de um sistema em que todos os políticos dizem mal da RTP mas nunca deixam de pensar nela como uma amante. Ou seja: cara mas boa...

É em tempos de crise que acabamos todos a fazer continhas. E a compará-las. O JN continuará a fazê-las, porque a crise trouxe-nos um novo critério de validação daquilo que fazemos e ao preço que fazemos: justiça social.

Eis o que tem a ver com a primeira demolição das cinco torres do Aleixo: ela é socialmente justa. Porque as populações não podem estar à mercê dos supermercados da droga em bairros sociais sobredimensionados e "ghetizados".

A demolição do Aleixo é, certamente, um exemplo de como o Porto vai fazendo o que pode - e até talvez consigamos requalificar aquela parte da frente ribeirinha se a economia retomar -, mas a comparação entre as compensações indemnizatórias que o Estado paga à RTP e à STCP e à Metro do Porto é a prova de que o Porto pode pouco.

Como pode menos ainda o país real, onde o custo por quilómetro de auto-estrada entre Aveiro e Vilar Formoso (por onde precisamos de exportar a preços competitivos) é o triplo do da auto-estrada que liga Lisboa a Cascais.
Haja, pois, quem possa.
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