Novas barragens = destruição irreversível da biodiversidade

Para além da destruição irreversível da biodiversidade, uma plataforma de dez associações ambientalistas calcula que cada família vai pagar 4900 euros pelo Plano Nacional de Barragens. Das dez obras inicialmente previstas, apenas sete foram concessionadas e só três vão avançar. Uma situação "confortável", diz a Economia



Definido como fundamental para diminuir a dependência energética de Portugal e a emissão de gases com efeito de estufa, e para aumentar a produção de energia com origem em fontes renováveis, o Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH) recebeu nota negativa de ambientalistas e da União Europeia. Insuficiente para alterar a decisão política do então primeiro-ministro José Sócrates que, em 2007, apresentou o plano e lançou os concursos de concessão.

O elevado custo para o Estado e para os consumidores e a destruição irreversível de ecossistemas justificam as críticas. "Juntamente com Baixo Sabor (no Douro) e Ribeiradio Ermida (rio Vouga), anteriormente aprovadas, as novas barragens representam apenas 0,5% do consumo de energia primária nacional, 3,2% dos 52,2 TWh do consumo de eletricidade, 0,7% das emissões de gases de efeitos de estufa (GEE) e 0,8% das importações de combustíveis fósseis", resume João Joanaz de Melo, presidente do Geota, em nome da plataforma de dez associações ambientalistas que elaborou um memorando a pedir a suspensão e revogação do plano.

Contas feitas pelos ambientalistas, "as novas barragens vão custar aos consumidores-contribuintes 16,3 mil milhões de euros - através da tarifa elétrica ou dos impostos que alimentam o Orçamento do Estado". O que corresponde "a uma sobrecarga de 4900 euros por família", resultado a que chegaram tendo em conta fatores como a taxa de juro bancária dos promotores das obras (3,5%), o subsídio do Estado à garantia de potência (20 mil euros por MW/ano), o horizonte de concessão (entre os 65 e os 75 anos) e o preço de venda à rede em hora de ponta (110 euros/MW/hora).

E há ainda a contabilizar "a destruição irreversível de oito a dez troços de rio, dos mais valiosos do País, em termos de biodiversidade e paisagens únicas". A questão dos impactes ambientais provocados pelas barragens é a questão mais destacada pelo relatório da Arcadis/Atecma, elaborado em 2009 para a União Europeia sobre o Plano. O estudo aponta várias falhas sobre a apresentação da avaliação dos impactos das barragens sobre a qualidade da água e a ausência de informação sobre os efeitos cumulativos, sobretudo nos casos em que está prevista mais do que uma barragem no mesmo rio.


Aposta na eficiência energética

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Comentários

claudio disse…
a mim choca me como um governo recebe uma nega da UE e mesmo assim avanca com o plano!!!!! onde esta a DIA destas barragens??? a de almurol foi chumbada pela DIA... hmmmm ou sera porque nao iria trazer suficiente riqueza aos bolsos dos empresarios da EDP????
Fronteiras disse…
As barragens foram no seu tempo uma fonte de progresso porque era preciso ter uma fonte de energia fácil de obter e barata.

Hoje, com o desenvolvimento tecnológico, resultam claramente obsoletas e, pior ainda, devotam ao declínio económico às regiões que as «acolhem» porque normalmente estão situadas em regiões deprimidas e com pouca população. Veja-se o caso da barragem do Tua o do Baixo Sabor.

As pessoas iludem-se com que isso irá criar postos de trabalho, mas a realidade prende-se com o facto de os tais empregos estarem limitados ao tempo de construção da barragem porque depois ficam apenas funcionários para manutenção, muitas vezes de fora da região e o controlo é feito quase sempre a partir de centros de controlo em grandes cidades que gerem a produção eléctrica obtida com a exploração da barragem. Mais ainda, as barragens, para além de alagar muitas vezes as terras mais férteis, contribuem para alterações climáticas com efeitos para a população, nunca citados, e, obviamente, para a destruição de infra-estruturas (veja-se o caso da linha do Tua) que são estruturantes para o território.

A cegueira dos políticos que temos é mais um exemplo da sua incapacidade. Infelizmente hoje não temos grandes estadistas como ainda existiam na década de 80 na Europa como Olof Palme na Suécia, Helmut Köhl na Alemanha, François Miterrand na França, Felipe González em Espanha ou Mário Soares em Portugal. Independentemente das ideias políticas de cada pessoa, se concordasse ou não com o seu pensamento, mesmo com os seus erros, eram pessoas que tinham uma ideia de país e uma ideia da Europa. Hoje temos tecnocratas de meia-tigela e políticos mais preocupados na propaganda ou em ganhar eleições do que pessoas que tenham uma visão de país, uma ideia de Europa integradora.

É por isso que estamos como estamos. Não temos políticos de grande nível e provavelmente a História, daqui a umas décadas, falará na mediocridade da política das duas primeiras décadas do século XXI.
Paulo Rocha disse…
Concordo em absoluto com o que diz o 'fronteiras historiasdaraia'
Fronteiras disse…
Desculpem por ter-me esquecido de assinar!

Luís Seixas, colaborador ocasional deste blogue.
Também eu partilho esta opinião do Luís Seixas, esta história do interesse estratégico das barragens está muito mal contada e no fim quer-me parecer que ficam a perder as populações locais em primeiro lugar e o país a seguir. Alguém ficará a ganhar... e eu desconfio que são aqueles do costume!