A defesa do Norte


No último Expresso, Daniel Deusdado apresentou números impressionantes sobre a atividade económica do Norte exportador. Apesar de ter somente 23% do território e 35% da população, o Norte produz 40% do valor acrescentado do país e tem 50% do emprego industrial. Não por acaso, a taxa de desemprego começou a baixar lá em cima (até as multinacionais do calçado estão a regressar à região, depois de um namorico com os asiáticos).

E, também não por acaso, o norte tem uma taxa de cobertura das importações pelas exportações de 129%, contra a média nacional de 74%. Por outras palavras, o futuro do país passa por aqui, passa por aquilo que o Norte representa: uma sociedade a importar menos, uma economia exportadora, uma economia sem o capitalismo chico-esperto dos negócios protegidos de "Lesboa", uma economia de empresários a sério e não de gestores Armani que controlam os negócios herdados das golden share e afins.
Um bom exemplo desta fibra nortenha está no porto de Leixões. No terrível ano de 2011, Leixões bateu todos os recordes e cresceu 12% (Dinheiro Vivo, 14 de Janeiro). Este crescimento assentou sobretudo nas exportações (+27%) e não nas importações (+2,8%), sendo que boa parte das importações são depois exportadas com valor acrescentado: a siderurgia importa sucata e exporta aço, a Portucel importa aparas e exporta papel, a Galp importa petróleo e exporta gasolina, a Barbosa & Almeida importa casco de vidro e exporta garrafas.

E não há macrocefalia, isto é, Leixões não é o porto de duas ou três empresas. O maior cliente de contentores (Portucel) representa apenas 4%, um dado que indica a presença de uma enorme malha de empresas integradas na economia global. Depois, ao nível logístico, convém notar que estamos perante um porto moderníssimo, informatizado e sem papelada, o que permite o seguinte: os dois mil camiões que por ali passam por dia demoram apenas 50m a entrar e sair.

É, portanto, absurda a ideia de retirar a autonomia ao porto de Leixões. O ministério da economia não pode continuar a namorar com esta ideia. Não se mexe em equipa que ganha. A autonomia de Leixões deu bons resultados. E o orgulho do norte não merece mais esta beliscadura do centralismo de Lisboa.
Moral da história? O norte está a cumprir. Agora só ficam a faltar duas coisas: o governo tem de destruir "Lesboa" (ex.: os subsídios da EDP, as PPP das Motas Engil) e tem de melhorar as ligações ferroviárias entre Leixões e Espanha. O hinterland de Leixões está bem no interior de Espanha. 




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