Os regionalistas de circunstância

Pode parecer estranho aos leitores o que vou dizer, mas estou a atingir um tal ponto de saturação com certos regionalistas de circunstância, que já nem sei se os prefiro a eles, ou a qualquer centralista assumido.

No artigo que ontem aqui publiquei de Jorge Fiel, ele apontava como "nó do problema" da má governação a incapacidade dos nossos políticos de perceberem os efeitos devastadores de várias décadas de centralismo. Mas tal diagnóstico, peca por simpático. Seria importante começar a dar passos de diagnóstico bem mais ousados, como seja, passar a qualificar tais governantes como são tratados os bandidos de delito comum.

Se a história dos factos obriga a reconhecer que os nossos políticos não têm sido sérios, então é porque eles não são, de facto, pessoas de bem, confiáveis e cumpridoras. Portanto, ao contrário do que fazem os media , não há motivos nenhuns para se manter a parcimónia, e sim para começar a apontar os nomes aos responsáveis, e dizer aquilo que eles efectivamente são. Já é altura de subirmos os degraus da indignação para níveis mais condizentes com a realidade, quanto mais não seja também para habituar os cidadãos a uma exigência de rigor mais cuidada. Os actos cometidos pelos governantes dos últimos anos ultrapassam os limites do razoável em qualquer regime, sendo duplamente grave quando esse regime é democrático, como dizem ser o nosso...

Não há pois, como sair deste círculo vicioso: o pior dos males de todas as crises em qualquer regime, é a crise de valores, da ética e da verticalidade de carácter, que leva os poderosos a consolidar a ideia [convicção], que o castigo não lhes vai bater à porta. A vigarice é um acto criminoso como outros, que sobe de gravidade na relação directa da importância política e social dos seus autores. Em Portugal, a linha de pensamento é exactamente oposta a esta.

Às televisões, rádios e jornais, são os cumplíces e até mesmo os próprios criminosos, que são chamados a comentar o estado do país. O senso democrático dos media não é tão refinado quanto se possa pensar, não admite como válida a opinião do cidadão comum, mesmo que seja sério e inteligente. Prefere ouvir quem não deve nem provou merecer credibilidade. Nada disto faz sentido. Nada disto permite consolidar nos cidadãos a confiança no regime democrático. Não são os criminosos que devem ser ouvidos. A culpa, não é mesmo de todos, é dos governantes, da comunicação social, porque é cumplíce, e daqueles que continuam a eleger gente demasiado desqualificada e desonesta para comandar o país.

É líquido e sério afirmarmos que os nossos políticos, não têm sido responsáveis, nem competentes. Mas burros, é que eles não são. E é por sabermos que eles não são burros, que é anedótico pensarmos que eles não percebem os malefícios que o centralismo causa ao resto do país. O que temos suportado, não são políticos meramente incompetentes, são essencialmente, vigaristas e aldrabões. Gente demasiado mal formada, de baixo nível, de moral inferior à própria plebe.

Não podemos mais continuar a falar deles como se de pessoas respeitáveis se tratasse, mas como bandalhos que efectivamente são, e puní-los quanto antes. Não lhes é devido respeito, porque só o respeito partilhado é retribuível, e retribuir-nos o respeito é a última coisa em que eles pensam.

Mas pelo que vemos, não é essa a leitura que os media fazem dessa escumalha, caso contrário, poupavam-nos à recolha da opinião de alguns deles sobre o centralismo, como fez ontem o JN. Queremos lá nós saber o que pensam sobre o centralismo, ou sobre a regionalização, pessoas que durante todos estes anos, nunca lutaram abertamente contra, ou a favor, de uma ou de outra coisa? Precisamos lá nós de considerar a opinião de oportunistas da política como José Ribeiro e Castro e Francisco Assis? Ou de deputados, como o Virgílio Macedo do PSD, Honório Novo, do PCP, João Semedo, do BE, que só abordam o tema do centralismo quando estão no Porto, ao fim de semana, para, mal regressam a Lisboa, logo selarem a boca.

De que nos tem valido as suas opiniões em termos objectivos? As coisas têm mudado, porventura? Não! É claro que não mudaram, nem irão mudar nunca, se depender deles. Eles, não querem descentralizar, querem o poder simplesmente, e nessa impossibilidade, querem a manutenção do estatuto [e das regalias] de deputados.

Não nos iludamos mais com o que esta gente diz, ou pensa, atentemos ao que eles fazem. Eles são essencialmente actores. A mudança não passa por eles, estão acomodados. Pensemos nós em mudar de políticos e de políticas. Estes não dão uma para a caixa. Mas cuidado, o D. Sebastião foi mesmo um mito...

@ RUI VALENTE
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Comentários

Al Cardoso disse…
Tem toda a razao, temos que chamar os bois pelos seus nomes! Nem mais.